Edição de Sábado: De que Estado precisamos?

A partir de 2023, se tudo ocorrer como as pesquisas indicam, o Brasil terá um novo governo e uma Democracia por recuperar. É inevitável que um diálogo seja aberto de uma ponta à outra no arco político, e para isso é necessário mapear o que há de comum — e onde há discussão — a respeito das ideias de país. Foi com este objetivo, ao longo desta última semana, que o grupo apartidário Derrubando Muros promoveu seis painéis com um título provocador. De que Estado precisamos? Para eles foram convocados economistas, advogados, cientistas políticos. Vozes que representam uma possível candidatura liberal, mas também as candidaturas postas de Ciro Gomes (PDT) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Há alguns consensos entre todos. Mas há também debates importantes. O Meio transmitiu pelo YouTube cada um destes painéis, que podem ser assistidos individualmente. Nesta edição de Sábado publicamos não propriamente um resumo, mas uma síntese dos encontros e desencontros.

O problema do Brasil é desigualdade. A palavra, repetida por quase todos os palestrantes, é importante. Porque vê-la como um problema central do país não era consenso há alguns anos. Desigualdade não é o mesmo que pobreza — pobreza pode existir em países com uma extensa classe média. Desigualdade é quando uma sociedade é dividida por um fosso, a distância entre os mais pobres e os mais ricos é tal que em essência condena boa parte da população à desesperança. À falta de oportunidades. “A sociedade não quer este nível de desigualdade”, afirmou o economista Pérsio Arida (YouTube). “Este estado de desigualdade é intolerável.”

Outra palavra constante ao longo dos discursos — patrimonialismo. Um Estado que, com frequência demais, se põe a serviço de quem está no poder ou tem acesso ao poder.

“O Brasil saiu de uma monarquia patrimonialista para um patrimonialismo oligárquico”, descreveu o ex-candidato petista à presidência Fernando Haddad (YouTube). “O orçamento público tem uma quantidade enorme de penduricalhos”, ele continua. Isenções, incentivos, linhas de crédito, toda sorte de maneiras de encaminhar o dinheiro público para alguns grupos. “A relação de alguns setores particulares com o Estado não é nem de lobby. Lobby pressupõe balcão, cada um de um lado negociando. Aqui é mesa redonda, você não consegue diferenciar.” Quem representa o Estado, quem representa o privado.

Mas, a partir destes consensos, o debate surge a respeito das soluções. O combate à desigualdade exige o financiamento de políticas públicas. Pois como financia? Enquanto isso, a lida com o patrimonialismo, tornar o Estado impessoal, exige transparência e exige eficiência no setor público. Como se chega lá?

O dinheiro

Três caminhos foram postos na mesa — e são caminhos necessariamente diferentes uns dos outros. Os liberais, por exemplo, se dividem.

“No Brasil, quase 80% dos recursos do Estado são gastos com folha de pagamento e previdência”, explica Armínio Fraga (YouTube), ex-presidente do Banco Central. “Esse número supera em uns 20% o topo dos demais países.” Por esta visão, predominante desde a virada dos anos 1970 para 80, o Estado deve se financiar a partir da arrecadação de impostos. Embora tenha o poder para tal, não pode ‘criar’ dinheiro, botar mais dinheiro em circulação pois isto, inevitavelmente, vai levar a inflação. Para que investimentos sociais sejam possíveis, portanto, é preciso antes travar a batalha de reformar, reorganizar o Estado, combater patrimonialismo e corporativismo simultaneamente. É a partir da diminuição do gasto com a folha, do corte de inúmeros subsídios e incentivos, de se livrar de estruturas que o Estado não precisa controlar, que se libera orçamento para promover políticas públicas que atendam à sociedade.

Mas há um caminho novo, a Teoria Monetária Moderna. Ela não é consensual, mas tem no Brasil um defensor de peso. O parceiro de Pérsio Arida na criação do Plano Real, André Lara Resende (YouTube). “As pessoas dizem que o Estado precisa fazer muita coisa para escapar da armadilha da estagnação, aí ao mesmo tempo dizem ‘mas o Estado está quebrado’”, ele argumenta. “Como assim o Estado está quebrado? O Estado não quebra.” O Estado, afinal, produz sua moeda.

