Edição de Sábado: A visão do futuro espacial de três bilionários

Jeff Bezos, o fundador da Amazon, tem uma visão para o espaço: cilindros que orbitam a Terra. Cilindros gigantescos e transparentes que giram rapidamente no entorno de seu eixo central para simular gravidade. Dentro deles, terras e rios, matas, cidades, fazendas, fábricas. Cada um seria o que Bezos chama colônias de O’Neill, inspiradas por ideias do físico Gerard O’Neill. Nos anos 1970, o professor da Universidade de Princeton defendia que, para vivermos no espaço, estruturas artificiais na órbita seriam mais adequadas do que outros planetas. “Estas colônias teriam o clima de Maui em seus melhores dias durante o ano todo”, explicou Bezos numa conferência, em 2019. “Não haveria chuva ou terremotos, as pessoas vão querer morar lá.” (Assista a um vídeo.)

O plano, evidentemente, não é um que ele espera ver concretizado durante sua vida. Seu plano para a Blue Origin, a companhia espacial que fundou e o levará em um voo turístico suborbital no final de julho, é mais modesto. Tornar viagens para fora da Terra corriqueiras o suficiente para que projetos de colonização sejam possíveis. Bezos não é o único bilionário com projetos similares, mas as visões variam muito. Elon Musk, que enriqueceu com o PayPal e fundou a companhia de automóveis elétricos Tesla, está mais adiantado em sua companhia aeroespacial. Sua ideia de futuro é outra — colonizar Marte, o planeta vizinho mais próximo. Correndo por fora, Richard Branson e sua Virgin Galactic querem levar turistas ao espaço e só. Ambições muito distintas movimentam a segunda corrida espacial. Durante a primeira, nos anos 1950 e 60, americanos e soviéticos fizeram uma disputa de modelos de Estado, usando a ida para fora da Terra como símbolo de desenvolvimento tecnológico que cada um era capaz de alcançar. Agora, a briga é na iniciativa privada e, antes do cenário de ficção científica, há um alvo bem mais comezinho. Como sustentar um negócio que é particularmente caro.

Onde fica o espaço?

Quando Jeff Bezos anunciou seus planos de estar na primeira viagem turística da Blue Origin e a marcou para 20 de julho próximo, publicou em seu Instagram um vídeo curto e simpático. Nele, à moda de um reality show, apareceu com seu irmão Mark enquanto o convidava para ser um dos seis passageiros a bordo da cápsula New Shepard. Surpresa, abraços, depoimentos, tudo num clipe de menos de um minuto.

(Assista a um tour pela cabine.)

Alan Shepard foi o primeiro aviador americano a deixar a Terra, menos de um mês após o russo Yuri Gagarin fazer a mesma viagem, em 1961. É ele quem batiza a cápsula que levará Bezos, Mark, três outros funcionários da Blue Origin e o homem que pagou US$ 28 milhões pela passagem em um leilão virtual. O ambiente tem quase quatro metros de diâmetro e é circular. Eles vão se acomodar em seis poltronas recostadas como uma cadeira de dentista, cada uma à frente de uma grande janela, e alcançar a altura de aproximadamente 100 quilômetros acima do nível do mar. É, de acordo com a Federação Aeronáutica Internacional, o limiar do espaço. Um ponto em que o ar é tão rarefeito que a velocidade necessária para que uma nave mantenha o voo em equilíbrio aerodinâmico é maior do que a velocidade necessária para chegar àquele mesmo ponto.

Dali, não há mais céu azul. A Terra está abaixo, e a força da gravidade é tão pouca que os corpos humanos flutuam. Quando chegarem lá, os turistas espaciais ouvirão a voz da nave lhes comunicar que podem soltar os cintos de segurança. Terão aproximadamente quatro minutos para experimentar a vida de astronauta, flutuar pelo ambiente, até que a mesma voz os informará de que é hora de tornar a seus assentos. Neste momento, a cápsula que não tem piloto e é inteiramente automatizada, tornará ao solo. Ao todo, a viagem não passará de quinze minutos.

