Edição de Sábado: Quando se experimenta com pessoas

Peter Buxton era jovem — tinha 27 anos, quase 28. Um sujeito mais para conservador, o cabelo bem curto, não raro vestia um terno cinza. Um burocrata. Havia nascido em Praga, mas os pais, judeus, se mudaram ainda antes de 1940 para San Francisco, na Califórnia, onde Buxton se criou. Cresceu ouvindo as histórias das atrocidades nazistas, todas elas. Histórias das quais escapou. Naquela segunda metade dos anos 1960, a cidade onde havia se criado estava explodindo com a contracultura hippie. Mas isso não era para Buxton. Podia ser jovem, porém era daquele tipo mais metódico e talvez por estas características pessoais fosse bom no que fazia. Seu trabalho era encontrar gente para o Sistema de Saúde Pública dos EUA. Gente com sífilis.

Seus dias no escritório começavam com uma olhada no escaninho. Quando algum homem ia parar num hospital da cidade com a doença, traçadores como ele eram envolvidos. Buxton teria uma conversa com o paciente, levantaria seu histórico sexual, e a partir daí era serviço de detetive. Encontrar os parceiros daquele sujeito para que começassem também a se tratar com o coquetel de antibióticos. O objetivo era encontrar cedo para que o tratamento fosse rápido e eficaz além de, claro, evitar que a doença se espalhasse.

E foi num dia típico de trabalho que entreouviu de um colega a história. Um senhor, já bem idoso, havia sido levado para tratamento da doença no Alabama. Estava no estágio terciário da sífilis, algo muito raro. É um momento em que as erupções primeiro no pênis, depois no resto do corpo, já passaram há muito e com frequência a loucura começa a se impor. Antes da penicilina, muita gente chegava àquele ponto. Mas, em 1966, raríssimo. E, no caso daquele senhor, os médicos do Serviço de Saúde Pública estavam irritados. Ao ser tratado por um médico particular, teria de ser expurgado do estudo.

Buxton tomou um susto: como assim estudo? Não perguntou muito, mas foi investigar. Dentro da burocracia interna de seu departamento, não teve qualquer dificuldade de levantar a história. Não era segredo e muita gente conhecia os detalhes.

No ano de 1932, antes de ele nascer, um grupo de cientistas começou a interceptar os pacientes de sífilis que apareciam numa comunidade bastante pobre em Macon, no Alabama. Chegaram a 399 homens, todos eles jovens, todos negros. Não foi revelado a nenhum que doença os afligia. Tratamento foi prometido — mas nunca concedido. Os médicos davam pílulas, às vezes aspirina, às vezes só farinha compactada. E, a partir dali, começaram um acompanhamento anual com o apoio da escola de medicina da Universidade Tuskegee. O objetivo era detalhar e mapear o avanço da doença.

O burocrata tomou um susto. Aquilo violava toda ética em conduta de experimentos científicos com seres humanos estabelecida após as atrocidades nazistas, durante a Segunda Guerra. Buxton escreveu um relatório em choque — recebeu de volta uma bronca do chefe, que sugeriu a ele que não entregasse internamente os documentos. Sob o risco de perder o emprego, ele fez a entrega formal. Levou outra bronca. As broncas foram subindo hierarquicamente. Não era para se meter. Todos os pacientes eram voluntários do estudo, ouviu mais de uma vez.

Então ele procurou a imprensa e vazou seu relatório.

Ao todo o estudo envolvia 600 homens, 399 com sífilis, 201 no grupo de controle. Desde o início, nunca receberam qualquer informação. Alguns eram semianalfabetos, todos muito pobres e viviam no campo. Não era difícil enganá-los. Pouco mais de dez anos após o início do estudo, descobriu-se que penicilina, o primeiro antibiótico, tratava e curava sífilis. O remédio nunca foi oferecido a nenhum deles. O trabalho de pessoas como Buxton — localizar cedo os casos, tratar e evitar que a doença se espalhasse — nunca foi feito. Não se sabe quantas pessoas terminaram doentes por conta daquelas vítimas.

