Edicão de sábado: A era da discórdia

Por Leonardo Pimentel

“Eu bati para extravasar a raiva.” Foi dessa forma assustadoramente direta que o cozinheiro Aleson Cristiano explicou as pauladas que desferiu no já desacordado imigrante congolês Moïse Kabagambe, que acabou morrendo. De onde vem essa “raiva” que faz uma pessoa tirar a vida de outra de uma forma tão atroz? O racismo estrutural da sociedade brasileira é um componente, sem dúvida, e o fato de Aleson e os outros dois acusados serem pardos não o invalida, pelo contrário. Mas a questão racial, como uma possível xenofobia, é só mais um elemento desse caso.

A raiva que explode em violência nasce de um momento da nossa sociedade, melhor dizendo, da Humanidade, em que o confronto e a discórdia parecem ter se tornado o normal. Os pacificadores já não são mais bem aventurados. Nem todos se envolvem em conflitos, é verdade, mas uma grande parte oscila entre a indiferença e o prazer. São as pessoas que param para ver uma briga sem qualquer intenção de apartá-la ou, pegando o exemplo mais prosaico possível, defendem a “eliminação” (o termo está longe de ser gratuito) de Tiago Abravanel da atual edição do BBB por ele “estragar o programa” ao tentar mediar conflitos.

“O que há é uma cultura de prazer na dor”, diz o psiquiatra transcultural Vitor Pordeus. “É uma sociedade voltada para a competição exacerbada, que resulta na desagregação das comunidades. Aquilo que o velho (Sigmund) Freud chamou de ‘psicopatologia da vida cotidiana’. São doenças neuróticas ‘leves’ que afetam a maioria das pessoas, especialmente durante um momento como o de uma pandemia.”

Essa supercompetitividade, avalia Pordeus, produz uma intensa sensação de insegurança. “Ninguém se sente acolhido em lugar nenhum”, diz ele. “Isso está no ambiente de trabalho, está na educação, está na cultura de massa, por conseguinte nos reality shows.”

Algumas pessoas que se veem nessa situação buscam ajuda. “Nos consultórios, nós recebemos pessoas adoecidas porque começaram a competir com elas mesmas, internalizaram esses mecanismos de competição”, revela o psiquiatra. “Carl Jung falava muito da psicose coletiva, que, na minha visão, passa pela competição”.

Confronto necessário

Não que seja possível, ou mesmo desejável, eliminar o confronto. Ele é um traço da nossa vida, inclusive como espécie, e um elemento fundamental das nossas tradições narrativas. O americano Joseph Campbell (1904-1987), um dos mais respeitados especialistas em mitologias, incluiu o confronto e sua solução – à força ou negociada – como um dos passos da Jornada do Herói, presente desde a Epopeia de Gilgamesh, um dos mais antigos textos mitológicos da Humanidade, à trilogia Guerra nas Estrelas (a original, a boa).

A citada reação à postura de Tiago Abravanel deriva do fato de programas como o BBB serem “shows de realidade” somente no nome. Cada participante é escolhido dentro de um perfil de personagens – a pessoa de origem humilde, a racista, a arrogante, a ingênua, a pegadora – que vão formar uma narrativa. Nela há até espaço para acordos, mas não para harmonia.

Mas não é só na ficção que o conflito tem um papel importante. Ele é um componente evolucionário. O Homo sapiens é um grande primata, com comportamentos não muito distantes de parentes próximos, como os chimpanzés. “Nós apenas sofisticamos nossos rituais a partir do desenvolvimento da linguagem”, diz Vitor Pordeus. “Quando estudamos grandes primatas, vemos que a agressividade deles está muito ligada a rituais, como acasalamento, de renovação da população etc. Na biologia chamamos de ‘comportamento agonístico’, o eriçar de pelos, o bater no peito para intimidar o oponente”, explica.

Para Aaron Sell, professor de Psicologia Evolucionária na Universidade Heidelberg, dos EUA, a raiva é nossa arma nesse confronto, uma “ferramenta de controle da mente” que usamos para sermos melhor tratados. “A nossa ‘expressão de raiva’ é um traço evolucionário, não algo que aprendemos”, disse ele à série Why Are We So Angry? (Por Que Temos Tanta Raiva?), da BBC. “Crianças que nasceram cegas a reproduzem, franzem o cenho, crispam os lábios, inflam as narinas etc. São ferramentas para projetar a ideia de que somos fisicamente fortes.”

