Edição de Sábado: Nove países, Nove experiências de Covid

É consenso, no mundo, que o Brasil lidou muito mal com a pandemia. Mas e outros países, o que fizeram? As estratégias foram diversas. Em alguns casos, como o chinês, o fato de haver um regime ditatorial permitiu mapear a epidemia com detalhes. Já que o governo sabia onde estava cada cidadão em qualquer momento, pelo controle de celulares e câmeras, foi possível localizar quem esteve com pessoas infectadas e construir algo parecido com um lockdown personalizado. Mas também democracias fizeram rastreamento. Israel, impondo o serviço às companhias telefônicas. A Coreia do Sul contando com a disciplina voluntária da população. Os países que conseguiram manter um sistema de rastreamento sofreram menos com isolamento social.

Houve países que apostaram em enfrentar a pandemia de peito aberto, contando com gerar imunidade de rebanho. A Suécia fez isso. A imunidade não veio. O que veio foi um dos maiores índices de morte do continente europeu. Outros países fizeram outra aposta cedo — na vacina. Foi o caso de nossos vizinhos chilenos. Eles têm, contratadas, mais doses do que precisam. Foi o caso também israelense — por ter só nove milhões de habitantes e uma extensa rede de saúde pública, o país terminou adotado pela Pfizer. O laboratório queria testar os efeitos de uma grande população imunizada rapidamente. (E, sim, a pandemia é controlável por vacina.)

Este é o mergulho que fazemos nesta edição do Meio. Nove países, experiências distintas, e o que viveram neste último ano.

China

Há limites sobre o que sabemos a respeito de como a China lidou com a pandemia que surgiu lá. Há dúvidas, por exemplo, a respeito dos números. O governo, uma ditadura pouco transparente, é suspeito de maquiar os índices. Mas a China tem uma vantagem sobre outros países do mundo: viveu uma epidemia da primeira SARS, em 2002 e, posteriormente, da MERS. São as duas doenças mais parecidas com Covid. Só Wuhan, a cidade onde a doença explodiu primeiro, tem 11 milhões de habitantes.

A principal estratégica chinesa foi mapeamento massivo de casos. Termômetros foram distribuídos por todos os pontos por onde passam multidões. Um sistema de vigília por celular foi implementado para descobrir quem esteve em contato por longos períodos com pessoas contaminadas. Assim, foi possível estruturar um isolamento social seletivo. Nada desta reação seria possível se a China não contasse, de saída, com dezenas de milhares de epidemiologistas prontos para este tipo de ação. Mais de mil equipes epidemiológicas foram formadas para compreender os caminhos da doença.

Não foi só o que a China fez. A epidemia da SARS havia ensinado o país a erguer hospitais em semanas. No momento em que a Covid começou a se alastrar num ritmo que indicava a possibilidade de se tornar pandêmica, o governo central mobilizou todos os recursos para ampliar a capacidade hospitalar do país.

A China é este exemplo único e raro. Controlou a doença por ser uma ditadura com um governo que mantém rígido controle central. Mas controlou, também, por ter uma força de trabalho altissimamente qualificada. Cérebros. Epidemiologistas, médicos e também virologistas que tiveram todos os recursos necessários, desde o princípio, para trabalhar no desenvolvimento de uma vacina. E conseguiu. A vacinação do país, porém, está sendo deixada em segundo plano. Por considerar que consegue manter o controle dos fluxos populacionais, o Estado chinês está usando sua produção de vacina para fazer geopolítica, agradar países que lhe interessam no mundo.

Coreia do Sul

Apesar de estar entre os primeiros países a serem atingidos pelo vírus, a Coreia do Sul conseguiu evitar o lockdown, em grande parte, graças a uma combinação de testagem em massa e técnicas sofisticadas de rastreamento. É verdade que o país já passou por três ondas. Porém, de forma geral a pandemia está controlada no país, com a vida noturna já dando sinais e ruas voltando a serem ocupadas.

Antes mesmo de registrar o primeiro caso, em janeiro de 2020, a agência de controle de doenças da Coreia do Sul começou a desenvolver testes de detecção do Covid a partir de dados enviados pela China. Quando o vírus se alastrou, também se espalharam locais de testagem, chegando a serem feitos mais de 100 mil por dia, e monitoramento de sintomas nas entradas de aeroportos, hospitais e estabelecimentos.