O Experimento de Tuskegee é hoje um dos mais notórios casos de estudos científicos antiéticos conduzidos na história recente. Foi aberta uma comissão parlamentar de inquérito em princípios dos anos 1970, presidida por Ted Kennedy, irmão caçula do presidente assassinado. Os detalhes, a crueldade, chocaram o país. Ainda hoje, muitos homens na comunidade afro-americana atribuem a esta história seu receio de seguir recomendações de saúde por parte do governo. Incluindo a de tomar vacina para Covid.

O trauma dentro da comunidade, principalmente no Sul americano, ficou.

O código de ética para conduta de testes científicos com seres humanos data de 1947 e se chama Código de Nuremberg. O nome não surgiu à toa. É um dos frutos do julgamento dos crimes nazistas que foi realizado na cidade de Nuremberg, Alemanha. São regras simples e intuitivas.

1. Toda pessoa que participa de um experimento deve se voluntariar e estar plenamente ciente de tudo que os cientistas sabem. Sobre cada risco, todas as consequências possíveis. Tem de estar livre de qualquer pressão e ser plenamente capaz de tomar decisões.

2. Os experimentos devem ter por objetivo o bem da sociedade em geral.

3. Antes do uso de pessoas é preciso que as experiências já tenham ocorrido em animais.

4. Os cientistas devem desenhar o experimento de tal forma que evite ao máximo sofrimento.

5. Nenhum experimento pode ocorrer se há motivos para acreditar que morte ou dano grave pode vir em decorrência.

6. O grau de risco nunca pode exceder o benefício potencial do estudo.

7. Todo apoio médico deve ser oferecido aos voluntários.

8. É exigência que os médicos e cientistas envolvidos no estudo tenham ampla qualificação acadêmica.

9. Os voluntários têm de poder deixar o estudo no momento em que desejarem sem abrir mão dos cuidados que precisem.

10. Os cientistas devem cancelar o experimento no momento em que desconfiarem que pode levar a dano permanente ou morte.

Em Auschwitz, talvez o pior dos campos de extermínio nazistas, o médico alemão Josef Mengele conduziu toda sorte de experimentos com pessoas. Judeus, ciganos, presos políticos. Uma de suas obsessões era com irmãos gêmeos. Mengele injetou doenças na circulação sanguínea, fez amputações desnecessárias, testou métodos de matar. O gêmeo era usado para o controle, para comparar a evolução. Outra obsessão era descobrir métodos mais eficientes para garantir a proliferação da ‘raça ariana’. Para compreender melhor reprodução, mais de uma adolescente foi estuprada para estudo da gravidez.

Mengele não foi o único. A partir de 1935, o médico japonês Shiro Ishii assumiu o comando da Unidade 731 do Exército Imperial com a missão de desenvolver armas químicas e biológicas. Fez de pessoas de origem chinesa suas cobaias — provocou gangrenas para aprender como evitar amputações, infectou gente com peste bubônica, atuou em vivissecções. Dissecar com a pessoa viva. Nunca foi julgado. Em troca de uma detalhada descrição dos crimes japoneses e de seus estudos, a União Soviética fez um acordo que garantiu sua liberdade.

Nem sempre racismo é envolvido na escolha de quem será submetido a tratamento antiético. Na União Soviética, as vítimas do bioquímico Grigory Mairanovsky eram prisioneiros políticos e seu objetivo era criar venenos sem odor, sem gosto, de preferência invisíveis. Os resultados de suas descobertas tornaram a KGB, serviço secreto soviético, famosa pelos assassinatos que cometia. Ainda hoje, no governo Putin, morte por envenenamento de dissidentes, mesmo que em outros países, é comum.

Charles Darwin, o homem que descobriu o processo de Evolução Natural das Espécies, já se preocupava com ética na condução de experimentos científicos em seres humanos, um tema recorrente. Não se trata, portanto, de uma ética da qual não se tinha consciência, que foi lentamente desenvolvida. O Código de Nuremberg, hoje, é questionado por conta de ser leniente com o trato de animais. Mas segue de pé.