É o primeiro passo para que a Blue Origin passe a levar turistas para fora do planeta com alguma regularidade. A ideia é que as passagens cheguem rapidamente ao ponto de custar algo entre US$ 200 e US$ 300 mil.

O projeto de Bezos para colonização espacial tem três etapas. Seguindo seu raciocínio, a Amazon nasceu e se tornou o maior grupo varejista do planeta porque já havia uma infraestrutura em cima da qual criar a companhia. Já havia a internet, logo depois veio a banda larga. Como já havia um sistema, baseado nas empresas de Correios, para distribuição dos produtos. Para que seja possível alcançar a terceira etapa, de colônias de O’Neill na órbita da Terra, antes é necessário que viagens espaciais se tornem corriqueiras. Esta é a infraestrutura de base, como foram internet e Correios. No segundo lance, uma estrutura fixa na Lua será fundamental. Para Bezos, boa parte das indústrias podem ser transferidas para lá, até para preservar o meio ambiente na Terra. É uma tarefa que exigirá tempo e parte do conceito da Blue Origin leva isto em consideração: gradatim ferociter — gradualmente mas ferozmente — é o lema latino da empresa. Devagar e sempre.

É por isso, também, porque a intenção é fazer de viagens espaciais corriqueiras, que Bezos investiu pesado em turismo. Não será a principal fonte de sustento do negócio — contratos governamentais e contratos privados para lançamentos de satélites dão mais dinheiro —, mas é uma renda importante e é o que dará ritmo às viagens. Lançamento de satélites, por exemplo, não chegariam a doze num ano. Viagens para a Estação Espacial Internacional, bastante menos do que isso.

Questão de ritmo

Bezos se move lentamente para poder fazer muitas viagens. Elon Musk se move muito mais rápido pois deseja ir bem mais longe. Em um momento das disputas veladas entre suas duas companhias, Musk foi ao Twitter ironizar o rival. “Can’t get it up (to orbit) lol.” Não consegue levantar (à órbita) risos. A piada é de escola primária, mas por trás há uma diferença real. Desde 2012, sua SpaceX tem levado carregamentos para a Estação Espacial Internacional. E, em maio do ano passado, levou pela primeira vez dois astronautas. Em novembro, lançou mais quatro para a mesma viagem. Novamente, em abril deste ano, outros quatro tiveram o mesmo destino. Já é a empresa oficial que leva e trás astronautas para a NASA, que terceirizou este tipo de missão.

Por confiança na tecnologia da SpaceX, também em abril a NASA ofereceu à companhia um contrato que beira US$ 3 bilhões para levar pessoas novamente à Lua na missão Artemis. O nome vem da irmã do deus grego Apolo, que batizou as missões ao satélite nos anos 1960 e 70. A agência espacial americana quer levar pelo menos uma mulher e um astronauta negro à Lua em 2024. A concorrência foi interrompida após anúncio do ganhador pois Bezos a contestou. Argumenta que a NASA levou em consideração custo sobre outros aspectos. E é verdade — a agência admite o critério.

O plano de Musk é levar missões tripuladas a Marte, e ele tem pressa. Diferentemente de seu adversário, considera irreal a ideia de colônias no espaço. Ele vê a humanidade ocupando outros planetas, cada vez mais distantes, e o vizinho é o primeiro e mais importante passo. Em essência, Musk não acredita que a Terra tem futuro, enquanto Bezos vê nosso futuro ancorado na Terra.