Após a crise de 2008, inúmeros governos — incluindo o americano e a União Europeia — puseram grandes quantidades de dinheiro novo na economia, e a política não gerou a inflação sugerida pelo raciocínio tradicional.

O raciocínio é diferente, também, do trazido pela esquerda tradicional. Este dinheiro novo não é inflacionário se gasto com infraestrutura ou no desenvolvimento da sociedade. Ou seja: se gasto naquilo que leva a aumento de produtividade. Gasto com custeio, para financiar o próprio Estado, aí a inflação volta. “Queremos um Estado capaz de direcionar investimentos públicos e privados, que são complementares, para garantir o progresso com equidade, respeito ambiental”, defende André. “O auxílio emergencial teve de ser constitucionalizado porque o teto de gastos foi constitucionalizado. Esta é uma limitação autoimposta, desumana e absurda. Essas restrições são todas arbitrárias para que o Estado funcionem bem. Não pode ser constitucional.”

Este não é um debate encerrado, está quente, e põe em contraste velhos parceiros. Enquanto isso, correndo por fora, o economista Nelson Marconi (YouTube) aponta para outra solução no caminho nacional-desenvolvimentista da campanha do pedetista Ciro Gomes. “Vamos evitar a apreciação da moeda”, ele afirma. Na contramão de seus pares, considera que o real desvalorizado barateia os investimentos internos. Considera, aliás, que a relação real para dólar está hoje próxima do ideal. “A taxa de juros tem de cair”, ele segue, “e precisamos renegociar as dívidas de pessoas físicas e jurídicas.”

Se como financiar a transformação separa liberais, o que volta a uni-los — incluindo André Lara Resende — é a ideia de que o Estado deve dar infraestrutura à sociedade para que ela possa fluir. Toda sorte de infraestrutura: da física, como rodovias, à social, como educação para promover mão de obra qualificada. “O Estado tem de prover meios para que a comunidade floresça”, sintetiza a economista Elena Landau (YouTube). “Mas ele, o Estado, lá atrás em Brasília, não consegue dar conta de todas as necessidades.” Nesta visão, Brasília não deve acreditar que pode desenhar, na prancheta, o que o Brasil será.

É o oposto do que defende Marconi. “Precisamos estimular os setores que são importantes”, ele sugere, “analisar as áreas que precisam de funcionários e direcionar investimentos.” Para tomar a decisão de que áreas da indústria seriam beneficiadas, e que tipo de profissionais seriam capacitados, ele imagina uma estrutura no governo federal que reúna representantes do Estado e da iniciativa privada.

As regras do jogo

Outra palavra foi repetida com frequência. Desconstitucionalização. “Em parte, a Constituição de 1988 é reflexo dos lobbies que havia então”, lembra Pérsio. Toda sorte de grupos tratou de defender seus interesses e registrá-los na Carta. “A Constituição é uma mistura que inclui direitos fundamentais mas também o exercício destes lobistas.” Ele sugere uma ideia simples — e radical. “Uma emenda constitucional que mude todas as políticas econômicas para lei complementar.” Seu argumento é de que a realidade muda com o passar dos anos, as prioridades da sociedade mudam, e estas mudanças são encaradas com mais agilidade se o Congresso puder modificar leis, sem precisar apelar ao trabalho duro de mudar a Constituição.

É um caminho similar que segue o advogado Carlos Ari Sundfeld, que dividiu com Elena sua palestra. “Assim nós vamos poder rever o sistema tributário, a reorganização do sistema público. É uma maneira de conciliarmos dos valores: o pacto da Democracia que está na Constituição, mas conseguindo rever aquilo que é provisório.”

Pérsio vai além na crítica. “A Constituição determinou algumas prioridades do setor público, como Educação e Saúde”, descreve. “Acontece que o mundo mudou. Precisamos observar o Meio Ambiente e oferecer educação tecnológica.” Se o governo decide que o cuidado ambiental é prioritário, por exemplo, ele em essência reinventa o país, criando toda uma série de incentivos novos que é inviabilizada pela maneira como o Orçamento distribui os recursos tal qual determinado pela Constituição. Para que o Estado tenha a flexibilidade de se adequar às mudanças que o tempo traz, eles defendem, certas determinações precisam deixar a Carta.