Por essa lógica evolucionária, indivíduos com melhor capacidade de demonstrar força através da raiva tinham maior potencial de vencer confrontos, não raro sem chegar à violência. Por conseguinte, mais chances de sobreviver o bastante para passar adiante sua bagagem genética, objetivo de virtualmente todos os organismos.

Exacerbação de identidades

A questão é que nós não somos meros chimpanzés depilados. Ao longo de toda a História, civilizações se organizam de forma a mediar os conflitos e dar ao Estado – do rei deus da mitologia aos modernos parlamentos – o monopólio da violência. A política e a diplomacia são os exemplos paradigmáticos dessa busca, por nascerem do conflito e buscarem o consenso.

Como lembra o filósofo e professor da USP Pablo Ortellado, não existe política sem antagonismo. Pessoas e grupos têm diferentes visões de como a sociedade deve ser regida, o que gera conflitos de interesses, resolvidos, espera-se, de forma pacífica. Só que não.

“O que nós estamos vendo agora é uma exacerbação do conflito, não apenas na política, mas na esfera pública, que é quando a sociedade civil discute assuntos políticos”, diz Ortellado. Essa transferência para além da política contamina as relações sociais. “As pessoas não conseguem mais jantar em família porque estão brigadas. Deixamos de falar com vizinhos, tiramos filhos da escola etc. No Brasil, esse processo não tem mais do que sete anos”, afirma o professor.

Durante um longo tempo, a ciência política buscou a origem desse processo na divergência de opiniões, mas, na avaliação do filósofo, o que caracteriza o crescimento do clima de confronto é a exacerbação de identidades. “Nossas identidades como esquerdistas, direitistas, liberais, feministas, evangélicos, ateus, bolsonaristas etc. estão gerando uma hostilidade de grupo em relação à ‘identidade adversária’. Quanto mais eu tenho uma identidade, mais hostil eu sou a quem vejo como antagonista”, diz Ortellado.

Não que sejam antagonistas de fato. Segundo o professor da USP, entrevistas com indivíduos de diferentes grupos mostram diversos pontos de convergência. “Temos dois grupos, feministas e evangélicos, ou cristãos conservadores em geral. Quanto mais a pessoa se identifica com um grupo, mais tem hostilidade com outro. Mas, quando se verifica a opinião dos indivíduos sobre temas cotidianos, há muita convergência. As pessoas tendem a concordar muito mais do que imaginam.”

As redes têm mais fama do que culpa

Quando se fala em exacerbação dos antagonismos, as redes sociais aparecem como as suspeitas de sempre, mas, na avaliação de Pablo Ortellado, elas funcionam muito mais como ambiente em embates do que como causadoras. “É importante lembrar que a teoria da identidade social nasceu nos anos 1930, quando havia uma gigantesca polarização política e nenhuma rede social”, diz ele.

Outro exemplo citado pelo professor é um estudo que ele próprio conduziu indicando uma polarização profunda entre pessoas mais velhas, que usam as redes sociais de forma menos intensa. “É possível, claro, que o efeito nelas seja mais forte”, argumenta.

Segundo ele, a clausura em bolhas não é um fenômeno da internet. “Se eu sou uma pessoa de esquerda, meus amigos vão ser de esquerda, meu meio social e até profissional vai tender a ser de esquerda. E isso pode ser projetado para todos os demais grupos”, diz o professor. Ortellado explica que estudos comparando os comportamentos online e offline mostram que as redes têm um peso não maior que 20% no encapsulamento. “Não seria o suficiente para causar tanta mudança.”

E como romper esse ciclo? Na visão do psiquiatra Vitor Pordeus, a saída passa necessariamente por ações culturais comunitárias que estimulem o diálogo, a agregação e a construção de um discurso comum. “Eu trabalhei com um importante psiquiatra da Jamaica, Frederick Hickling, que faleceu em 2020. Ele dedicou a vida a esse tipo de atendimento psiquiátrico e cultural a comunidades para romper essa ideologia de supercompetitividade”, diz ele.

Seja por qual caminho, a cultura do confronto tem de ser quebrada. Precisamos de mais almoços de famílias e menos jovens massacrados porque alguém queria extravasar a raiva.

'Onde vamos arrumar tempo para chorar?'

