Edição de Sábado: Após a Pandemia

A pandemia vai passar. Houve diversas ao longo da História, e elas passaram, fosse por melhores condições de saúde e higiene, pelo desenvolvimento de vacinas e remédios ou por ações de contenção. Mas o fim da pandemia significa que vamos nos livrar da covid-19 e de seu causador, o vírus sars-cov-2? Muito provavelmente não, na opinião de Carlos Machado, coordenador do Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Para o especialista, a probabilidade de o vírus continuar circulando mesmo após o fim da pandemia é muito alta, entre outros motivos, porque as vacinas – ainda a mais importante e eficaz ferramenta contra a doença – não o eliminam nem impedem completamente sua transmissão. “O que as vacinas fazem, e isso é muito importante, é reduzir de forma acentuada os sintomas mais graves e os óbitos pela doença, embora eles eventualmente possam ocorrer”, diz Machado. “Por isso, e porque a eficácia delas diminui, estamos tomando a terceira dose e provavelmente vamos tomar uma quarta e outras.”

Erradicadas, não; ‘submersas’

Embora seja comum falarmos de “doenças erradicadas”, o termo não é correto. Mesmo a peste bubônica, a Peste que matou milhões na Idade Média, continua circulando, só que hoje é tratável com antibióticos comuns. Entre 2002 e 2003, oito mil pessoas em 12 países foram infectadas pelo sars-cov, e 800 morreram de síndrome respiratória aguda grave (SARS, na sigla em inglês), a doença que ele provocava. Uma ação rápida de governos conteve a pandemia, considerada encerrada pela OMS em julho de 2003, e desde então não foram registrados casos em humanos. O vírus desapareceu? Não necessariamente. “Não temos como saber se um vírus está em algum hospedeiro e pode reemergir no futuro. Por isso falamos em ‘doenças emergentes’, como a covid-19, e ‘doenças reemergentes’, que reaparecem após algum tempo”, explica o pesquisador da Fiocruz.

Por enquanto, ainda estamos lidando com uma pandemia, com a Europa enfrentando uma quarta onda, provocada, em grande parte por pessoas que recusam a vacina. Nesta sexta-feira, a Áustria decretou um novo lockdown e se tornou o primeiro país europeu a declarar obrigatória a vacinação. O governo austríaco já havia determinado o confinamento de não vacinados, o que motivou uma corrida aos postos de imunização. Um detalhe, com 65,7% da população completamente vacinada, a Áustria está longe de ter o pior cenário no continente. A Bósnia, por exemplo, tem cobertura vacinal de apenas 21,83%. Até a Rússia, que chegou a usar sua vacina Sputnik V como ferramenta diplomática, patina com 36,37% de seus 144 milhões de habitantes totalmente imunizados.

Natureza mutante

A falta de cobertura vacinal globalmente ampla, aliada à capacidade maior de transmissão da variante delta do sars-cov-2, aumenta a incerteza quando ao cenário pós-pandemia, uma vez que alimenta uma característica do vírus: sua natureza mutante. “Vírus estão mudando o tempo todo, mas a maioria dessas mutações não tem qualquer consequência. O problema são as que chamamos de ‘mutações preocupantes’, que o tornam mais letal, mais resistente ou mais transmissível”, explica Carlos Machado. Quanto mais tempo um vírus circula por uma grande população, maior a probabilidade de sofrer uma mutação preocupante, e acabarmos isolados de novo.

Para evitar isso, é necessário – além de vacinar, vacinar e vacinar – ter cuidado na volta à vida cotidiana. Embora reconheça que é importante retomar atividades econômicas e aulas, o coordenador do Observatório Covid-19 acha precipitado, por exemplo, deixar de exigir o uso de máscaras em ambientes fechados, como academias. E considera que a população compreende isso.

“Eu dava uma entrevista para uma rádio de Brasília, e foi feita uma enquete ao vivo com os ouvintes, perguntando se eles continuariam a usar máscaras mesmo com a liberação. Cerca de 80% responderam que sim”, conta Machado. “A maioria das pessoas entendeu a necessidade das máscaras durante o colapso da saúde em março e abril, que não atingiu só o Amazonas.”