O que leva, necessariamente, a um debate a respeito da eficiência do Estado, da capacidade de entrega dos serviços que são necessários. “Foi o fracasso do Estado nos serviços públicos mínimos durante a pandemia”, observou Elena, “que deixou evidente o tamanho da desigualdade brasileira.”

“É fundamental que se crie uma cultura de justificar tudo que se faz”, desenvolve Armínio. “É preciso administrar com rigor e avaliar.” Carlos Ari vai ao mesmo ponto. “Temos de rever e simplificar os controles públicos.” E Pérsio exemplifica: “É impossível para o cidadão entender o orçamento da União. Simplificação das regras orçamentárias facilitam ao cidadão acompanhar o debate”, diz. O truque, em essência, é que os vícios brasileiros não são expostos justamente porque nada é simples. “Os lobbies, o corporativismo, o patrimonialismo, aparecem nos detalhes.”

Não há um lugar simples no qualquer cidadão possa descobrir que setores ganham subsídios, que retorno para o país aquele subsídio trouxe. Programas públicos muitas vezes não são avaliados — quanto foi investido, que retorno deu?

Na visão geral, encontram em Fernando Haddad muito acordo. “Existem segmentos rentistas no Brasil muito fortes que vivem de sua relação particularista com o Estado”, ele afirma, e isto vem desde o nascimento da República. “Você pega o orçamento e tem uma quantidade enorme de penduricalhos, de subsídios de isenções, para os quais não temos transparência. Você não sabe da onde está vindo o dinheiro e para onde está indo o dinheiro. O orçamento público, no Brasil, não é público.”

Encontros e desencontros

Políticas públicas têm de ser avaliadas. Se os números dizem que funcionam, continuam. Se não funcionam, devem ser substituídas.

Interesses particulares, a toda hora, capturam seus quinhões no Estado. É o corporativismo de certas carreiras do funcionalismo público. É a capacidade de pressão de certos setores privados da economia. Assim como é quem está no Estado. É por isso que Haddad, como cientista político, observa que é diferente de um lobby. É como se todos se sentassem a uma mesa redonda, é como se todos combinassem.

A solução é transparência. A solução é compreender de forma clara que dinheiro vai para onde e que resultado que dinheiro gasto dá.

“Nem as políticas sociais são monopólio da esquerda”, diz Elena Landau, “nem uma política modernizante é de direita. Todos queremos um Estado progressista, inclusivo socialmente, com mobilidade social e digitalizado. Que inclua a cultura, que neste governo está sendo solapada.”

É onde há acordo.

A partir daí, alguns acreditam que o Estado tem de ser reformado antes para que dinheiro sobre para atacar os dramas da sociedade. Outros defendem que, se o dinheiro for investido na sociedade, naquilo que leva a crescimento, o gasto pode, e deve, ser feito imediatamente. E há os ciristas, que vão além. Querem um Estado que, ainda que em conversas com o setor privado, seja definidor dos rumos do país.

Nossa repórter na Esplanada

“Eu te amo, meu Brasil, eu te amo. Meu coração é verde, amarelo, branco, azul anil. Eu te amo, meu Brasil, eu te amo. Ninguém segura a juventude do Brasil.” Há doze dias o sucesso da dupla Dom e Ravel, interpretado pelos Incríveis, toca em looping na minha cabeça. Não é para menos. A marchinha militar chegou até mim no último dia 6, sob o viaduto localizado entre a Rodoviária do Plano Piloto e o Shopping Conjunto Nacional, em Brasília. Na véspera do grandiosíssimo 7 de Setembro, por ali passava um caminhão lotado de reservistas que atuaram no golpe de 1964. No auge dos 80 anos, cantavam em coro e em plenos pulmões – ou não tão plenos assim, que “ninguém seguraria a juventude do Brasil”. “Hoje não, amanhã é o grande dia”.

Caminhões e caminhões chegavam aos montes à capital federal e estacionavam em frente à Praça dos Três Poderes, o palco que receberia à força os revolucionários no grande dia. Em cima das carrocerias, homens entoavam nos trombones: “Já raiou a liberdade no horizonte do Brasil”. Presságio, sinal de Deus. Só podia ser. “Amanhã é o grande dia”.