Depoimento a Micaela Santos e Tay Oliveira

‘ONDE VAMOS ARRUMAR TEMPO PARA CHORAR?’

Depoimento a Micaela Santos e Tay Oliveira

O assassinato do congolês Moïse Kabagambe indignou o Brasil, pelo menos a parte do Brasil ainda capaz de se indignar com o espancamento até a morte de um jovem negro. Mas houve um grupo no qual ela calou mais fundo, a comunidade de imigrantes africanos. Pessoas que vieram atrás de uma vida melhor, não raro fugindo dos horrores da guerra. E encontraram uma realidade bem diversa. Para entender esse drama, Meio ouviu alguém que nasceu nele, Naira Rivelli Martins Diatuka, brasileira de 18 anos, filha de imigrantes da República Democrática do Congo como Moïse. Essas são as palavras dela:

Quando eu soube da morte do Moïse Kabagambe fiquei anestesiada. Eu não o conhecia pessoalmente, mas tínhamos amigos em comum na comunidade congolesa aqui no Brasil. Jovem, trabalhador, cheio de sonhos e esperanças. A última notícia que tivemos era que ele estava procurando trabalho. E isso foi o que me chocou mais. Muitos refugiados entram na informalidade para ganhar vida e acabam morrendo. Eu só consegui pensar que precisava me envolver no caso, pela comunidade, por ele, por mim. Eu estava tão anestesiada que não queria acreditar. Vemos um caso desses e pensamos: mais um dos nossos. É uma dor muito intensa. Minha história é parecida com a dele. É a história de todo mundo aqui. Todo mundo que tenta lutar e está à mercê da violência e do racismo desse país. É a nossa história ali numa só pessoa.

No primeiro minuto agi de forma automática para tentar resolver e não tive tempo para chorar. A verdade é que nós não temos nem o direito de sofrer. Fiquei muito próxima da família, conversei com o irmão mais velho dele, que está à frente do caso. Para se ter uma noção de como esse sistema nos mastiga, às 9h do dia seguinte ao crime, a família de Moïse estava na porta da OAB para tentar lutar. Tem que estar firme. Onde vamos arrumar tempo para chorar? Não existe.

Depois disso, a minha principal ação foi falar sobre o caso nas redes sociais. A primeira vez que eu falei foi na sexta-feira, dia 30 de janeiro, quando a notícia ainda não tinha saído na mídia. Os amigos e familiares estavam falando comigo, a comunidade já estava se movendo, a gente tinha feito cartaz e nada tinha chegado, ninguém sabia, ninguém tinha escutado. Mas a comunidade africana de refugiados é muito unida. Por isso, conversei com alguns jornalistas e pessoas que estavam ligadas à embaixada do Congo, e foi quando comecei a receber algumas notícias sobre como o governo estava lidando com isso. Usei toda a influência que tenho na internet para me mobilizar no caso Moïse. Eu sou blogueira de beleza, falo principalmente sobre cuidado com cabelo crespo e, graças a isso, tenho um bom alcance no Twitter. Ter essa influência foi fundamental para levar o caso para a mídia.

Eu me senti responsável por fazer alguma. Essa questão do emprego é bem delicada. Para minha família, e principalmente para meu pai, chegar ao Brasil como refugiado, atordoado pela guerra, foi uma experiência muito sofrida. Emprego é uma complicação. Muitos refugiados e parentes meus falam três, quatro línguas, e mesmo assim passam necessidade. O meu pai é um homem formado, ele é professor de Matemática, e quando chegou aqui só conseguiu empregos informais. O que eu mais tenho são amigos que, ao chegarem aqui, tornam-se camelô, correndo com a mercadoria quando a polícia chega.

Minha família veio para o Brasil fugindo das guerras civil e étnica do Congo, no início dos anos 2000. Muitas crianças eram chamadas para trabalhar em minas de extração, e havia um medo constante de as famílias terem seus filhos sequestrados. Então, a partir do momento em que eu fui crescendo, entendi que muitas vezes as minhas escolhas não eram só sobre mim. Hoje eu entendo a importância de ter uma profissão aqui, o que meu pai sempre me falou. Atualmente, meu pai tem alguns estabelecimentos comerciais; um deles é um restaurante de comida africana no Centro de São Paulo. Inclusive, todos os funcionários são refugiados, pois meu pai faz questão de contratá-los.