Ainda é preciso esperar detalhes sobre o que ocorreu em bem mais do que um hospital, aqui no Brasil, envolvendo o tratamento de pessoas com Covid e usando remédios como cloroquina e ivermectina. Se as pessoas receberam o ‘kit covid’ para que a evolução de seus casos fosse acompanhada como num estudo sem terem sido informadas de outros pesquisas que mostram claramente a inutilidade das drogas, o Código pode ter sido violado.

Rita Lee e censura moral na ditadura militar

Com mais de 50 anos de carreira, Rita Lee coleciona prêmios, hits e milhões de álbuns vendidos, mas também outro recorde inusitado: foi a compositora mais censurada durante o período da ditadura militar no Brasil que se estendeu de 1964 a 1985. Embora Chico Buarque e Caetano Veloso, com suas músicas de protesto, tenham sido perseguidos durante o regime, a rainha do rock brasileiro carrega o título, que já inspirou até livro. “Ditadura e censura nas canções de Rita Lee” (Editora Appris), escrito por Norma Lima, mergulhou nos arquivos dos órgãos de repressão para concluir, por fim, que a preocupação com a “moral e os bons costumes” era tão grande quanto com a “oposição política” característica nas músicas de Caetano e Chico. A canção de 1977 “De Leve”, versão de Rita e Gilberto Gil para “Get Back” dos Beatles, é um exemplo da repressão no período. A canção original solicitava aos dois personagens (Jo Jo, que abandonara a sua cidade natal à procura de maconha e Loretta Martin, que pensava ser mulher, mas que na verdade era homem) que retornassem à sua terra. A versão brasileira cantada por Gil e Rita sugeria que se pegasse “de leve” com a história deles, sem preconceito. Um letra à tolerância aos comportamentos sexuais e de gênero não-normativos. No livro "favoRita'', biografia lançada em 2018 (Globo Livros), a cantora conta em detalhes sobre sua fase mais “proibidona”. Em entrevista ao 'O Estado de S. Paulo', Rita fala sobre suas composições ao longo das décadas. “Nunca pensei que o que fiz durante 50 anos fosse o que se chama feminismo: eu ligava o foda-se e entrava decidida no mundinho considerado masculino, cantando sobre o que me desse na telha; de menstruação a menopausa, de trepada a orgasmo. Fora o resto.” Outra entre várias músicas censuradas na época da ditadura militar foi “Banho de Espuma”. Originalmente, a canção se chamaria “Afrodite”. Com as edições feitas para ser liberada pelos censores, a canção ganhou o novo título e saiu no álbum “Saúde”, de 1981. 

Como era a letra de “Afrodite”:

“Que tal nós dois

Numa banheira de espuma

El cuerpo caliente

Num dolce far niente

Sem culpa nenhuma

Fazendo massagem

Relaxando a tensão

Em plena vagabundagem

Em qualquer posição

Falando muita bobagem

Bulinando com água e sabão”

Como ficou a nova versão, “Banho de Espuma”:

“Que tal nós dois

Numa banheira de espuma

El cuerpo caliente

Num dolce far niente

Sem culpa nenhuma

Fazendo massagem

Relaxando a tensão

Em plena vagabundagem

Com toda disposição

Falando muita bobagem

Esfregando com água e sabão”

Além da censura nas letras, Rita Lee também chegou a ser presa em 1976. Ela foi condenada a um ano de prisão domiciliar por porte e uso de maconha, mas passou 15 dias detida e foi solta graças aos esforços de ninguém menos que Elis Regina, que “fez um barraco” na delegacia ao visitá-la. Lançada neste mês “Exposição Samsung Rock - Rita Lee”, em cartaz no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, mostra fotos, poemas e até a letra de uma música nunca gravada que relembra a vida da cantora ao lado do músico Roberto de Carvalho. Ainda na mesma entrevista dada ao jornal ‘O Estado de S. Paulo’, a camaleoa justifica a disparidade entre a censura moral e a política em suas músicas. “Acredito que os “home” da censura me viam como uma Maria Madalena que gostariam de apedrejar.”

