Edição de Sábado: Mãos Limpas, Lava Jato, na Itália foi como no Brasil

Luca Magni, um empresário de 32 anos, elegante num terno e gravata, estava nervoso quando entrou no escritório do diretor do asilo Pio Alberto Trivulzio, uma residência pública para idosos existente fazia quase três séculos, em Milão. O diretor, Mario Chiesa, era o único na sala e o convidou a sentar. “Aqui está o dinheiro, engenheiro”, disse para Chiesa enquanto lhe entregava um maço de liras. Não havia euros, ainda. Era domingo, 17 de fevereiro de 1992. “Só sete milhões?”, questionou o diretor. “Não consegui reunir tudo, ainda mais em espécie”, lhe respondeu o empresário. Magni era dono do pequeno negócio garantia a limpeza do asilo. Aquele dinheiro, suborno, servia pra manter o contrato. Chiesa estava impaciente. “Mas o acordo era” — não terminou a frase. Magni o interrompeu. “Eu sei, engenheiro, eu sei. Vou trazer o que falta logo, os outros sete.” Ele já tinha entradas precoces que faziam de sua testa mais alta do que o normal para um homem jovem. Chiesa, próximo dos 50, ainda mantinha uma vasta cabeleira grisalha, um burocrata de carreira do Partido Socialista Italiano. E não tinha ideia de que o empresário à sua frente filmava tudo com uma microcâmera na valise, gravava tudo com um microfone na lapela. Foi aí que a porta do escritório abriu e, por ela, entraram o procurador Antonio Di Pietro mais quatro policiais. Uma prisão num flagrante espetacular. “Este dinheiro é meu”, afirmou o burocrata. “Não”, lhe respondeu Di Pietro. “Este dinheiro é nosso.” Estava começando, na Itália, a Operação Mani Pulite — Mãos Limpas —, que anos depois inspiraria no Brasil a Lava Jato.

Há diferença nas duas histórias — mas as semelhanças são extraordinárias. As duas operações levaram a resultados similares na política. No caso italiano, a Mani Pulite fracassou nos dois problemas que a um ponto se propôs resolver. A Itália não deixou de ser um país corrupto e o sistema político não sofreu regeneração. Em verdade, de certa forma piorou. A Lava Jato, parece, se encaminha para o mesmo destino.

Em 1992, o sistema político italiano revolvia ao redor de dois partidos — o DC, Democrazia Cristiana, de centro-direita, e o PSI, Partito Socialista Italiano, que vinha pela centro-esquerda. Durante toda a década de 1980, as duas legendas haviam se unido numa coalizão para garantir maioria no Parlamento e, portanto, o cargo de primeiro-ministro. Até 87 havia governado o socialista Bettino Craxi e, desde então, Giulio Andreotti do DC estava no comando do país. A queda do Muro de Berlim e o colapso da União Soviética, no ano anterior, já estava tornando instável aquela parceria. O PSI não era o maior partido de esquerda do país — este era o PCI, o tradicional Partido Comunista fundado por Antonio Gramsci, e que havia se dissolvido também em 1991 para dar lugar a uma nova sigla reformada. O Partito Democratico della Sinistra, PDS. Partido Democrático de Esquerda. A união entre DC e PSI, fizera sentido num cenário de Guerra Fria. Sem a ameaça de crescimento comunista, porém, e com o surgimento de legendas de uma direita mais dura, como a Lega Nord, que defendia a separação do Norte, o ambiente rumava para uma polarização maior entre direita e esquerda.

A ameaça comunista, na Itália, não havia sido mera paranoia. Durante toda a década de 1970, grupos terroristas de esquerda haviam explodido bombas, armado sequestros, cometido assassinatos em série e gerado um pânico generalizado. Foi neste ambiente que tanto o Ministério Público, que tinha o papel duplo também de magistratura, começou a crescer. Os anos do pós-guerra haviam sido de crescimento econômico e de uma transformação social grande, que ampliou acesso a educação de qualidade do nível básico ao superior. A geração de juízes-procuradores que começou a trabalhar nos anos 70 foi a primeira que não tinha origem nas elites do país. Por conta disso, e também por mudanças do ordenamento legal, o Poder Judiciário se descolou da política, ganhando e buscando independência. As investigações a respeito dos grupos terroristas, seguidas de prisões, julgamentos e condenações, ajudaram a tornar o país mais seguro e estável. Nos anos 1980, a magistratura partiu então para investigar a máfia, crime organizado baseado numa estrutura familiar que dominava o Sul fazia tanto tempo que escapava à memória, também espalhava terror por crimes brutais, mas tinha uma diferença grande quando comparada com o terrorismo revolucionário comunista. A máfia tinha conexões políticas fortes. Investigar, prender, julgar e condenar mafiosos envolvia também fazer o mesmo com políticos.