Essa resposta rápida contra o vírus tem um motivo: após não conseguir controlar o surto de MERS em 2015, o governo fez uma série de reformas com o objetivo de preparar a saúde pública para situações de emergência. Diferentemente dos chineses, os sul-coreanos vivem numa democracia. Ainda assim, a população já é acostumada com uso de máscaras e plataformas digitais de rastreamento. Deu resultado. Nos primeiros meses, o governo transformou instalações públicas e centros de retiro em enfermarias de isolamento temporário para evitar a transmissão dentro de casa e para aliviar a falta de leitos nos hospitais. Os hospitais também ganharam equipes de rastreamento para acompanhar cada caso suspeito, com acesso até mesmo aos dados do cartão de crédito e do celular de cada pessoa e monitoração por meio de câmeras de segurança nos bairros. Aqueles em quarentena são obrigados a usar um aplicativo de rastreamento por 14 dias, e caso quebrem o isolamento, são multados e precisam usar uma pulseira eletrônica que se conecta ao aplicativo e emite um alerta se não estiver no mesmo local que o smartphone.

O controle inicial de sucesso não evitou que o país errasse com as vacinas. A imunização só começou em fevereiro, um dos últimos países desenvolvidos a iniciá-la. Em 2020, o governo focou em incentivar a produção local para não ficar dependente da importação de outros países. Mas não avançou a tempo de conter a pandemia e, com críticas crescentes na imprensa local, o primeiro-ministro chegou a se desculpar e mudou a abordagem. Foi quando, em janeiro, fechou a compra de vacinas, como da Pfizer e Moderna, para toda sua população.

Nova Zelândia

Com cinco milhões de habitantes, a Nova Zelândia registrou, até agora, apenas 2.479 casos e 26 mortes pela doença. E este mês foi um dos primeiros países a voltar com shows, reunindo mais de 30 mil pessoas. Sem máscaras.

Além de se beneficiar com uma localização remota — está a dois mil quilômetros da Austrália — tinha apenas 102 casos confirmados e nenhuma morte, quando o governo decretou, em 23 de março, quarentena no país. Bem rígida. Negócios não essenciais foram fechados, incluindo até serviços de delivery. Aglomerações e viagens domésticas foram proibidas. Somente os filhos de trabalhadores de serviços essenciais podiam ir às escolas. Adotou ainda um modelo de bolha social — as pessoas só podiam interagir com quem morava junto e, com o tempo, foi expandido a pequenos grupos de familiares e amigos. Começou, a partir de abril, a testar grupos de alto risco para evitar a circulação não detectada do vírus. Também montou uma ampla operação de rastreamento de contatos, para identificar e isolar aqueles que estiveram com um paciente ou alguém com suspeita. Esse controle foi feito por meio de um app, no qual os cidadãos criam voluntariamente um registro dos lugares que visitaram por meio de QR Codes instalados em edifícios.

A diferença da Nova Zelândia para muitos países é que o controle da pandemia não significa baixar a guarda. A vacinação ainda está muito no começo. Assim, o governo tem decretado quarentenas de pelo menos 15 dias quando identifica um único caso. E as fronteiras ainda estão fechadas e sem previsão de abertura. Evidentemente, ser uma ilha ajuda.

A economia foi bem impactada por essas medidas rígidas, mas a política contra a Covid é popular, muito devido a uma comunicação transparente do governo. Mensagens de texto são enviadas para informar o que precisa ser feito, além de constantes anúncios televisivos e lives nas redes sociais. A forma empática do governo também chamou atenção mundial — a presidente Jacinda Ardern chegou a reduzir em 20% o seu salário e o de seus ministros para aprimorar políticas sociais. Não à toa que, em abril, tinha apoio de 88% da população.

Israel

Mais da metade dos nove milhões de israelenses já receberam duas doses de vacina contra Covid-19 — é um recorde mundial. E, ainda assim, tudo indica que o grupo do premiê Benjamin Netanyahu perdeu esta semana o controle do parlamento e a oposição terá chance de assumir o governo pela primeira vez em mais de dez anos. O que explica isso é uma estratégia correta no papel para lidar com a crise sanitária — mas com muitos problemas na prática.