Ouça “Banho de Espuma”, de 1981. (YouTube)

E “De Leve”, do álbum “Refestança” com Gilberto Gil, de 1977. (YouTube)

James e eu

A carteirinha escolar era visivelmente falsificada para elevar aos 14 anos aquele garoto que mal completara 11. Porém, talvez pelo garoto em questão já ter mais de 1,70m e estar com a roupa mais “descolada” que conseguiu arranjar ou talvez porque o porteiro do antigo Cine Tijuca estivesse num bom dia, tive a entrada liberara e fui formalmente apresentado a James Bond em 007 – O Espião Que Me Amava (trailer no YouTube), em 1977.

Na verdade, eu vira Goldfinger (YouTube) na TV anos antes, mas era criança demais para apreciar e sequer compreender o infame nome da vilã/heroína Pussy Galore. Além disso, filmes de James Bond exigem até hoje a telona de um cinema. Portanto, conheci de fato o agente com licença para matar através da versão mais leve de Roger Moore (1927-2017). Não sabia, mas era o primeiro filme sem relação com os livros de Ian Flemming (1908-1964), embora pegasse emprestado o título de um deles.

Era tudo superlativo. A fortaleza submarina do vilão Stromberg. O inacreditável assassino Jaws com dentes de aço afiados que acrescentavam mais imponência aos 2,18m do ator Richard Kiel (1939-2014). O gadgets, incluindo o carro que virava submarino. E claro Barbara Bach – quando se tem 14, ok, ok, 11 anos, a gente confunde beleza com talento. James Bond havia ganhado um fã, fato consumado.

E eis que ontem eu vi mais um ator, Daniel Craig, se despedir do personagem em 007 – Tarde Demais Para Morrer (YouTube) e fiquei pensando nessa relação de quase 45 anos, somada aos filmes anteriores da franquia e aos livros de Flemming, que devorei. Como Bond mudou... E como ele refletiu a mudança no “ser homem” sem perder a característica de macho-alfa e mais uma meia dúzia de letras gregas. Sem falar nas mudanças no mundo a sua volta refletidas nos filmes.

Primeiro temos que entender de quais Bonds estamos falando. O personagem que Flemming, ele próprio um burocrata do Serviço Secreto britânico, concebeu era um homem de gostos sofisticados, um ar cínico e “sorriso ligeiramente cruel”. Numa entrevista pouco antes de morrer, o autor disse que não saberia classificar seu personagem como um homem bom ou mau. “Suas únicas qualidades explícitas são a coragem e o patriotismo, que talvez nem sejam exatamente qualidades”, completou.

E, claro, seu inimigo era o comunismo. Mais precisamente a Smersh, uma agência soviética de espionagem. Cassino Royale, livro que apresentou o personagem ao mundo em 1953, girava em torno de uma partida de bacará em que Bond deveria falir um agente da URSS – tinha tão pouca ação que só foi levado às telas oficialmente mais de meio século depois.

Flemming morreu em 1964, era um inglês branco da primeira metade do século 20 e trazia consigo todo o pacote padrão de preconceitos: racismo, misoginia, homofobia etc. Todos em alguma medida transmitidos a seu personagem.

Bond ganhou rosto em 1962 com 007 Contra o Satânico Dr. No (YouTube). O rosto, o porte e a peruca do fisiculturista escocês Sean Connery (1930-2020). Não era o James Bond dos livros. Para começar, os produtores trocaram a Smersh soviética pela Spectre, uma organização terrorista internacional cheia de russos, chineses e antigos nazistas. Sutil, muito sutil. A Guerra Fria estava quentíssima, mas não havia necessidade de tanta provocação.