As ações dos juízes-procuradores naquele período de vinte anos envolveram altas doses de coragem pessoal. Muitos morreram assassinados durante o processo. Em maio daquele 1992, quando Mario Chiesa ainda estava negociando o primeiro acordo de delação premiada do que viria a ser a Mãos Limpas, ocorreu o mais brutal destes crimes. A explosão do automóvel em que o juiz Giovanni Falcone e sua mulher estavam. Uma explosão tão violenta que sismógrafos longe registraram como se houvesse ocorrido um terremoto. Ninguém havia prendido mafiosos tão importantes quanto ele. E estes crimes, assim como a ação dos magistrados, tinham consequência na opinião pública. Enquanto os políticos eram vistos com certo distanciamento, enfado e até desprezo, homens como Falcone eram heróis. Eram os giudici ragazzini, juízes-garotos, que não guardavam deferência para o poder político.

O prestígio da magistratura, em 1992, assim como a independência e a distância que o Judiciário havia ganho em relação à política, permitiram que os investigadores pudessem ambicionar investigar, julgar e condenar políticos e, assim talvez, imaginaram, reformar o sistema político italiano.

Nas semanas após a prisão de Mario Chiesa, o ex-premiê e ministro Bettino Craxi foi perguntado sobre o episódio numa entrevista de televisão. “É um mariuolo isolado”, respondeu num trocadilho com o nome do burocrata. Um parasita, alguém que suga. Um vampiro. Um ano depois, delações após delações já haviam envolvido Craxi no esquema de propinas a tal ponto que a Justiça pediu à Câmara dos Deputados licença especial para que fosse julgado. Assim como ocorreu no Brasil com o então presidente Michel Temer, os parlamentares negaram permissão. Craxi, no dia em que saiu o voto da Câmara, deixou um elegante hotel em Roma sob as vaias de uma multidão que acenava com cédulas de mil liras. “Bettino, leve esta aqui também”, gritavam. (Assista.) Craxi morreu no ano 2000, na Tunísia, para onde havia fugido para evitar a prisão quando não foi reeleito. Ainda parlamentar, falava em perseguição de uma Justiça politizada. Fugido, dizia estar em exílio político.

Seis ex-primeiro-ministros foram investigados, mais de 500 parlamentares e ex-parlamentares, assim como todas dentre as maiores empresas italianas. Mãos Limpas é o nome da operação, mas na bota ficou conhecida por Tangentopoli. Propinópolis. Toda a máquina pública italiana era movida a propina. A partir da investigação ficou parecendo que não havia obra, não havia contrato de prestação de serviços, não existia relação entre o setor público e o privado que não envolvesse alguma troca de dinheiro para a garantia de favores. Na eleição de abril de 1992, apenas dois meses após a prisão de Chiesa, a Democracia Cristã se saiu como o maior partido em votos do país. Os Socialistas ficaram em terceiro. Já em 1994, a eleição seguinte, a DC havia desaparecido e, o PSI, se tornado irrelevante.

Mas, no momento em que o sistema partidário tradicional derreteu, não havia o que colocar em seu lugar. Enquanto aqueles políticos tradicionais batiam cabeça sem ter entendido como tudo desandou tão rápido, no vácuo entrou um dos principais empresários do país, movido por uma preocupação pessoal. Por conta de pagamentos regulares que fizera ao longo dos anos a Bettino Craxi, ele sempre tivera garantida sua proteção. Agora, Silvio Berlusconi temia que as investigações que já haviam começado a respeito de seus negócios o levariam à prisão. Então, pela primeira vez fazendo publicidade eleitoral à moda americana no país, Berlusconi criou um partido que batizou Forza Italia, se candidatou, se elegeu e, em 1994, assumiu como primeiro-ministro.