O Brasil, diz ele, teve uma grande vantagem sobre outros países por contar com um sistema nacional de saúde pública, o SUS, que tem uma sólida experiência em campanhas de vacinação. “Tão logo as vacinas chegaram, esse sistema público nacional foi acionado e correspondeu. O resultado é o que estamos vendo na redução acentuada do número de casos e óbitos, mas não podemos baixar a guarda.”

Inverno mascarado

A guarda levantada e a ampliação constante da cobertura vacinal no mundo são o que, no fim das contas, vai nos levar até a hipotética situação de uma covid-19 endêmica. Novas vacinas podem suprimir ainda mais o vírus, e medicamentos ora já em testes avançados vão finalmente fornecer um tratamento eficaz para aqueles que eventualmente desenvolverem a doença.

Como e quando será esse cenário? Para Carlos Machado, ao longo do ano que vem certamente o vírus vai continuar circulando de forma mais intensa, especialmente pela baixa cobertura vacinal em uma série de países e regiões. “Com a doença se tornando endêmica, é possível que tenhamos surtos recorrentes, especialmente no inverno, como temos hoje com Síndromes Respiratórias Agudas Graves, gripes”, estima. Nesse caso, a vacinação será necessária e a atenção a grupos mais vulneráveis, como idosos, deverá ser redobrada, além da eventual volta de um acessório que está marcando nosso tempo. “Talvez nos invernos futuros as pessoas tenham que voltar a usar máscaras”, conclui o especialista.

Após a pandemia

Não há estudo ou pesquisa que considere que tudo será igual a antes quando a pandemia enfim passar. É que a Covid não tomou o mundo sem impor um custo: médicos, recursos humanos de empresas, seguros de saúde, seja lá onde pessoas são ouvidas, um padrão ficou claro. As queixas de problemas com saúde mental ficaram mais frequentes. É fruto do isolamento social, da falta de ver gente, mas também da dificuldade de gerenciar os tempos e os espaços. Onde começa o trabalho, quando é tempo pessoal, o quanto se dedicar à família? O estresse do cotidiano, o almoço que tem de ser feito, os filhos quando precisam de ajuda, e a reunião pelo Zoom que é às 13h. Não há mais a conversa do cafezinho, e ela faz falta. Ainda assim, é inevitável. Gente demais experimentou um jeito diferente de trabalhar. Gente demais vai querer manter.

Está nos números: 73% das pessoas ouvidas pelo Ipsos em julho, nos Estados Unidos, disseram esperar mais flexibilidade quando voltarem aos escritórios. O número bate com o de um estudo em todo o mundo muito similar da Korn Ferry, uma consultoria: 70% dos profissionais afirmaram que retornar ao escritório seria difícil. Metade dizem que recusariam um emprego que exigisse trabalho full-time na firma. Afinal, muito do peso do home office tem mais a ver com as limitações impostas pela pandemia do que com o conceito.

Mas como funcionaria um sistema híbrido?

Dentro do Google, um time de arquitetos vem montando espaços de trabalho que tentam responder a esta pergunta. As fileiras de baias desaparecem, a ideia de assentos fixos para funcionários se vai. Em seu lugar foram criados ambientes que facilitam o encontro. Um ganhou a forma de sofá em semicírculo com espaço para pessoas e telas. No centro, uma câmera 360o. Por este arranjo, a câmera consegue capturar o rosto de cada um que esteja presente fisicamente. Quem está em casa vê como se fosse um Meet, um Zoom. Os quadradinhos, cada qual com uma face. Quem está no escritório vê as telas posicionadas no sofá, em cada tela também um rosto em escala humana, como se estivessem ali.

Na Microsoft, há experimentos semelhantes. As imagens de quem está em casa são projetadas na parede mas os típicos quadradinhos se vão, os rostos são recortados também em escala humana e colocados no nível do olhar. É para trazer proximidade.

Para ser viável a longo prazo, o trabalho híbrido exigirá escritórios adaptados. Mas a preocupação não passa apenas pelo desejo de ficar em casa alguns dias por semana. Porque há alguns problemas pela frente que terão de ser encarados. Um é o da sustentabilidade. Usar menos combustível fóssil no transporte urbano. Outro é o da automação que vai matar empregos. Um terceiro é o do burnout, o da saúde mental.