Na escola, quando eu falava que a minha família era africana, a primeira pergunta que as outras crianças faziam era: “Então você passa fome? Na sua casa não tem água?” Por isso, durante toda a minha infância, eu tentava me encaixar e ser o mais “brasileira” possível. Sentia vergonha de falar sobre a minha origem e a renegava o máximo possível para me adequar aos padrões do Brasil. Não usava os trajes tradicionais de festas, pois achava besteira. Afinal, as outras crianças daqui não usavam aquilo, elas viviam de outro jeito. Eu sempre morei na periferia e estudei em escola pública. Embora eu tivesse amigos negros, crianças brancas eram maioria, pois o colégio era novo e tinha um padrão de ensino melhor. Eu consegui estudar lá graças à Cáritas, uma ONG que também ajuda refugiados e auxiliou no meu processo de matrícula. Embora eu tentasse me encaixar, acabava à mercê dos comentários maldosos, das piadas das outras crianças. Às vezes, até ria! Tudo para ser aceita. Mas, com o passar do tempo, comecei a me excluir e ficava quieta para evitar perguntas sobre mim ou o meu nome. E com isso fui me fechando para o mundo cada vez mais.

Meu pai sempre fez questão de falarmos o nosso dialeto, o idioma Lingala, dentro de casa. Mas eu não me preocupava em aprender, achava que era besteira. Até que, em 2018, minha avó paterna chegou ao Brasil. De repente, ela, que não falava português, ficou doente. E o fato de eu não entender o que minha própria avó falava e precisar ajudá-la me deu um choque de realidade. Eu finalmente percebi o que eu estava perdendo e, pior, estava renegando a minha família para poder me comportar como uma “legítima brasileira”. Quando eu era criança, sempre assinava meu nome como Naira Martins. A partir desse ocorrido eu entendi a importância de assinar com o meu nome completo, com o meu sobrenome congolês.

Eu gosto de morar no Brasil, da cultura, do abraço, da diversidade. É um país que foi construído por muitas culturas africanas. A gente tem periferia, o senso de comunidade que é parecido com a unidade africana. Isso me traz um certo conforto. Entretanto, o Brasil é um país com muita impunidade. Enquanto no Congo a preocupação com a moral é grande, no Brasil existe uma certa liberdade. Você pode fazer o que quiser sem ter medo das consequências, assim como aquelas pessoas fizeram com o Moïse. E isso me causa medo. Tudo isso teve um impacto profundo em mim, pois até que ponto eu era africana antes da morte do Moïse? Eu gostava da comida, das festas e da cultura, mas quando um caso de racismo acontecia, quando mais um refugiado se tornava mais uma vítima, eu tinha o privilégio de ser brasileira e me calava. Transitava entre ser ou não ser. Agora, sempre tento parecer transparente e procuro entender o meu papel como brasileira e como africana. Esse ano iniciei minha graduação em Tecnologia, uma área composta majoritariamente por pessoas brancas. Mas não adianta eu só estar lá aprendendo e outras pessoas negras e refugiadas não caminharem comigo. Quero criar projetos para fazer com que mais pessoas negras consigam trabalhar e progredir.

O poder político da bênção

O PODER POLÍTICO DA BENÇÃO

Por Bruna Buffara

Em 2013, num domingo de abril, Jorge Mario Bergoglio se tornou o Papa Francisco. Diferente dos outros, antes de abençoar os fiéis na Praça de São Pedro, pediu que rezassem por ele. A primeira bênção papal veio depois. Mesmo sem ser católica, lembro-me da festa, da comemoração argentina, da diferença em relação ao Papa anterior - com seus luxos e joias -, que abdicou e deu espaço a Francisco. A Igreja Católica agora tinha um novo rosto. E essa mudança começou logo nas suas primeiras semanas de pontificado.

Os questionamentos sobre gays e LGBTQIA+ vieram cedo. “Quem sou eu para julgar os gays?”, respondeu Francisco. Esse questionamento pode parecer pouco, mas vale lembrar que ele é o 266º Pontífice de uma igreja que, por muito tempo, baseou-se no moralismo e na exclusão. Mas comunidade LGBTQIA+ existe dentro da Igreja e não pode ser negada.