Connery fez um Bond menos polido que a criação de Flemming. As coisas eram resolvidas com tiros, socos e, depois, os famosos gadgets do armeiro Q. Sua relação com as mulheres tinha sempre um quê de agressividade, bem mais de um quê se elas fossem vilãs. E não raro acabavam morrendo em algum momento após um sexo nem sempre consensual. Transa e sobrevivência eram prerrogativa da “Bond Girl” oficial, tradição iniciada com a lindíssima Ursula Andress. E sempre havia o jogo sexual nunca resolvido com Moneypenny, secretária do chefe M.

O Bond de Connery hoje é apontado como um predador sexual ou em última análise um estuprador. E é verdade. Como é verdade que eram comportamentos normalizados na época. Sexo era dominação. Não havia um #MeToo em 1962.

Por sorte “entrei” na franquia via Roger Moore, o Bond dos anos 1970, da détente na Guerra Fria, da pós-revolução sexual. Seu primeiro filme, Com 007 Viva e Deixe Morrer (YouTube), de 1973, revitalizou a franquia com alguma dose de humor, apesar da trama inacreditavelmente racista. Todo os vilões eram negros, reflexo do racismo de Flemming, em cujo livro o longa foi inspirado.

A relação com as mulheres mudou um pouco para melhor. Sexo nos anos 70 não era mais o mesmo tabu. O Bond de Moore era mais para “já que estamos aqui mesmo...” do que “beije-me e eu paro de torcer seu braço”. Mesmo suas abordagens menos éticas tinham um tom de galhofa, como a antológica sedução de Solitaire (YouTube) em Viva e Deixe Morrer. Try a little tenderness.

Politicamente, O Espião Que Me Amava foi ousado, com Bond se unindo a uma agente soviética contra uma ameaça a Nova York e Moscou. Era 1977, o democrata Jimmy Carter estava na Casa Branca, e as relações do “Mundo Livre” com a União Soviética eram ao menos cordiais. Também marcou uma mudança que levou anos para ser consolidada. A major Anya Amasova de Barbara Bach não era uma mocinha a ser salva. Era uma agente tão mortífera quanto 007. Foi, devemos reconhecer hoje, a primeira Bond Woman.

Só que o Bond de Moore começou a envelhecer mal. Tentou surfar na onda da ficção científica em 007 Contra o Foguete da Morte (YouTube), de 1979, que subverteu a geografia brasileira – do Rio Amazonas às Cataratas do Iguaçu no mesmo barco. Os exageros nas engenhocas e as perseguições fisicamente impossíveis provocavam gargalhadas. As Bond Women aos poucos voltaram a ser Bond Girls. O último filme com Moore, 007 Na Mira dos Assassinos (YouTube), de 1985, tem a pior crítica agregada de toda a franquia – a ponto de só a canção tema, a cargo do Duran Duran (YouTube) ser lembrada. Era hora de passar o bastão.

Reconheça-se, Timothy Dalton, sucessor de Moore, deu azar. Para começar, não era o preferido dos produtores, que queriam o irlandês Pierce Brosnan (a gente já volta a falar dele). Para se diferenciar de Connery e Moore, foi buscar inspiração nos livros de Flemming, mas já estávamos em 1987. O Bond de 1953 era um fóssil, embora Ronald Reagan tivesse reavivado a Guerra Fria e estivesse em vias de levar à União Soviética ao colapso.

Na cama, Bond já não era nem predador nem pegador. Eram tempos de Aids, e 007 teria de ser um homem de uma mulher só. Sua atuação em 007 - Marcado para a Morte (YouTube) foi elogiada, e o filme conseguiu uma boa bilheteria inicial, mas ele já não era o paradigma de herói de ação. Lançado dois anos depois, 007 - Permissão para Matar (YouTube) marcou o fim da Era Dalton e apontou, na opinião de muitos, também o fim da franquia.

Só que não. Ok, não havia mais espaço para o homem que 007 fora desde 1953 (ou 1962), e o mundo era outro, sem a União Soviética. Mas por que não fazer disso o mote? Pierce Brosnan, falávamos dele, estrelou em 1995 007 Contra Goldeneye (YouTube) como um Bond chefiado por uma mulher com M maiúsculo (desculpem o trocadilho), vivida pela gigante Judi Dench, que joga na cara dele tudo o que se dizia contra o personagem. Enfrenta ameaças que não compreende totalmente num mundo mudado, fantasmas do passado e uma assassina que mata com as coxas – sério. 007 estava de volta aos negócios.