No final de 2019, a Microsoft do Japão anunciou os resultados de um experimento feito ao longo de agosto em seus escritórios. Concedeu, a todos os funcionários, cinco sextas-feiras livres em sequência. O resultado: a produtividade aumentou em 40%, o consumo de papel caiu quase 60% e, a conta de luz, diminuiu 23%. A Unilever pretende fazer o mesmo experimento, ao longo do próximo ano, em seus escritórios da Nova Zelândia. Tanto o governo japonês quanto o espanhol começaram a incentivar empresas a testar este modelo. Um estudo da consultoria Autonomy, no Reino Unido, propõe que o funcionalismo do país passe a um regime de quatro dias úteis mantendo o atendimento público de cinco dias. Neste caso, seria preciso contratar gente. Isto geraria algo como meio milhão mais de empregos a um custo que equivale a 1% do orçamento do governo. Os ganhos na economia com o aumento de empregos compensariam o gasto.

A ideia de uma semana útil de quatro dias parece agressiva, ousada. Mas ela corta emissões ao economizar energia e combustível. Aumenta o número de pessoas empregadas quando emprego deve diminuir. Simultaneamente, é uma vantagem competitiva para empresas que buscam no mercado funcionários cujos talentos são muito disputados. E abre espaço para que todo mundo respire um pouco mais. Se o burnout é a doença da década, o dia livre a mais é a uma cura.

Quando a pandemia passar, haverá empresas que forçarão todos seus funcionários a voltar. Haverá as que adotam o regime híbrido. Umas tantas vão para o home office. O tempo de trabalho será gerenciado de todas as formas. Entraremos num período de experimentação aguda. E isto terminará por impactar as cidades ao longo das próximas décadas.

Hoje, cidades são organizadas pela lógica do escritório. Há um centro onde se concentra o trabalho, e por ali além de prédios comerciais muitos serviços — restaurantes, estacionamentos, o barbeiro, a livraria. É um espaço vivo de dia, morto de noite. Os bairros mais próximos do centro são os ricos. Afinal, demora menos para chegar ao trabalho. Os mais distantes, periféricos, são os bairros mais pobres.

Quando trabalho virtual se estabelece e ganha força, a lógica tende a mudar. Mais longe do centro é mais barato viver, há mais espaço, lugar para casas mais amplas. A descentralização das cidades promove também o repensar da própria ideia de home office: não precisa ser a mesa da sala de jantar ou o quartinho minúsculo não usado. Coworkings de bairro, escritórios partilhados por muitas empresas, permitem que saiamos de casa, tenhamos um espaço com todas as necessidades para o trabalho, convívio com pessoas diferentes, tudo a um quarteirão de distância.

Este movimento exigirá repensar as necessidades de infraestrutura para além do espaço urbano. Quanto mais ampla for a cobertura de 5G, de internet rápida em um país, maior será a área economicamente viável para negócios do século 21. O projeto do governo Joe Biden apelidado de Green New Deal promove justamente isso: pavimentação de rodovias para garantir acesso a qualquer cantos dos EUA, eletrificação generalizada para garantir que veículos elétricos possam ser carregados não importa onde, e internet rápida em qualquer lugar.

Com este tipo de infraestrutura o trabalho vai para qualquer lugar e o custo de viver cai. Mas isto exige que governos compreendam sua missão para a década de 2020. Garantir este tipo de infraestrutura, que permitirá sobreviver ao baque da missão tripla. O do corte de emissões de carbono, o da perda de empregos pela automação digital e o de uma nova pandemia. Do burnout.

Como a pandemia impactou na condição dos negros no mercado de trabalho

Além da crise sanitária, a pandemia de coronavírus trouxe impactos para o emprego, mercado de trabalho, consumo e geração de renda, principalmente para a população negra. Uma pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) demonstrou que a maioria das pessoas que saíram da força de trabalho na pandemia eram negras. Entre o 1º e o 2º trimestre de 2020, cerca de 6,4 milhões de homens e mulheres negras perderam seus empregos ou deixaram de procurar trabalho devido à falta de perspectiva, enquanto as pessoas brancas na mesma situação somavam cerca de 2,4 milhões. Na comparação entre o 4º trimestre de 2019 e o segundo trimestre de 2020, a desigualdade ficou ainda maior. O número de negros desempregados subiu para 7,4 milhões, enquanto o número de brancos na mesma situação chegou a 2,7 milhões.