Quando a crise explodiu, Netanyahu encarou a questão se aproveitando de uma cultura já estabelecida no país: a da segurança nacional. Em tempos de guerra, habituados, os israelenses constroem uma rede de solidariedade e são profundamente disciplinados. O governo convocou a população a adotar um novo estilo de vida já em março de 2020, limitou atividades públicas e quebrou o sigilo telefônico de forma generalizada — os serviços de segurança foram autorizados a mapear a localização de todos pelos celulares para controlar os fluxos. Houve alguma reclamação, mas esta cultura de sacrifício pela segurança nacional predominou.

Ou quase predominou. A população ultraortodoxa, 13% dos israelenses, se recusou a mudar sua rotina de estudos coletivos da Torah, de encontros para reza que exigem pelo menos dez homens. Como depende deste voto, Netanyahu não forçou o controle pela polícia. Porque não têm educação secular, os ultraortodoxos têm empregos piores do que a média, são mais pobres, vivem em casas mais apertadas, quase sempre com famílias muito grandes. Nesta comunidade, os índices de contágio foram o dobro da média nacional. Mortes também — e a sensação de que o grupo foi privilegiado por não ter sofrido real controle criou tensões políticas.

A mesma situação de alto contágio não se deu entre os cidadãos árabes de Israel. O problema deste coletivo é outro — a campanha de vacinação anda em baixa. Israel é um caso raro no mundo. Um país pequeno com um bem financiado sistema de saúde pública, herança dos governos socialistas que fundaram a nação. Por ter esta capacidade de vacinar em quantidade e rápido, foi adotado pela Pfizer para o teste de imunização total da população. Por isso teve acesso a muitas doses de vacina já desde o início de dezembro. Mais da metade da população já foi imunizada porém, entre os árabes-israelenses, apenas um quarto. Circulam nesta comunidade muitas teorias conspiratórias e a população é receosa. Na região autônoma palestina é pior. Israel só liberou doses de vacina para no início de março, quando sua campanha já estava muito avançada. Trata-se de um coletivo de 5 milhões de pessoas em busca de imunização. A ONU considera Israel responsável, mas o governo em Tel Aviv recusa o mandado. Alega que é o governo autônomo palestino que deveria se responsabilizar.

Itália

Os três primeiros casos de Covid-19 na Europa foram confirmados na França, em 24 de janeiro de 2020, mas foi a Itália que sofreu o primeiro surto, na densamente povoada região da Lombardia. O país tinha apenas três casos, todos de pessoas vindas da China quando, em 16 de fevereiro, um homem de 38 anos deu entrada com problemas respiratórios num hospital de Codogno. Sem protocolos adequados, ele teve contato com dezenas de médicos e outros pacientes até ser diagnosticado com Covid-19. Em 19 de fevereiro, 40 mil pessoas lotaram o estádio de San Siro, em Milão, para ver o Atlanta de Bérgamo enfrentar o espanhol Valência. Pouco mais de um mês após, Bérgamo tinha sete mil infectados e mil mortos.

Para complicar as coisas, a Itália tem uma das populações mais idosas do mundo, com 23% acima dos 65 anos, e uma grande quantidade de lares geriátricos, que se converteram em viveiros do vírus.

Quando as autoridades se deram conta, era tarde. Em 5 de março país tinha 3.089 casos e uma taxa de mortalidade de 6,7% — quase o dobro da taxa global de 3,4%. Foi somente no dia 8 que o primeiro-ministro Giuseppe Conte decretou quarentena no Norte do país, estendendo a medida a toda a Itália dois dias depois. O pico das mortes aconteceu em 31 de março, com 837 vítimas.

Milão foi uma espécie de modelo para o que se fazer de errado no trato com a pandemia. Para manter um ar de normalidade e a economia funcionando, autoridades apareciam em público sem máscaras e se cumprimentando com apertos de mãos. Logo essas imagens deram lugar às de hospitais lotados e sepultamentos.