Mas o homem feito bilionário pelo PayPal também tem de sustentar sua gigante espacial. Se os dois veem como fonte importante os contratos com governos, e Bezos aposta no turismo, Musk olha para os serviços. Quer criar uma rede de banda larga por satélites de baixa órbita que cubram todo o planeta. Trata-se de outra empresa, a Starlink, que já levantou mais de 1.500 destes pequenos satélites. Não é pouco — mais de um quarto dos satélites artificiais que cobrem a Terra foram lançados pela SpaceX para oferecer internet rápida e de baixa latência para lugares onde a rede mal existe. A empresa já tem licença para lançar até dez mil e planos de chegar a 42 mil, cobrindo todo o planeta. É uma empreitada que, quando completa, vai alterar a paisagem do céu estrelado e não são poucos os que questionam se Musk tem o direito ético de fazer algo assim. Se qualquer empresa pode fazer isto. Mas o serviço de banda larga já existe e é oferecido em locais dos EUA e da Europa — a antena sai por US$ 499 e, por mês, a conta é de cem dólares. Caro mesmo em países ricos, mas a melhor opção em velocidade para locais onde a fibra ótica não chega.

Por fora

Richard Branson, um bilionário que não vem da indústria da tecnologia, é quem corre por fora. Não tem planos para o futuro do humanidade mas acredita que o espaço é uma boa oferta de turismo. Tão logo soube que Jeff Bezos se lançaria enfim numa primeira viagem turística, mexeu no calendário e anunciou que estará à bordo da VSS Unity, um avião espacial de sua Virgin Galactic com potencial de carregar até seis passageiros. O voo sai em 4 de julho, dia da independência americana.

O avião espacial, como vem sendo chamado, não chega aos 100 quilômetros acima do nível do mar — ficará entre 60 e 80 —, mas já é o suficiente para experimentar gravidade zero. Lá em cima, suas asas se levantam para fazer o efeito de uma peteca que cai muito lentamente. Seus planos são de oferecer a experiência, no futuro, por US$ 250 mil cada ingresso.

Os escritórios do futuro

As dezenas de fileiras de mesas uma do lado da outra nos anos 60. Os cubículos da década de 80. E nos anos 2000 mesas de ping-pong e salas de descanso em meio a computadores e reuniões. Não é de hoje que os escritórios têm mudado para se adaptar ao comportamento de cada geração que chega à força de trabalho. Com a pandemia, não é diferente. À medida que as restrições vão sendo levantadas, o futuro do escritório começa a se tornar uma questão para qualquer empresa e principalmente para o funcionário.

Algumas empresas adotarão permanentemente o trabalho remoto. Outras abrirão novos escritórios satélites para dar suporte a equipes distribuídas. E talvez a maioria adote o trabalho híbrido. Google, Amazon e Uber, por exemplo, vão adotar um sistema de três dias de trabalho no escritório e o restante em casa. Outras como Twitter e Facebook já definiram home office para sempre. Enquanto o JP Morgan foi direto e exigiu o retorno de seus funcionários.

Seja qual for o modelo, designers e arquitetos concordam que as mudanças trazidas pela pandemia não vão embora de vez. Videoconferências e horário flexíveis devem ser integrados aos escritórios para atrair e manter colaboradores que se acostumaram a autonomia de trabalhar de casa. Essa independência vai muito além de apenas permitir o trabalho de casa ou do escritório. É dar a liberdade para o funcionário de escolher o espaço de trabalho ideal para o tipo de tarefa que precisa realizar. Isso significa que os espaços devem se tornar muito mais diversos. Em vez de apenas uma única separação entre área de trabalho e outro de descanso, os escritórios devem criar diferentes locais. Seja para uma reunião virtual, outra para uma live, ou para um encontro físico, local de leitura ou para quem se acostumou a trabalhar no sofá.

O escritório deverá ser bem mais personalizado e trazer uma sensação de conforto que se estende também para os mais diversos detalhes, incluindo controle da luz, por exemplo, para que cada um possa ajustar da forma que quiser em uma reunião virtual. O Google já incluiu em seus escritórios cadeiras e mesas ajustáveis, além de estações personalizáveis, com cadeiras, mesas e quadros brancos que podem ser organizados das mais diversas formas.