Embora alguns estudos sobre o tema mostrem que as empresas estão engajadas em ações de diversidade durante a crise, outros apontam que a inclusão de pessoas negras no mercado de trabalho ainda é um desafio. A pesquisa Future of Inclusion, da empresa de tecnologia Intel, realizada com 3 mil executivos em 17 países, incluindo o Brasil, aponta bons resultados, por exemplo. Para 63% dos executivos que lideram empresas acima de 100 funcionários, a pandemia teve impacto positivo para avanços de políticas de diversidade, equidade e inclusão.

Já a edição deste ano do Índice de Equidade Racial Empresarial (IERE 2021) mostra que, entre as 65 empresas participantes do levantamento, a média de presença de profissionais pretos e pardos no quadro de colaboradores é de apenas 29,6%. O problema ainda é maior em cargos mais altos na hierarquia. Em posições de gerência e supervisão, os negros representam apenas 15,8%, e em conselhos de administração, 4,1%. Além disso, outra pesquisa realizada pela plataforma de empregos Indeed, em parceria com o Instituto Guetto, mostra que 47,8% dos profissionais negros não têm a sensação de pertencimento nas empresas em que trabalham. Essa realidade reflete sequelas claras dos mais de 300 anos de escravidão, causando um sentimento de não pertencimento por parte da população negra, não só no ambiente de trabalho, mas na sociedade de forma geral.

Um levantamento feito pelo Ipea com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) mostrou que em três décadas o Brasil avançou pouco na desigualdade racial de renda. O estudo aponta que a renda média dos brancos permanece ao menos duas vezes maior do que a dos negros, pois a população negra normalmente está desempregada ou em subempregos. Esse era o caso de Patrick de Melo, de 24 anos, morador da Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Entre abril e setembro, ele trabalhou de como autônomo, enfrentando a instabilidade profissional e dificuldades financeiras, até conseguir um emprego formal. "Fiz alguns processos seletivos e houve demora até a empresa finalmente chamar para uma entrevista”, afirma o auxiliar de serviços gerais, que atualmente trabalha em uma rede de restaurantes. Hoje, Patrick faz parte de um grupo seleto de pessoas negras, pois, segundo uma pesquisa do IBGE, lançada no auge da pandemia, a taxa de desemprego entre negros é 71% maior do que entre brancos.

Eloisa Chaves, analista de inclusão e diversidade e fundadora do Chave da Inclusão, lembra que empresas como Nubank e Magazine Luiza lançaram esforços na criação de programas de contratação exclusivos para profissionais negros durante a pandemia. “A questão da desigualdade socioeconômica e os níveis de escolaridade de pessoas negras ainda têm muito impacto na empregabilidade. Além disso, o viés inconsciente nas organizações, que é aquele preconceito ainda não identificado, também dificulta a contratação desses profissionais”, explica Eloisa. “Mas muitas empresas têm se posicionado e criado vagas afirmativas para empregar mais pessoas negras. Esse é o primeiro movimento para que as companhias comecem a pensar e a recrutar rapidamente.”

Eloisa também reconhece que os novos formatos de interação online durante a pandemia aproximaram as pessoas do tema e ampliaram o alcance da discussão, facilitando também as ações de diversidade promovidas por empresas, como os comitês internos, palestras e outras iniciativas. “No trabalho presencial, por exemplo, era mais difícil alcançar o colaborador para falar sobre diversidade dentro da empresa. Hoje, ele consegue assistir às lives, por exemplo, e participar remotamente.” Foi pensando nisso que ela criou, durante a pandemia, o Chave da Inclusão, um projeto de consultoria e conteúdo online sobre diversidade, equidade e inclusão. “Tenho identificado o quanto as pessoas ainda estão carentes de informação, fontes e dados que comprovem que a diversidade e a inclusão são importantes no dia a dia de todo mundo. Não são apenas as empresas que devem ser cobradas, mas as pessoas também. Todos têm uma responsabilidade.”