Se Jair Bolsonaro sempre fez parte do Centrão, se enriqueceu com os filhos ao longo das décadas no Congresso com esquemas no estilo rachadinhas, Berlusconi também se elegeu discursando contra a Propinópolis, propondo a refundação do país, porém fazendo parte do esquema. Se Bolsonaro chegou ao governo inovando em propaganda política para se mostrar um outsider, o mesmo fez Berlusconi embora ao estilo dos anos 1990.

No início, o ex-primeiro-ministro enriqueceu construindo condomínios com casario no estilo americano, com muita frequência derrapando para o mau gosto, que vendia à classe média. Frequentemente conseguia terrenos baratos justamente porque certos tipos de construção seriam ilegais — mas, pagando as propinas certas, adquiria as licenças necessárias. Há suspeitas de que lavasse, neste processo, dinheiro da máfia. Depois, quando a Itália permitiu a venda de concessões de TV à iniciativa privada, comprou emissoras em toda a bota. Redes nacionais de TV não podiam existir. Berlusconi driblou a legislação dizendo que não tinha uma rede, e sim emissoras separadas. Argumentou para isso com uma tecnicalidade: redes de TV emitem por antenas e satélites a mesma programação simultaneamente. Os canais de Silvio também transmitiam os mesmos programas, só que todos tinham as mesmas fitas de vídeo e sincronizavam umas com as outras no relógio. Assim, dizia que eram canais separados que não configuravam uma rede. Aos italianos, ofereceu um mix de programas que o tornou rapidamente popular. Séries americanas típicas dos anos 1970 e 80 e programas de auditório no qual dançarinas bonitas se mexiam, não raro, com biquínis curtos e os seios nus.

Também como Bolsonaro, o Berlusconi premiê era um fiasco na cena internacional. De certa feita, declarou publicamente que sua par alemã, a premiê Angela Merkel, era “incomível”. Metáforas sexuais eram corriqueiras. E usou seu governo, com apoio do Parlamento, para legislar e regulamentar para dificultar o trabalho de investigar corrupção. Berlusconi governou a Itália primeiro entre 1994 e 95, depois entre 2001 e 2006 e, finalmente, de 2008 a 2011.

No seu segundo governo, foi ministro em seu gabinete o juiz Antonio Di Prieto, o mesmo que naquela manhã fria de fevereiro, em 1992, prendeu em flagrante Mario Chiesa. O desmonte do país, a instabilidade que sucedeu à Mani Pulite, fez com que a popularidade da operação fosse se perdendo nos anos seguintes. O fato de que Di Prieto se lançou na política, assim como outros juízes, contribuiu para a impressão generalizada de que eles — os juízes-procuradores — eram também políticos e haviam feito tudo por interesse político.

Mario Chiesa foi preso novamente em 2009. Era o responsável por cobrar propinas ligadas à coleta de lixo, na Lombardia. Ainda hoje, na Itália, é conhecido como o ‘Homem dos 10%’. O país segue percebido como um dos mais corruptos entre as economias desenvolvidas.

Deepfakes se aprimoram e polêmicas crescem

Tom Cruise fazendo um truque de mágica com uma moeda. Tom Cruise jogando golfe. Vídeos do ator americano têm feito sucesso no TikTok nas últimas semanas - somou mais de 11 milhões de visualizações no app, sem contar os milhões de acessos de outras plataformas. Poderia ser o resultado de qualquer outra celebridade. O problema, no entanto, é que os vídeos são falsos. Foram feitos com deepfakes.

Apesar dessa tecnologia não ser novidade, o que tem assustado especialistas é que, mesmo ainda exigindo softwares apropriados e conhecimentos em edição, o uso da técnica tem avançado. E rápido. Em uma velocidade muito maior que a lei. O Cruise fake passa quase desapercebido e é bem mais realista do que os vídeos de deepfake de Barack Obama que se popularizaram há apenas quatro anos.