Com o fim do inverno e as medidas de contenção, a taxa de mortes caiu rapidamente, e a média móvel em maio estava na casa de um dígito, permitindo a retomada de atividades não essenciais. Mas, como toda a Europa, o país foi duramente atingido pela segunda onda no fim de setembro, com um novo lockdown sendo decretado em novembro. O recorde de mortes de março do ano passado não foi superado, mas a média móvel vem se mantendo em três dígitos desde outubro.

A vacinação começou no país em 27 de dezembro e hoje são utilizados imunizantes de três laboratórios: Pfizer, Moderna e AstraZeneca. Até o dia 25, 9,9% da população já havia recebido ao menos uma dose, mas as mortes continuam em curva ascendente desde 1º de março.

Reino Unido

A resposta do Reino Unido à Covid-19 pode ser dividida em duas eras, AIBJ e DIBJ, Antes e Depois da Internação de Boris Johnson, o primeiro-ministro. Político populista na linha de Donald Trump, Johnson reagiu à chegada da Covid-19, no fim de janeiro, com medidas que pareciam minimizar a crise, como testar apenas os pacientes internados e apostar na imunidade de rebanho. O primeiro lockdown foi implantado somente em 23 de março. O principal conselheiro do governo para saúde, Sir Patrick Vallance, chegou a dizer no Parlamento que 20 mortes seriam “um bom resultado”.

Até que Johnson contraiu a doença em abril e passou uma semana internado, com direito a UTI. A partir dali, além de dizer que devia a própria vida à equipe de imigrantes que o atendera, o premiê mudou de tom. Os lockdowns foram mantidos em pleno verão, a despeito da redução natural no número de casos, e o governo começou a investir em vacinas. Não usar máscaras em espaços públicos passou a custar uma multa de 100 libras (R$ 786). O preço econômico está sendo alto. Pubs, que vivem de aglomeração, encerraram suas atividades, alguns com séculos de existência.

No início de dezembro, o Reino Unido foi o primeiro país a aprovar uma vacina contra a Covid-19, a da Pfizer, e dar início a uma campanha nacional de vacinação. Deu certo. Em 13 de janeiro, dia mais letal da pandemia no país, 1.359 britânicos morreram de Covid-19. No último 22 de março, foram apenas 36 óbitos.

Suécia

Quando a Covid-19 se tornou de fato uma pandemia, governos de todo o mundo se viram divididos entre adotar rapidamente medidas de contenção muito duras, mesmo que a um custo econômico alto, ou implementar restrições mais brandas e manter a economia o menos afetada possível. Para os defensores da segunda linha, o grande exemplo era a Suécia. Apesar dos protestos da comunidade científica local, o país escandinavo não impôs isolamento social nem a obrigatoriedade de máscaras, mal fechou fronteiras ou aeroportos, permitiu reuniões de até 500 pessoas e apenas conclamou a população a ficar em casa. A aposta foi mantida até a eclosão da segunda onda, quando o fracasso do modelo sueco claro. Em sua mensagem de fim de ano ao Parlamento, o rei Carl Gustav admitiu que o governo falhara.

Documentos confidenciais obtidos pela imprensa sueca mostraram que não houve propriamente falha — o governo agiu deliberadamente para criar uma imunidade de rebanho, quando uma grande quantidade de pessoas contrai o vírus, desenvolve imunidade e impede a circulação da doença. O problema é que essa estratégia custa vidas.

Embora lockdowns e testagem ampla e rastreio de casos tivessem funcionado em países como Vietnã e Coreia do Sul, a Agência de Saúde Pública citou o exemplo italiano para descartar isolamento e restringiu a testagem a pessoas que apresentavam sintomas. Em um e-mail, o epidemiologista Anders Tegnell, responsável pelo combate à pandemia, defendeu que as escolas continuassem abertas para que a “imunidade de rebanho fosse atingida mais rapidamente”. No primeiro momento, a curva de mortes na Suécia seguiu o padrão do resto da Europa, com recorde no dia 10 de abril, com 151 óbitos.