Da mesma forma que a pandemia transformou salas, quartos e cozinhas em ambientes de trabalho, o mesmo deve acontecer com os escritórios pós-Covid. O Spotify, por exemplo, tem instalado espaços individuais de trabalho, além de acústica para que cada um possa escutar músicas sem atrapalhar os colegas. O Google tem adotado robôs que inflam uma parede translúcida para automaticamente criar um espaço de mais privacidade para quem quiser.

Mas, ao mesmo tempo que a privacidade do home office chega ao escritório, os grandes espaços de colaboração que se tornaram referência no mundo de startups não devem ir embora. Os escritórios do futuro são aqueles desenhados não só para reuniões de trabalho, mas também mais bem-estar e envolvimento social dos funcionários. Isso pode incluir, por exemplo, opções para que os trabalhadores possam almoçar com um colega ou áreas de reunião casuais para sessões de mentoria individuais ou espaços semelhantes a uma sala de casa.

Essas tendências não serão apenas de agora. Para designers arquitetos e gurus da tecnologia esse é o futuro do escritório, pelo menos para os próximos 10 anos. Esse modelo de trabalho mais flexível significa estar mais preparado para a imprevisibilidade e mudanças geracionais que acontecem a cada década.

10 escritórios que já trazem o estilo de casa para dentro do escritório. Confira.

A guerra subterrânea dos cookies

Uma guerra subterrânea tem agitado o mundo da publicidade na Internet. É a guerra dos cookies, que está colocando big tech contra big tech, e as soluções discutidas têm mais a ver com a estratégia de negócios de cada envolvido do que em efetivamente com resolver o grave problema de privacidade pessoal que afeta os usuários.

No início, cookies existiam meio que escondidos, só lembrados quando para resolver algum bug o atendimento de um site nos mandava apagá-los. Hoje em dia somos lembrados de que existem o tempo todo, tendo de aceitar ou recusar cookies a cada site que visitamos.

Os pequenos arquivos foram criados ainda nos primórdios da rede. Como a web foi pensada como um repositório de informações em texto, a especificação original não oferecia aos criadores de sites nenhuma forma de controle de sessão. Ou seja, um site não tinha como saber se um usuário estava logado ou não, se havia colocado um produto em seu carrinho de compras, escolhido alguma preferência como a língua. Sem cookies, certamente a história da web seria muito diferente.

Em 1994, Lou Montulli um programador que trabalhava na Netscape, empresa que lançou um dos primeiros browsers da Internet, estava desenvolvendo um sistema de comércio eletrônico e achou uma solução engenhosa para manter informações durante a sessão de navegação de cada usuário. Mandar o browser gravar um arquivo no computador da pessoa com as informações dos itens que ele estava comprando. A novidade foi incorporada na versão 0.9beta do Netscape, lançada em outubro daquele ano. Em 1995, se iniciou na Internet Engineering Task Force uma discussão para oficializar o padrão, o que ocorreu em fevereiro de 1997 com a publicação do RFC2109.

A verdade é que nem todo cookie é criado igual. O caso de uso que Montulli inventou resolvia um problema específico, o de permitir o desenvolvimento de sistemas que tivessem como controlar sessões, lembrando o que um usuário já havia feito anteriormente no mesmo site. Este tipo de cookie se chama de cookie de primeira pessoa. Ele é enviado por um site e só este site consegue acessar as informações gravadas. Com o advento das primeiras redes de publicidade, surgiu outro tipo de cookie — o de terceira pessoa. Você visita o site de um jornal, por exemplo, numa determinada área da página aparece um banner. O banner, em vez de apontar para um servidor do jornal, aponta para o de um serviço de publicidade. Este cookie acompanha o usuário por outros sites que façam uso do mesmo serviço. Assim, redes de publicidade conseguem seguir os movimentos de alguém. O Google pegou carona este conceito quando começou a oferecer seu Google Analytics de graça para qualquer site. Ao se tornar padrão, espalhou cookies por quase toda rede e pode acompanhar os movimentos que fazemos ao navegar. O Facebook seguiu a mesma linha, incentivando sites a incluírem botões de like em suas páginas, botões que faziam a mesma função e foram posteriormente substituídos por soluções mais discretas.