Por Micaela Santos e Tay Oliveira

Energia nuclear: fonte limpa ou risco?

Fontes de energia que não emitam gases do efeito estufa estão na ordem do dia, mas uma delas ainda é tratada como tabu: a energia nuclear. Diversos países têm nesse tipo de geração a base da sua matriz energética. A França, por exemplo, produz 75% da sua eletricidade a partir do urânio, e insiste que essa é uma energia limpa. Já a Alemanha pretende desligar seus últimos reatores no fim deste ano, mas pode mudar de ideia.

Além do lixo radiativo, que precisa ser corretamente armazenado, as usinas nucleares carregam o estigma de três acidentes, dos quais apenas um teve de fato proporções de tragédia: a explosão de um dos reatores da usina soviética de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986. O acidente em si foi provocado por desrespeito a protocolos de segurança, mas o desastroso gerenciamento por Moscou o transformou em catástrofe. Passaram-se 36 horas antes que a população fosse evacuada. Até hoje é impossível estimar o número de vítimas da radiação.

O primeiro susto com as usinas nucleares acontecera em 1979, na usina de Three Mile Island, no estado americano da Pensilvânia. Um defeito numa válvula fez escapar água de resfriamento contaminada, provocando superaquecimento do reator, agravado por uma falha humana. No fim, nenhuma radiação escapou, mas o incidente provocou pânico na população local e temor no resto do mundo. Inspirado no incidente, o filme Síndrome da China alimentou a desconfiança na energia nuclear.

Por fim, em 2011, a culpa foi da própria natureza, um terremoto seguido de um tsunami atingiu a região de Fukushima, no Japão, onde havia uma usina nuclear. Os reatores resistiram abalo sísmico, mas não ao tsunami. A diferença em relação a Chernobyl foi o respeito estrito aos protocolos, além de tecnologias mais modernas para lidar com a emergência. Mais de 100 mil pessoas foram evacuadas devido à sequência de desastres, mas o acidente nuclear em si não fez vítimas. Dez anos depois, o trabalho de limpeza ainda não foi concluído, e as comunidades próximas lutam para retomar a vida.

Entretanto, foram três incidentes em décadas de uso dessa energia. Hoje há mais de 400 usinas funcionando em todo o mundo, e seu impacto ambiental é muito menor que o de termelétricas ou mesmo hidrelétricas. Por que, então, as usinas nucleares raramente entram de forma positiva no debate da energia limpa? É o que nos responde Marcio Paixão, doutor em Tecnologias Energéticas e Nucleares pela UFPE.

Por que usinas nucleares são consideradas perigosas?

A maior preocupação é sempre com catástrofes naturais. E aqui no Brasil a gente não tem essa preocupação. No Japão estão repensando essa matriz devido aos terremotos e prevendo os acidentes. Já a França não tem muitas opções de geração de eletricidade, então usa bastante a energia nuclear. Hoje, no Brasil, a gente recorre muito às usinas termelétricas durante crises hídricas, mas elas são muito perigosas e poluidoras. São processos de absurda segurança em tudo. E mesmo desligadas, essas termelétricas têm custos. Com a geração de energia, tem-se um valor extra. Mas mesmo sem geração - tem um custo orçamentário fixo.

Uma usina nuclear não depende de sol, vento, nada. Está sempre produzindo. E o Brasil consegue enriquecer urânio e ter esse combustível. Aqui seria viável, já que não sofremos com desastres naturais e teríamos mais uma matriz. Assim, não dependemos só de fontes hídricas. Diversificando, conseguimos driblar a crise energética.

Qual a comparação de área e custo de fontes renováveis e não renováveis?

A energia nuclear é mais barata a longo prazo. Tem um custo inicial e um custo de manutenção, mas muita energia gerada. Claro, não se gasta com vento, mas a quantidade de energia produzida ali é menor. Com a nuclear, você tem um espaço menor e um custo menor de produção.

As usinas Angra 1 e 2 estão tecnologicamente defasadas? Qual a relevância delas?