No dia 7, o sol raiou cedo. Pensava que não seria fácil me infiltrar no ato bolsonarista. Vesti a camisa da CBF e, nas costas, amarrei a bandeira nacional. Quase a Capitã Brasil — não fosse por um mero detalhe: a máscara. Como não me destacar na multidão sendo a única indivídua usando máscara de proteção em meio a uma aglomeração durante a pandemia? Descobri a resposta rápido. A qualquer sinal de dúvida sobre minha índole patriota, deveria acionar a frase de segurança: “O comunismo é o mal do Brasil”. A loira-golpista-quase-perfeita.

Na Esplanada dos Ministérios, onde se concentravam os apoiadores do governo, tendas com caixas de som ofereciam aos revolucionários baladas à luz do dia, a céu aberto, apenas com cidadãos de bem. Por meio de um rap que estralava nas caixas, descobri que o sonho dessa gente é formar uma família. “Quando meu filho nascer, vai seguir os passos do pai. Suas primeiras palavras? O petismo nunca mais. Vai usar roupa do Ustra e ser fã do Bolsonaro. Na escola com os amigos, vai oprimir pra car*lho. Meu filho vai ser de direita, mini anticomunista. Vai lamentar não ter bigode pra imitar o Fahur”, compôs Luiz, O Visitante, um dos principais rappers bolsonaristas.

Entre os acampamentos dos evangélicos, as tendas dos militares e os hotéis (nos quais as diárias custam cerca de R$ 500), perambulavam representantes do Aliança Pelo Brasil. Os cidadãos me pararam quatorze vezes. “Amiga, quer se filiar ao Aliança?”. “Obrigada, mais tarde eu volto”. O cabelo loiro ajudou no disfarce. Por todos os lados, bandeiras de Israel e dos Estados Unidos. Também havia cartazes que pediam a criminalização do comunismo e a soltura de Roberto Jefferson, político também preso no escândalo do mensalão petista. O patriotismo pulsava. Para fotografar, subi em um caminhão. A falta de prática me levou a desequilibrar e quase escorregar. O patriotismo era tanto que me socorreram: “Menina, cuidado para não deixar a bandeira do Brasil cair”.

Antes de o presidente pisar no palco principal, uma missa abençoava os milhares de cristãos presentes. Erguendo a padroeira do Brasil, o padre pediu que rezássemos para expulsar os demônios do Supremo Tribunal Federal. Demônios personificados no ministro Alexandre de Moraes. De mãos dadas e com olhos fechados, pedi que Oxum me protegesse. “Ele é Deus, Bolsonaro é Deus”, gritavam. Particularmente, não sabia que Deus era golpista. E dos céus, o presidente desceu. Literalmente. O helicóptero de Jair Bolsonaro pousou e o líder da nação tomou o palco para discursar. Antes que começasse a falar, o padre exigiu: “Abrace o Bolsonaro. O Bolsonaro que está dentro de você, o Bolsonaro que está atrás de você, a sua frente, ao seu lado”. Neste momento, agradeci a Oxum por estar vacinada com as duas doses contra a Covid-19. Também conversei com o Bolsonaro que existe dentro de mim: “Como deixamos isso acontecer?”.

Em seu discurso, o chefe do Executivo disse que não mais aceitaria as ordens do Judiciário. Então, fiéis caíram de joelhos e agradeceram a Deus. O plano estava de pé. Esperariam apenas o sinal do presidente para invadir a sede do STF. Enquanto isso, em um gesto de força, caças da Força Aérea Brasileira (FAB) cortavam os céus. E deixavam um rastro de fumaça em formato de coração. Confiando no líder da nação, os caminhoneiros persistiam, “O presidente disse que hoje não, mas amanhã é o grande dia”.