Não é novidade que esse tipo de cookie seria nocivo para a privacidade. O próprio RFC2109, que padronizou os cookies, recomendava que cookies de terceira pessoa fossem desabilitados por default nos browsers, mas isto nunca foi seguido pelos desenvolvedores. Só recentemente que começaram a se preocupar com isso. A Apple já bloqueia ao menos parte destes cookies em seu browser Safari, além de ter limitado o rastreamento na última versão do iOS. O Firefox é outro browser que já bloqueia automaticamente este tipo de cookie. O Google está prometendo acabar com os cookies de terceira pessoa no Chrome até o começo de 2022. Mas, como depende de publicidade digital, quer promover um novo padrão para substituí-los. O FLoC (Federated Learning of Cohorts) vai agrupar os usuários em conjuntos similares e associar cada grupo com um ID específico que poderá ser usado por anunciantes para segmentar suas ofertas. Este FLoC tem seus problemas. Apesar de não permitir mais que um usuário seja rastreado individualmente, imediatamente envia mais informações sobre o perfil do usuário do que sites possuem hoje. Além disso, ao reduzir a capacidade de redes concorrentes rastrearem usuários, o Google consolida seu papel dominante na indústria de publicidade.

Bennet Cyphers, especialista da Electronic Frontier Foundation (EFF): “O Google está liderando a corrida para acabar com os cookies, mas o FLoC, sua mais ambiciosa aposta nesta direção, é talvez a mais perigosa delas todas. Certamente irão anunciar como um passo à frente na transparência e na devolução do controle para os usuários. Irão comemorar estarem inaugurando uma nova era mais privada na web, livre dos malvados cookies de terceira pessoa, enquanto isso ganharão alguns bilhões de dólares no processo.”

O FLoC ainda está em testes com um grupo pequeno de usuários de Chrome, incluindo alguns no Brasil. A turma da EFF criou um site que permite a você checar se o seu Chrome está incluído no teste. Verifique.

Enquanto isso, a Amazon começou a bloquear o FLoC em seus sites. A empresa de Bezos, que está avidamente se transformando também em uma empresa de publicidade, não quer entregar essa vantagem competitiva a um de seus rivais.

Em que pé estamos para 2022

Há nem tanto tempo assim o calendário das eleições seguia uma lógica padrão. As alianças eram costuradas a partir do início do ano eleitoral, e as campanhas começavam com o registro das candidaturas, mas só deslanchavam mesmo com a propaganda gratuita no rádio e na TV. Não mais. O advento das redes sociais e a intensa polarização política no país jogaram essa lógica para o alto, e, embora o próximo pleito seja daqui a 16 meses, candidatos já estão abertamente em campanha, e partidos se articulam para reforçar suas posições.

Há um complicador nesse jogo. Alianças e estratégias políticas envolvem uma boa dose de projeção de cenários, a partir do momento presente. Só que nosso momento presente, com uma pandemia matando meio milhão de brasileiros, é completamente anômalo. Por mais lento que seja, o processo de vacinação deve estar concluído até o início do ano que vem, permitindo, na medida do possível, a volta da normalidade e a retomada da atividade econômica. Mas como estarão inflação e desemprego? E a crise hídrica/energética?