A gente produz pouquíssima energia (Angra 1 = 621MW e Angra 2 = 1360MW)  para a malha energética do país com as Angras. Um dos problemas com Angra é que no Brasil, por desconhecimento, a gente acha que elas são perigosas. Que pode haver explosão ou problemas ambientais. E elas não produzem poluição, produzem lixo radioativo.

Mas essa é uma energia limpa?

Na COP26, O presidente da Agência Internacional de Energia Atômica disse que a energia nuclear é uma energia verde. Esse é um ponto complexo. Eu não concordo. A geração não produz CO2, metano, nenhum desses gases, é verdade. Mas produz lixo radioativo. O armazenamento correto não traz nenhum problema. Mas eu entendo que a França usa esse termo para facilitar financiamentos. Considerando a geração de energia, ela é limpa. Olhando de forma geral, o sistema, ele produz lixo radioativo.

E como é o armazenamento do lixo radioativo?

Enquanto a Terra estiver aqui, esse material terá de ser armazenado (risos). É necessário haver proteção radiológica, mas não é um material grande, você não precisa de muito espaço (50ha). Numa hidrelétrica, por exemplo, você inunda uma área gigantesca (25.000ha).

Se observarmos o sistema, as hidrelétricas são limpas?

Se você olhar o sistema completo de uma hidrelétrica, ela destrói uma fauna local para ser construída. A obtenção de matéria prima para fabricação de placas solares ou até a quantidade de aves que morrem colidindo em turbinas eólicas também são estatísticas que devemos levar em conta no sistema.

Essa semana os mais clicados trazem uma seleção para lá de eclética...

1. g1: As belas fotos da terra que os turistas espaciais da SpaceX tiraram em seu primeiro vôo.

2. CNN Brasil: Saiba quem deve tomar a terceira dose da vacina para covid-19.

3. Forbes: Como a computação quântica vai mudar as nossas vidas.

4. Panelinha: A receita original do tradicional estrogonofe russo.

5. Caju: Dicas para melhorar o bem estar de seus funcionários.

Encontrou algum problema no site? Entre em contato.

Se você já é assinante faça o login aqui.

Fake news são um problema

O Meio é a solução.

R$15

Mensal

R$150

Anual(economize dois meses)

Mas espere, tem mais!

Edições exclusivas para assinantes

Todo sábado você recebe uma newsletter com artigos apurados cuidadosamente durante a semana. Política, tecnologia, cultura, comportamento, entre outros temas importantes do momento.


R$15

Mensal

R$150

Anual
(economize 2 meses)
Edição de Sábado: A política da vingança
Edição de Sábado: A ideologia de Elon Musk
Edição de Sábado: Eu, tu, eles
Edição de Sábado: Condenados a repetir
Edição de Sábado: Nísia na mira

Meio Político

Toda quarta, um artigo que tenta explicar o inexplicável: a política brasileira e mundial.


R$15

Mensal

R$150

Anual
(economize 2 meses)

A rede social perfeita para democracias

24/04/24 • 11:00

Em seu café da manhã com jornalistas, na terça-feira desta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu que a extrema direita nasceu, no Brasil, em 2013. Ele vê nas Jornadas de Junho daquele ano a explosão do caos em que o país foi mergulhado a partir dali. Mais de dez anos passados, Lula ainda não compreendeu que não era o bolsonarismo que estava nas ruas brasileiras naquele momento. E, no entanto, seu diagnóstico não está de todo errado. Porque algo aconteceu, sim, em 2013. O que aconteceu está diretamente ligado ao caos em que o Brasil mergulhou e explica muito do desacerto político que vivemos não só em Brasília mas em toda a sociedade. Em 2013, Twitter e Facebook instalaram algoritmos para determinar o que vemos ao entrar nas duas redes sociais.

Sala secreta do #MesaDoMeio

Participe via chat dos nossos debates ao vivo.


R$15

Mensal

R$150

Anual
(economize 2 meses)

Outras vantagens!

  • Entrega prioritária – sua newsletter chega nos primeiros minutos da manhã.
  • Descontos nos cursos e na Loja do Meio

R$15

Mensal

R$150

Anual
(economize 2 meses)