Até então, muitas das vezes era perceptível os erros nas imagens. O cérebro tem capacidade de reconhecer quando os rostos são quase, mas não exatamente, humanos - um fenômeno conhecido como efeito Vale da Estranheza. Mas os vídeos de Tom Cruise não só tornaram essa percepção mais difícil para nós, mas enganou até mesmo alguns sistemas de detecção de deepfakes.

A alteração de vídeos é possível há décadas. Mas isso levava tempo, artistas altamente qualificados e muito dinheiro. Agora, a tecnologia é cada vez mais usada comercialmente. Cresceu 330% de outubro de 2019 a junho de 2020. Um programa da Samsung consegue criar vídeos falsos com apenas uma imagem de referência.

Do outro lado, o artista Chris Ume, responsável pelos vídeos de Cruise, diz que mesmo se a tecnologia melhorar, vídeos como o seu exigiriam muito trabalho manual e um imitador habilidoso - ele passou dois meses treinando seu modelo de computador para criar as expressões faciais do ator.

No geral, os deepfakes usam software de reconhecimento facial em duas etapas. A primeira capta imagens de referência da pessoa, normalmente uma celebridade, que será usada no vídeo. E a segunda, grava os movimentos de uma segunda pessoa, que será o molde para o deepfake. E a inteligência artificial combina as duas.

A tecnologia têm suas vantagens: além de aprimorar efeitos especiais para jogos e Hollywood - o filme O Irlandês usou para rejuvenescer os atores - também pode restaurar a voz das pessoas quando elas perdem devido a doenças, por exemplo. Mas os críticos temem que com ela cada vez mais sofisticada, seja também mais usada para o mal. E faz sentido. A inovação começou a ganhar espaço no meio acadêmico nos anos 90. Mas à medida que os grupos de pesquisa de IA publicavam abertamente seus avanços e códigos, os experimentos foram se popularizando. Em 2017, o termo deepfake foi criado por um usuário do Reddit com o mesmo nome, que compartilhava vídeos pornográficos com atores hollywoodianos feitos a partir da tecnologia de código aberto de troca de rosto. Apps com esse propósito foram se popularizando e mesmo sendo banidos rapidamente o escopo do abuso cresceu. Em 2019, um estudo descobriu que 96% dos vídeos deepfakes eram pornográficos e quase todos envolviam mulheres, muitas vezes sem o consentimento delas.

Os vídeos deepfakes também têm crescido em fóruns conhecidos por hospedar conteúdo de ódio e teorias da conspiração, como 4chan e 8chan. E viraram mais uma arma a favor da desinformação: o ex-presidente americano, Donald Trump compartilhou várias vezes, durante a corrida presidencial, vídeos manipulados de Joe Biden.

A solução tem sido, justamente, a própria inteligência artificial. Big techs têm investindo em ferramentas de detecção. Mas não tem avançado na mesma velocidade que as deepfakes, que enganam até mesmo esses softwares. Um estudo descobriu que o Azure Cognitive Services (da Microsoft) confundiu um deepfake com uma celebridade-alvo 78% das vezes, enquanto o Rekognition (da Amazon) falhou em 68,7% das tentativas.

Para especialistas, além do aprimoramento dessas ferramentas, o público também precisa ser educado para identificar deepfakes. Mesmo quando são nitidamente perceptíveis, muitos dos conteúdos falsos têm uma característica viralizante, contribuindo para disseminação de desinformação e teorias da conspiração. “O que é diferente sobre deepfakes é que o elemento audiovisual tem um efeito mais poderoso em nossa psicologia do que outros tipos de mídia”, diz o pesquisador Jon Bateman.

Mesmo sendo identificada como uma página de paródia, os vídeos do Tom Cruise enganam facilmente os desavisados. “É tudo real”, diz o “ator” em um deles.

Novo episódio da guerra do streamings

Mais um capítulo da guerra dos streamings foi ao ar essa semana. No episódio passado, em novembro último, nossos heróis seguiam na disputa após os grandes lançamentos de 2020 de Disney+, HBO Max e Peacock da NBC. Netflix à frente com 195 milhões de assinantes, em segundo a Amazon cujo prime video é parte da assinatura prime, e que na última vez que foi divulgada contava com 150 milhões de assinantes. Disney+ já ocupava o terceiro lugar com 73 milhões e HBO somando 57 milhões de assinantes (considerando streaming e mais cabo) corria em quarto.