Com a segunda onda, tudo veio abaixo. Em dezembro, o país tinha uma taxa de 80 mortes por 100 mil habitantes, de 4 a 10 vezes a de seus vizinhos. Pela primeira vez desde a Segunda Guerra, a Noruega instalou tropas na fronteira para impedir a entrada de suecos. A Suécia contabiliza 780 mil casos e 13 mil mortes para uma população de 10 milhões de habitantes. Essas mortes não salvaram a economia, com o PIB retrocedendo aos números da crise financeira de 2008. O empenho hoje é vacinar a população — cerca de 10% já foram imunizados —, e até a princesa Sofia recebeu treinamento médico para atuar na pandemia.

Portugal

Portugal demorou mais a ser atingido pela Covid-19. Somente em 2 de março foi registrado um caso no país. Ao contrário de outros países, o governo reagiu rapidamente e, dez dias depois, entrou em alerta máximo. Em 10 de abril, o Parlamento aprovou, a pedido do presidente Marcelo Rebelo de Sousa, a extensão do estado de emergência, que só foi revogado no dia 2 de maio. O resultado foi que o pico de mortes na primeira onda, no dia 25 de abril, foi de apenas 60 óbitos. Para a Europa, Portugal era uma história de sucesso. Até a chegada da segunda onda.

Em janeiro deste ano, a doença atacou mais fortemente o país, com uma alta de 242% em relação a dezembro. No primeiro mês de 2021 houve 181.623 casos, cerca de 1,8% da população. O dia 26 de janeiro foi o mais letal da pandemia, com 291 mortos. O país fechou as fronteiras e baniu voos de países exportadores de vírus, como o Brasil. Os moradores se viram fechados em suas casas em mais um lockdown.

Valeu a pena. Após dez dias de relaxamento do confinamento, Portugal registra queda na tendência de casos, ao contrário do resto da Europa. Especialistas acham improvável manter a taxa de transmissão da doença abaixo de 1, mas acreditam que a retomada é segura, num raro caso de sucesso na Europa.

Chile

Com a melhor campanha de vacinação contra Covid da América Latina e na sétima posição no ranking mundial, o Chile deve chegar em abril com quase 30% de sua população imunizada. Isso é resultado de uma política que começou quando a pandemia estourava em 2020. O país apostou em várias farmacêuticas ao mesmo tempo, da China, Reino Unido, EUA e o esforço multilateral Covax. Também participou de testes clínicos de fase 3 para muitas vacinas candidatas, o que garantiu vantagem na negociação. No final, terá doses suficientes para vacinar duas vezes sua população.

Com a parte de fornecimento resolvida, o governo centralizou todas as decisões de medidas contra o vírus e criou um sistema de vacinação que vai onde a população está, espalhando postos pelo país, de universidade a estádios. A experiência com imunização em massa também tem se mostrado fundamental. Desde os anos 80, o Chile coordena campanhas de vacinação contra gripe, tem um registro nacional que permite monitorar as doses dadas e ao longo dos anos conquistou prática em organizar vacinação de emergência em resposta a desastres naturais.

Mas, ao mesmo tempo, o Chile é o exemplo que só a vacina não é suficiente para controlar a pandemia. Com as variantes do vírus por todo o país, 80% dos chilenos estão novamente em lockdown após novos casos e mortes estourarem pós férias de verão e a ocupação de leitos em UTIs chegar a 95% na rede pública.

O problema do Chile é semelhante ao do Brasil e outros pares latino-americanos. Nos três primeiros meses de 2020, o sistema de saúde foi fortalecido, mas o governo não conseguiu conter a escalada do vírus e ainda encara crise política, social e econômica. Desde 2019, o país vem sob tensão com protestos contra o presidente Sebastián Piñera e a crescente desigualdade social. A pandemia pausou as manifestações, mas não o descontentamento dos chilenos. Em março de 2020, Piñera adotou estado de emergência, para restringir a mobilidade da população. O confinamento, por exemplo, só permitia sair de casa dois dias por semana, monitorado por um código QR, para realizar ações essenciais. Após cinco meses de quarentena, o governo apresentou um plano de relaxamento, mas perdeu o controle do vírus e das aglomerações.