Para Cris Serra, autora do livro Viemos para comungar: os grupos de católicos LGBT e ativista da ONG Católicas pelo Direito de Decidir, a importância dos discursos do Papa é o acolhimento. “A perspectiva favorável ao acolhimento fez com que os movimentos progressistas que existem dentro da Igreja Católica crescessem muito. Vimos um crescimento não só entre pessoas LGBT, mas também por pessoas que pregam o acolhimento e não sentiam segurança nesse espaço.”

A Igreja Católica é um corpo social enorme e contraditório. Para entender os discursos do Papa é necessário visualizar a heterogeneidade da Igreja. O projeto de Igreja de Bergoglio tem uma perspectiva diferente daquele de João Paulo II (1920-2005) ou de Bento XVI, os mais conservadores desde Pio XII (1876-1958). Logo nos primeiros meses, Francisco começou a trazer a visão de acolhimento, o que lhe valeu imediatamente o rótulo de progressista, do qual Cris Serra discorda.

“A imprensa constrói uma imagem de um Papa progressista, que não é necessariamente o caso”, avalia a ativista. “Mas há grandes repercussões. O primeiro grande impacto político da chegada do Francisco é a demanda reprimida que estoura quando seus gestos de acolhimento aos LGBT vão ficando mais concretos.”

E os gestos, que começaram implícitos, tornaram-se mais concretos e significativos. Como quando o Papa abençoou a associação de gays e católicos italianos ou quando recebeu um homem transexual com sua namorada. “Esses são gestos que impactam diretamente a comunidade católica”, diz Cris Serra.

Por mais que o Papa tenha abençoado a associação, a Igreja segue sem reconhecer a união de casais do mesmo sexo. Na semana passada, entretanto, Jean Claude Hollerich, cardeal arcebispo de Luxemburgo e chefe do Episcopado da União Europeia, pediu que a Igreja reveja a sua doutrina sobre homossexuais, dizendo que está errada em considerar essas relações como pecado.

O Papa Francisco opta pelo acolhimento, sem entrar no mérito do pecado. Como diz Cris Serra, um “morde e assopra”. O que parece que a Igreja entendeu é que não se pode mais negar a existência de católicos LGBTQIA+. “Precisamos sair do acolhimento e ir para a benção, a única possibilidade de isso acontecer é com a organização”, diz ela. “É só pela luta que a vida muda. É fundamental que nós possamos contar as nossas próprias histórias, senão estamos falando de ‘alguém’, e nessa separação perdemos a humanidade daquela pessoa. É o perigo da história única.”

E por mais acolhedor que seja o discurso do Papa Francisco, por mais que ele peça para as famílias acolherem os LGBTQIA+, isso não é o suficiente. Ainda existe a necessidade desses grupos serem vistos, abençoados. “A primeira vez que participei de um grupo católico LGBT, foi a primeira vez que eu me vi inteira naquele rito”, lembra a escritora. “Na Igreja, uma parte minha sempre ficava de fora. E eu nem me dava conta. Essa invisibilização é uma violência que nos despedaça.”

A história de Cris Serra é uma dentre milhares. Para Luiz Alberto, 31, doutor em ensino de Ciências, católico e gay, foi uma história de negação. “Eu tinha medo porque me falavam que gay ia para o inferno. Rezava para não ser gay. Era medo do pecado. Depois de estudar, entendi que era uma questão social e não da Igreja. São as pessoas que não aceitam.”

O poder político do Papa ressoa pelos católicos no mundo todo. Mas padres e cardeais também são influenciadores locais e podem fazer muito. Foi o caso Dom Sergio da Rocha, cardeal arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, que rezou uma missa em memória às vítimas da LGBTfobia na capital baiana. Os “pequenos” gestos do papado têm um enorme impacto para mais de um bilhão de pessoas. A visão moralista está pouco a pouco dando espaço para um acolhimento catequista. O poder político da bênção é o que garante que a Igreja te enxerga, te aceita e te abençoa frente a Deus. “Precisamos lutar para que os intérpretes de Deus enxerguem todos nós”, conclui Cris Serra.

E os mais clicados desta primeira semana de fevereiro:

1. NY Times: A Hugo Boss tenta se transformar em marca cool.

2. Wikipedia: E a última foi o dia da marmota.

3. Época: Mãe de Moïse: ‘Mataram meu filho aqui como matam em meu país’.

4. UOL: Ocupação de UTIs é crítica em 8 estados e no DF.

5. ESPN: Jogador do Manchester United é preso por suspeita de estupro.

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