As últimas cenas do novo episódio foram ao ar essa semana com o encontro anual de acionistas da Disney na quinta, e o dia dos investidores da AT&T na sexta. É um bom momento para tirar mais uma fotografia desta corrida. A Netflix, que já tinha divulgado seus resultados em janeiro, segue na frente, passou dos 200 milhões de usuários. Cresceu 8,5 milhões de assinantes no trimestre, mais do que o triplo do trimestre anterior, mas pouco em comparação à sua principal rival. Talvez o anúncio mais relevante feito pela empresa é de que deve entrar no azul esse ano e prevê lucros futuros. A empresa abriu também alguns dados de audiência do Gambito da Rainha que nos primeiros 28 dias de exibição foi visto por 62 milhões de residências.

A Disney+ segue acelerada em seu encalço. Essa semana o CEO da Disney, Bob Chapek, no encontro anual, e virtual, com acionistas, anunciou que o serviço passou da marca de 100 milhões de assinantes. O número impressiona. Em 2019 quando anunciou os planos para o serviço a Disney esperava atingir entre 60 e 90 milhões de assinantes até 2024. Bateram esse número 16 meses após o lançamento. Como comparação a Netflix demorou 10 anos para atingir seus primeiros 100 milhões de assinantes e outros 4 anos até os 200 milhões de agora.

A HBO segue em seu esforço de expandir o alcance de seu HBO Max, que já conta com 47,3 milhões de assinantes nos Estados Unidos, comparado com 28,7 milhões do trimestre anterior. Somando com assinantes globais e de cabo nos EUA a empresa conta hoje com 61 milhões de assinantes. Já a NBC anunciou que em 2021 seu serviço Peacock gerou 33 milhões de cadastros, mas não especifica quantos são pagantes, já que o Peacock tem um nível gratuito baseado em publicidade. Esta semana anunciou, em um acerto interno de contabilidade, que a unidade do Peacock gerou um prejuízo de US$ 914 milhões em 2020, puxado principalmente pelo pagamento de direito de exibição para outras unidades de negócio do grupo.

Cenas dos próximos capítulos... A HBO é talvez a que devemos acompanhar com mais atenção. Está começando em 2021 a acelerar a expansão global do HBO Max, que inclusive chega ao Brasil em junho. Mas não só. Fizeram dois anúncios importantes em seu dia do investidor. Estão prometendo entre 120 e 150 milhões de assinantes até 2025 e fecharam um contrato de US$ 80 milhões em venda antecipada de anúncios para o HBO Max, o que indica que podem estar querendo seguir parte da estratégia da NBC. Enquanto isso, o grande foco da guerra do streamings está na disputa por propriedade intelectual, área em que a Disney é a grande líder e está mostrando como aproveitar de forma bastante inovadora o potencial de suas marcas e personagens. Talvez nada exemplifique melhor isso do que o recém sucesso de Wandavision. Nesta linha a HBO está prometendo duas séries baseadas no universo de Game of Thrones e ao menos uma no universo de Harry Potter. A Amazon está produzindo a muito esperada série passada na segunda era do mundo de o Senhor dos Anéis, ainda sem data confirmada de lançamento. Enquanto a Netflix conta com um catálogo de lançamentos intenso para o ano. Isso sem falar no mundo dos esportes, que até agora ainda não apareceu com força nos movimentos do streaming, mas é também onde a Disney tem vantagem por conta da ESPN.

Por falar... Começou a America's Cup. Depois de disputar com americanos e ingleses na Prada Cup mês passado, os italianos do Luna Rossa se classificaram como desafiantes e estão disputando com os defensores neozelandes o velho caneco. Já tiveram 4 regatas e cada barco venceu duas. As regatas são transmitidas ao vivo pelo Youtube começando por volta da meia noite no nosso horário. São duas regatas por dia até um dos barcos vencer 7 regatas. Contamos a história da America's Cup em uma edição de sábado recente.