Foram quatro filmes com personagens femininas fortes – Halle Berry e Rosamund Pike mereciam um filme só para elas –, boas tramas, engenhocas para variar, mas também chegou a hora, em 2002, de Brosnan parar e de a franquia se repensar novamente.

Para muitos fãs, inclusive este que vos digita, Daniel Craig foi um choque. James Blonde? 007 com cara de agente da KGB? Até que Casino Royalle (YouTube) estreou em 2006 se revelando uma tentativa de reboot da franquia. Víamos como Bond se tornava 007 e recebia sua primeira missão, justamente o jogo de pôquer (bacará saiu de moda) com Le Chiffre, brilhantemente interpretado por Mads Mikkelsen, e com Eva Green jogando as Bond Women para outro patamar. Ironicamente, o que estragava a magia era Judi Dench continuar como M. Nós a tínhamos visto assumir o cargo com outro Bond.

Craig trouxe Bond para o século 21, para bem e para mal. A sofisticação que Flemming imaginou no passado por lá ficou. Tudo era resolvido na pancadaria e no tiroteio. Mas o antigo objetificador de mulher agora também podia ser objeto. Bond saindo do mar de sunga foi uma notável homenagem às cenas antológicas das citadas Ursula Andress e Halle Berry. E esse Bond brucutu se apaixonava e sofria abertamente por essa paixão.

Ao contrário das anteriores, a Era Craig se revelou um arco, introduziu um novo M (Ralph Fiennes), uma nova Moneypenny (a linda Naomie Harris), um Q nerd (Ben Whishaw) e até resgatou o clássico vilão Ernst Stavro Blofeld (Christoph Waltz). Falou de temores do mundo moderno, como o controle cibernético, o terrorismo etc. Mas a grande revelação foi Bond, que aliás resgatou a partir do excelente Skyfall (YouTube), de 2012, parte de elementos do passado.

Olhando em retrospecto, o 007 brucutu de Craig é o James Bond mais sensível. Tem um passado nas costas, sofre por quem perdeu, ama de novo e, no fim das contas, quer ser feliz – entre um tiroteio e outro e um vodca-martini batido, não mexido. Talvez aquele garoto de 11 anos não o entendesse, mas ainda bem que a gente amadurece.

Obs: Não, eu não esqueci George Lazenby, mas é melhor deixar para lá.

Obs 2: Se puder, assista à versão cômica de Cassino Royalle (YouTube) de 1967, com David Niven, Peter Sellers, Woody Allen etc. Nem preciso explicar o motivo.

Obs 3: Não vou traduzir Pussy Galore, este é um Meio de família.

E esta semana, os mais clicados foram:

1. Poder 360: Memes comparam Luciano Hang com o Louro José.

2. Youtube: Change – a nova música de Rita Lee e Roberto de Carvalho, como DJ Gui Boratto.

3. Globo: 1.000 dias de mandato em 100 crises, um infográfico.

4. Piauí: O mantra do negacionismo namastê.

5. Olhar Digital: Meme de Chloe é vendido por quase R$ 400 mil.

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‘Mapa de apoios está desfavorável ao Irã e sua visão de futuro’, diz Abbas Milani

17/04/24 • 11:00

O professor Abbas Milani nasceu no Irã. Foi preso pelo regime do xá Reza Pahlavi. Depois, perseguido pelo regime islâmico do aiatolá Khomeini. Buscou abrigo nos Estados Unidos na década de 1980, de onde nunca deixou de lutar por uma democracia em seu país de origem. Chegou a prestar consultoria a George W. Bush e Barack Obama, numa louvável disposição de colaboração bipartidária. Seu conselho sempre foi o mesmo: o Irã deve se reencontrar com um regime democrático, secular, por sua própria conta. Sem interferências externas.

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