É no meio desse mar de incertezas que partidos e candidatos se movimentam. Claro, a maioria das conversas acontece nos bastidores, mas é possível fazer um instantâneo do que está no ar neste momento. Primeiramente, o que dizem as pesquisas eleitorais mais recentes? Segundo o PoderData, Bolsonaro (sem partido) e Lula (PT) vão para o segundo turno em empate técnico, 33% e 31% respectivamente. Ou seja, há 36% de votos voando, mas falta um nome que os capture. Em tempo, pela pesquisa, Lula venceria no segundo turno por 11 pontos de vantagem.

E essa hipotética terceira via vai se estreitando. Esta semana Luciano Huck (sem partido), cortejado por meia dúzia de legendas, avisou que estava fora. Embora o DataPoder mostrasse que ele venceria Bolsonaro no segundo turno, o apresentador estava estacionado em 4% no primeiro. Outro que roeu a corda foi João Amoêdo (Novo), boicotado pela bancada do partido na Câmara, um bolsonarismo que não ousa dizer seu nome. Embora insinue que não deixou a disputa, o ex-ministro Sérgio Moro (sem partido) é cada vez menos considerado nos cálculos políticos.

Para a jornalista Vera Magalhães, o grande beneficiário desses movimentos é Ciro Gomes (PDT), que, avalia ela, “largou na frente de todos os demais em estruturar o marketing da campanha, ter o aval do próprio partido, admitir a candidatura sem subterfúgios e já estar em campo em busca de alianças, e acha que pode ter mais êxito em atrair partidos de centro e centro-direita com menos nomes na cartela de opções”. O problema é que esses afagos à direita, calcados principalmente em ataques a Lula, já criam incômodo dentro do PDT. O partido se define como de esquerda e negocia alianças regionais que necessariamente envolveriam o PT e seus satélites, e há o temor de que Ciro esteja queimando essas pontes.

Uma das metas de Ciro é atrair o PSD de Gilberto Kassab, mas a tarefa não é simples. Recém-filiado à legenda, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, faz gestos de aproximação para Lula, de quem foi aliado em seus dois mandatos anteriores no Piranhão, apelido da sede da administração carioca. Expulso do DEM e de malas prontas para se juntar a Paes no PSD, o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (RJ) se ofereceu para ajudar na interlocução de Lula com setores que hoje o rejeitam.

O PSB parece irremediavelmente incluído na cesta do petista. Dois nomes de ressonância local e nacional e tradicionais aliados de Lula anunciaram a filiação ao partido do clã Campos: o governador do Maranhão e provável candidato ao Senado, Flávio Dino (ex-PCdoB), e o deputado carioca Marcelo Freixo (ex-PSOL), potencial candidato ao governo do Estado do Rio numa frente de esquerda.

Foi nesse cenário que representantes de sete partidos do centro-esquerda à direita (PV, Cidadania, PSDB, Podemos, MDB, Solidariedade e DEM) se reuniram para iniciar o diálogo em busca de uma candidatura comum. O patrocinador do evento foi o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM). Ao fim do encontro, o único consenso foi não apoiar nem Lula nem Bolsonaro, o que já foi uma vitória para Mandetta. Suas pretensões presidenciáveis morrem na praia se, a exemplo do que aconteceu na eleição para o comando do Congresso, seu partido se jogar nos braços do bolsonarismo.

Mesmo presente no encontro da “terceira via”, o PSDB deu a largada para escolher um candidato próprio no melhor estilo tucano, brigando entre si. No estabelecimento de regras para as prévias, o governador paulista João Doria, que quer se mudar para o Palácio da Alvorada desde que entrou no dos Bandeirantes, defendia um sistema paritário, com cada filiado contando um voto. Perdeu. Feio. Pelo modelo aprovado, há quatro grupos de eleitores, cada qual com 25% dos votos. No primeiro estão os filiados; no segundo, prefeitos e vice-prefeitos; no terceiro, vereadores, deputados estaduais e distritais; e no quarto, governadores, vice-governadores, ex-presidentes e o atual presidente da Comissão Executiva Nacional, deputados federais e senadores.