Então, o 7 de Setembro chegou ao fim. O grande momento estava próximo. Na missa do dia 8, o padre exclamava: “A resposta aos desmandos do STF precisa vir logo, vir hoje”. Durante a espera pelo sinal do presidente, homenagearam o herói Sergio Reis balançando os chapéus e cantando “O Menino da Porteira”. Berrantes aos berros. Mas o machão recuou e a resposta não chegou. O bolsonarismo latente perdeu força. Ficou tão fraco, mas tão fraco que até parece que esqueceu de almoçar. Talvez não tenham distribuído pães com mortadela o suficiente. Não bastou financiar a ida e a estadia dos apoiadores. Em pouco tempo, todos voltaram para suas casas. Na verdade, a volta demandou bastante tempo já que foi necessário enfrentar a paralisação dos caminhoneiros nas estradas. A volta também demandou bastante dinheiro. Foi preciso coçar o bolso com passagens, já que o preço da gasolina – ao contrário da popularidade do governo, está nas alturas. Mas não custa esperar. Afinal, o golpe não chega hoje, só amanhã.

Moda e protesto? Por que não?

Poucas vezes um tapete vermelho foi tão aguardado quando o Met gala da última segunda-feira, dia13. Não era para menos. O tradicional evento beneficente do Instituto de Vestuário do Metropolitan Museum of Art, em Nova York, acontecia anualmente desde 1948, mas fora cancelado no ano passado devido à pandemia. Este ano, mesmo com apenas um terço do número usual de participantes e exigência de estarem todos vacinados, nada impediria o brilho. E a polêmica.

O tema, América: Um Dicionário da Moda, celebrava designers e fashionistas dos EUA reunindo nomes muito além do mundo da moda e atraindo o olhar da mídia de todo o mundo para um acontecimento político. Como assim, político? O que moda tem a ver com política? Tudo. Cada peça de roupa que usamos, cada acessório é uma manifestação política. E o Met gala amplifica essa vocação, abrindo espaço para manifestações sobre desigualdade, racismo, homofobia e o que mais houver para protestar.

A começar pela manifestação política propriamente dita. Duas deputadas democratas foram convidadas para a festa, não tiveram que desembolsar os US$ 35 mil (R$ 185 mil) por um ingresso e até US$ 300 mil (R$ 1,6 milhão) por um lugar numa mesa. A novaiorquina Alexandria Ocasio-Cortez, musa da nova esquerda democrata, ganhou de presente o vestido para a festa e estampou nele a nada sutil mensagem “taxem os ricos”. Tudo a ver com a militância dela contra as desigualdades sociais – com um salário-mínimo de U$ 15 (R$ 80) a hora, um novaiorquino precisaria trabalhar 14 meses para comprar o ingresso mais barato.

Já sua colega de bancada Carolyn Maloney, da Carolina do Norte, usou um vestido com faixas exigindo direitos iguais para as mulheres. Aos 75 anos, Maloney segue incansável na luta pela igualdade de gêneros. 

E já que estamos falando de gênero, três nomes têm de ser destacados – três celebridades trans, aliás. A modelo e atriz Hunter Schaffer, de Euphoria, usou ousados e lindos acessórios de designers também trans. O ator Elliot Page trouxe uma flor verde na lapela em homenagem ao gênio inglês Oscar Wilde, que acabou preso no século 19 por ser homossexual. A flor verde era um código para gays no círculo social de Wilde. E a YouTuber Nikkie de Jager homenageou a ativista também trans Marsha P. Johnson.

Teve quem levasse o ativismo a outros patamares, como rapper Lil Nas X, recém-consagrado no VMAs. Ele não usou uma roupa, mas uma narrativa completa na base da Versace – uma capa, uma armadura e, por último, um macacão completamente decorado e decotado. A semiótica por trás? A luta contra o preconceito e a homofobia e a aceitação dele mesmo.

Nascida em Barbados, nas Bahamas, Rihanna esfregou sua condição de imigrante na cara dos conservadores, enquanto a modelo de ascendência Navajo Quannah Chasinghorse lembrou que americano de verdade é o povo dela.

Claro, nem todo mundo acertou. Cara Delevingne bem que tentou ao usar uma blusa da Dior contra o patriarcado com o termo “Peg que patriarchy”; sendo que “peg” é o ato de uma mulher penetrar um homem usando um acessório sexual. Pena que tenha, supostamente, plagiado o slogan criado pela dominatrix Luna Matatas. Além disso, “peg” implicaria a dominação pela penetração, uma das bases do próprio patriarcado.

Os protestos envolvendo o Met gala não foram só nas roupas e nem inteiramente pacíficos. Um grupo ligado ao movimento Black Lives Matter, que denuncia a violência policial contra negros, protestou do lado de fora do museu. Houve tensão e prisões. Os organizadores do Met gala condenaram a manifestação, provavelmente preferindo uma nota de repúdio.