Érica Carnevalli, Leonardo Pimentel e Pedro Doria

Um jazzista, um DJ e uma orquestra sinfônica

Pharoah Sanders é um dos últimos grandes jazzistas dos anos 60 ainda vivos e em atividade. Nascido Lester Sanders, em 1940 no Arkansas, aprendeu a tocar com um clarinete que comprou da família de um senhor que havia falecido aos 90 anos. Pagou 20 centavos de dólar por semana até garantir a posse do instrumento. Tendo dominado, trocou o clarinete pelo saxofone incentivado por um professor da escola. Começou a tocar na cena noturna de Little Rock, sua cidade natal. Formado, se mudou para Oakland, na Califórnia, onde viveu até 1962. Atravessou então o país, pegando carona, até dar em Nova York, onde tocavam os grandes jazzistas do tempo. Convidado por Sun Ra, sentou praça em sua banda de Jazz Cósmico: Arkestra, cuja estética misturava o antigo Egito com um futurismo do ano 3000. Ganhou de Sun Ra o nome de Faraó e logo passou a ser reconhecido como uma das estrelas que estavam experimentando novos formatos para o jazz. Em 1965 foi convidado por John Coltrane a fazer parte de sua banda, na qual tocou por dois anos até a morte do chefe. Começou então sua carreira solo lançando discos pela Impulse!, gravadora responsável por alguns dos álbums mais experimentais do jazz de então.

Sam Shepherd, também conhecido como Floating Points, é um DJ britânico com PhD em Neurociência. Começou a tocar na noite londrina no final dos anos 2000 e é reconhecido por seu experimentalismo, por misturar estilos radicalmente diferentes de música quando toca. Certa vez foi tocar no exclusivíssimo Berghain, meca do techno na área industrial da antiga Berlim oriental. Era uma da manhã, Shepherd entrou na pista principal substituindo um DJ que tocava incessantemente techno minimal. Resolveu abrir sua apresentação tocando integralmente Harvest Time, uma longa faixa de 20 minutos que ocupava todo o lado A do disco Pharoah, lançado por Sanders em 1976, deixando a platéia num misto de espanto e curiosidade, tentando antever a direção em que ele iria levar o set. Com o passar dos anos, a música de Shepherd foi ficando cada vez menos dançante e mais atmosférica. Em 2015, lançou um disco chamado Elainea que chamou a atenção de Pharoah Sanders, que quis conhecer o DJ.

Os dois passaram os anos seguintes trocando ideias para uma possível colaboração.

A London Symphony Orchestra dispensa apresentações, é a mais antiga orquestra sinfônica de Londres, com mais de um século de existência e considerada uma das principais do mundo.

Desta mistura surgiu Promises, disco lançado essa semana nas principais plataformas de streaming. O novo disco difere tanto do som agitado dos discos experimentais de Sanders, como do som dançante característico dos tempos de pista de Shepherd. O álbum oferece uma experiência intimista, calma, relaxante, em oito movimentos de um som belo e hipnotizante. Perfeito para ser ouvido com calma nestes tempos angustiantes que vivemos. Ouça.

E para fechar a edição, os mais clicados da semana:

1. Twitter: O discurso de Bolsonaro essa semana vs os muitos discursos dele durante a pandemia.

2. O Globo: Infográfico – as 300 mil mortes por Covid-19 no Brasil.

3. Época: Assessor de Bolsonaro faz gesto de supremacistas brancos durante audiência no Senado.

4. Poder360: Os memes de Gilmar Mendes, Nunes Marques e o Piauí.

5. Twitter: Marcelo Adnet e o apoio à turma AE4 da FGV.

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‘Mapa de apoios está desfavorável ao Irã e sua visão de futuro’, diz Abbas Milani

17/04/24 • 11:00

O professor Abbas Milani nasceu no Irã. Foi preso pelo regime do xá Reza Pahlavi. Depois, perseguido pelo regime islâmico do aiatolá Khomeini. Buscou abrigo nos Estados Unidos na década de 1980, de onde nunca deixou de lutar por uma democracia em seu país de origem. Chegou a prestar consultoria a George W. Bush e Barack Obama, numa louvável disposição de colaboração bipartidária. Seu conselho sempre foi o mesmo: o Irã deve se reencontrar com um regime democrático, secular, por sua própria conta. Sem interferências externas.

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