A gerontocracia tucana, predominante no quarto grupo, quer emplacar o senador Tasso Jereissati (CE), apresentado como um “Joe Biden brasileiro”, um político experiente e moderado, capaz de falar com todas as correntes. Embora não seja um fundador do partido, no qual entrou no início dos anos 1990, ele resgataria os valores social-democratas dos tucanos. O problema é convencer a bancada do partido na Câmara, bem mais conservadora que os cabeças brancas da cúpula e que não se sentiria desconfortável em apoiar Bolsonaro ou mesmo ser neutra na disputa, gastando o fundo eleitoral na própria reeleição.

Falando nisso, em que pé estão os esforços do atual mandatário para continuar no cargo? Bem, a rigor, Jair Bolsonaro segue ininterruptamente em campanha mesmo depois de vencer as eleições de 2018. Faz lives semanais louvando o próprio governo e atacando o resto do mundo, participa de motociatas e de eventos que só não são comícios no nome, especialmente com sua base mais fiel, os evangélicos. Entretanto, ainda não tem um partido para aparecer na tela da atacada urna eletrônica. Nas condições normais de temperatura e pressão, filiar o presidente da República candidato à reeleição seria o sonho de toda legenda, mas não é tão simples.

Seu alvo da vez é o Patriota, ao qual seu filho, o senador Flávio (RJ), já se filiou, mas mesmo lá há resistência. O vice-presidente do partido, Ovasco Resende, reclama que Bolsonaro está exigindo o comando dos diretórios de São Paulo, Rio e Minas Gerais, os três maiores colégios eleitorais do país. A base do presidente no Congresso é o centrão, famoso pelo, digamos, pragmatismo. Se Bolsonaro chegar ao segundo semestre do ano que vem bem colocado, terá o apoio do bloco. Se não...

Na outra ponta da polarização, Lula finge que ainda não decidiu a candidatura, mas também está em campanha aberta, embora evite participar de atos públicos para não ser acusado de provocar aglomerações. Por esse motivo, aliás, não pretende participar dos protestos marcados para hoje em todo o país. Mas fez esta semana um movimento de ataque ao coração do bolsonarismo, se reunindo com o bispo evangélico Manoel Ferreira, líder da Assembleia de Deus de Madureira, uma das maiores denominações neopentecostais do país. O próprio centrão, ora fechado com Bolsonaro, está na mira.

Como foi dito lá em cima, isto é um instantâneo, uma freada de arrumação para entendermos em que pé está a situação. Ainda vamos conversar muito sobre isso até outubro de 2022.

E os mais clicados de uma semana de muitos clicks:

1. Facebook: A tirinha de Armandinho que se encaixa como uma luva no caso da bicicleta roubada no Leblon.

2. Estadão: Sem Huck, quem fica na disputa pela terceira via.

3. G1: Loja demite rapaz que acusou professor de surfe de roubo de bicicleta.

4. O Globo: Os 4 líderes na Câmara que podem se beneficiar com as mudanças na lei de improbidade administrativa.

5. CNN Brasil: Meme do cachorro que deu origem à Dogecoin se torna o NFT mais caro já vendido.

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24/04/24 • 11:00

Em seu café da manhã com jornalistas, na terça-feira desta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu que a extrema direita nasceu, no Brasil, em 2013. Ele vê nas Jornadas de Junho daquele ano a explosão do caos em que o país foi mergulhado a partir dali. Mais de dez anos passados, Lula ainda não compreendeu que não era o bolsonarismo que estava nas ruas brasileiras naquele momento. E, no entanto, seu diagnóstico não está de todo errado. Porque algo aconteceu, sim, em 2013. O que aconteceu está diretamente ligado ao caos em que o Brasil mergulhou e explica muito do desacerto político que vivemos não só em Brasília mas em toda a sociedade. Em 2013, Twitter e Facebook instalaram algoritmos para determinar o que vemos ao entrar nas duas redes sociais.

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