Há 50 anos, um show

Não sei se a prezada leitora ou o caro leitor já estava vivo há 50 anos. Mas se estivesse e se encontrasse no Fillmore East, uma casa de shows no East Village, em Nova York, teria testemunhado a História. Treze de março de 1971 era também um sábado, e no palco estavam seis jovens da Georgia que se uniram havia apenas três anos e tinham no catálogo somente dois discos. Mas eram The Allman Brothers Band, e da microtemporada de três shows encerrada naquela noite nasceu At Fillmore East, considerado um dos melhores discos ao vivo de todos os tempos.

Embora não fossem os inventores do gênero, os Allman Brothers eram então alguns dos melhores representantes nos EUA do chamado blues rock, que surgira anos antes na Inglaterra: uma releitura hiperamplificada e acelerada do blues tradicional de Chicago. E solos, solos, muitos solos. Temos de lembrar que era 1971, cinco anos antes de a imprensa inglesa decretar que tocar bem era errado.

A fórmula era simples: pegar um blues tradicional e tocar como se a vida de sua mãe dependesse do seu virtuosismo. Para entender, é melhor ouvir Stormy Monday (Youtube), faixa que fechava o lado A do álbum duplo original – não minta, você sabe o que é lado A e lado B. O blues clássico de T-Bone Walker era quase uma desculpa para que Duane Allman confirmasse sua fama como um dos maiores guitarristas de todos os tempos e Gregg Allman, que também era vocalista, justificasse a invenção do órgão Hammond – os dois, aliás, eram os únicos irmãos Allman da banda.

É pouco? Que tal You Don’t Love Me (Youtube), de Willie Combs, cujos 19 minutos ocupavam todo o lado B. Ah, mas eles só faziam covers? A resposta está no lado D, com os quase 23 minutos de Whipping Post (Youtube), de Gregg Allman.

Embora estivessem juntos houvesse apenas três anos, os Allman Brothers já eram uma lenda do circuito de shows. Seu segundo disco, Idlewild South (1970), os lançou às paradas de sucessos. No mesmo ano, Eric Clapton, literalmente o deus do blues rock, os viu ao vivo e ficou siderado com Duane, convidando-o para gravar com sua nova banda, Dererk And The Dominos. Layla, faixa-título do único disco do grupo (Youtube), é uma amostra do que o Allman bigodudo era capaz de fazer com uma slide guitar. Em 1990, uma edição de luxo em CD trouxe cinco jams (Youtube) em que dois dos maiores guitarristas de todos os tempos explicaram como as seis cordas deviam ser tratadas.

Lançado em julho, At The Fillmore entrou logo no número 13 da parada da Billboard e transformou os Allmans nos queridinhos da América junkie roqueira. Infelizmente, o acaso, esse destruidor dos mais bem elaborados planos, interveio. Duane morreu em um acidente de moto em outubro do mesmo ano, entrando no campo da lenda. Gregg manteve a banda viva e criativa, mas a chama daquelas três noites em março de 1971 jamais se repetiu.

E os mais clicados dessa semana:

1. Twitter: Marcelo Adnet imita Lula discursando, Bolsonaro reagindo e Moro pedindo apoio.

2. UOL: Morre de Covid o humorista Kleber Lopes da Praça e Nossa aos 39 anos.

3. O Globo: Os recados do discurso de Lula em 5 pontos.

4. Verge: O que são e como funcionam NFTs, a tecnologia por trás da criptoarte.

5. Folha: Quadro de Banksy será leiloado para ajudar saúde pública britânica

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24/04/24 • 11:00

Em seu café da manhã com jornalistas, na terça-feira desta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu que a extrema direita nasceu, no Brasil, em 2013. Ele vê nas Jornadas de Junho daquele ano a explosão do caos em que o país foi mergulhado a partir dali. Mais de dez anos passados, Lula ainda não compreendeu que não era o bolsonarismo que estava nas ruas brasileiras naquele momento. E, no entanto, seu diagnóstico não está de todo errado. Porque algo aconteceu, sim, em 2013. O que aconteceu está diretamente ligado ao caos em que o Brasil mergulhou e explica muito do desacerto político que vivemos não só em Brasília mas em toda a sociedade. Em 2013, Twitter e Facebook instalaram algoritmos para determinar o que vemos ao entrar nas duas redes sociais.

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