Ou seja, pense bem antes de escolher sua próxima blusa. Você pode não acreditar, mas está fazendo um ato político.

Missão da Inspiration4 é um marco da nova era da exploração espacial

Uma das cenas mais clássicas de Os Eleitos, presente no livro original de Tom Wolfe (Amazon), no filme de 1983 de Philip Kaufman (Trailer) e também na nova série da Disney+ (Trailer), é a que os futuros astronautas são apresentados pela primeira vez à cápsula que os levaria ao espaço e descobrem que ela não possui nem janela muito menos um manche de comando. Pois é, apesar de os primeiros astronautas escolhidos pela recém criada NASA estarem entre os mais experientes pilotos de caças, eles não pilotariam o foguete nem a cápsula, tudo seria comandado do solo.

Na última quarta-feira o foguete Falcon 9 da SpaceX, empresa de Elon Musk, levou para o espaço a cápsula Inspiration4 (Youtube). Dentro, pela primeira vez na história, quatro passageiros civis, nenhum astronauta profissional a bordo. Diferentemente da recente corrida entre Bezos e Branson para ver quem chegava primeiro na fronteira do espaço, a Inspiration4 colocou seus passageiros na órbita da Terra por três dias. O pouso está previsto para hoje às 20h06 de Brasília, em algum ponto no oceano Atlântico próximo à costa da Flórida. Essa missão é talvez o maior marco de que definitivamente entramos em uma nova era da exploração espacial.

Desde o fim dos ônibus espaciais temos nos acostumado a ver robôs explorando o espaço. Os ônibus espaciais foram talvez o auge da carreira de astronautas que realmente pilotavam as naves. Eileen Collins foi a primeira mulher a pilotar um deles, a Discovery em 1995 levando astronautas americanos e russos para a estação espacial MIR. Collins contou em entrevista de 2011 à Popular Mechanics como era pilotar a nave. Suave e responsiva durante o vôo e difícil de manobrar no chão. Se a visão de Musk vingar, essa próxima era espacial será toda controlada de terra, liberando o pouco espaço à bordo para mais passageiros pagantes.

Ah, toda a viagem da Inspiration4, desde a preparação, está sendo documentada e será exibida em uma série documental que deve estrear na Netflix ainda esse ano.

E por um breve período entre quarta e sexta-feira o espaço esteve mais cheio do que nunca. Eram 14 pessoas em órbita da terra. Os 4 passageiros da Inspiration4, os 7 astronautas que estão na Estação Espacial Internacional e 3 astronautas chineses que estavam a bordo da Estação Espacial Chinesa e que voltaram à terra ontem. O recorde anterior era de 13 pessoas que estiveram juntas a bordo da ISS em 2009.

Veja: As primeiras fotos dos passageiros da Inspiration4.

E como há de ser, os mais clicados da semana:

1. Poder 360: Os memes com a repercussão da imitação de Bolsonaro no jantar de Temer.

2. Youtube: O vídeo com a imitação de Bolsonaro.

3. O Globo: Advogado encontra prova jurídica que confirma se Capitu traiu ou não Bentinho em Dom Casmurro.

4. Poder 360: Imagens comparando as manifestações de 7 e 12 de setembro.

5. Youtube: Trailer de The Power of The Dog novo longa de Jane Campion que foi aplaudido de pé em Veneza.

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24/04/24 • 11:00

Em seu café da manhã com jornalistas, na terça-feira desta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu que a extrema direita nasceu, no Brasil, em 2013. Ele vê nas Jornadas de Junho daquele ano a explosão do caos em que o país foi mergulhado a partir dali. Mais de dez anos passados, Lula ainda não compreendeu que não era o bolsonarismo que estava nas ruas brasileiras naquele momento. E, no entanto, seu diagnóstico não está de todo errado. Porque algo aconteceu, sim, em 2013. O que aconteceu está diretamente ligado ao caos em que o Brasil mergulhou e explica muito do desacerto político que vivemos não só em Brasília mas em toda a sociedade. Em 2013, Twitter e Facebook instalaram algoritmos para determinar o que vemos ao entrar nas duas redes sociais.

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