Edição de Sábado: O Modernismo de 2022

Por volta das 19h da segunda-feira, 13 de fevereiro de 1922, os automóveis pretos começaram a chegar ao Theatro Municipal, um prédio em estilo eclético que, fundado dez anos antes, pretendia oferecer à capital paulista um ponto de cultura nobre, digno de qualquer cidade cosmopolita. Os ingressos estavam esgotados para aquela primeira de três noites da Semana de Arte Moderna. Os homens, quase todos muito elegantes, vestiam ternos jaquetão, chapéus de feltro. Os chapéus das mulheres eram quase todos do modelo clochê, que, arredondados em cima, se encaixavam justos nas cabeças, suas abas quase inexistentes apenas sugeridas por uma curva ligeira. Os vestidos eram decotados o suficiente para mostrar o colo, cinturados, mas soltos abaixo, sempre descendo até um palmo antes dos pés. Desfilavam por aquela festa porque era uma noite de ver e de ser visto, um evento marcante sobre o qual a imprensa falava fazia já semanas, num longo debate sobre aquela gente jovem que queria apresentar um novo tipo de arte. Uns, como Menotti del Picchia, a chamavam Futurismo, em homenagem ao movimento italiano que inspirava Mussolini. Mário de Andrade, que como Del Picchia tinha também 29 anos, preferia chamar Modernismo, por ver diferenças nos propósitos. Aquele dia 13 era dedicado a uma exposição de artes plásticas, com quadros de Anita Malfatti e Emiliano Di Cavalcanti, as esculturas de Victor Brecheret, a arquitetura de Antônio Moya. Tarsila do Amaral não apareceu — estava em Paris. A quarta-feira seria dos escritores, fariam discursos e declarariam poemas, e nela o trio promotor do evento — Mário e Oswald de Andrade, além de Del Picchia — planejava brilhar. A sexta seria para música, principalmente de Heitor Villa-Lobos. Eram, aqueles escritores, bons de marketing, de levantar polêmicas, chamar atenção.

Neste domingo, 13 de fevereiro de 2022, a Semana fará cem anos. Nos últimos dias, provocado em grande parte pelo jornalista e escritor Ruy Castro, um imenso debate a respeito da real importância da Semana de Arte Moderna foi disparado. Mas se há uma polêmica a respeito de onde começou o Modernismo no país, o marco, ninguém tem dúvida, são os anos 1920.

A Primeira Grande Guerra terminou em 1918 deixando 40 milhões de mortos e a ela se seguiu a última grande pandemia antes da Covid. A Gripe Espanhola matou outros 50 milhões até 1921. Foi neste cenário que veio o Modernismo, querendo reinventar como o mundo se compreendia. Se mergulhamos naquela década, temos motivos para ver ali semelhanças o suficiente com esta década de 2020 para acreditar que algo similar pode ocorrer.

Revolução sexual

Aquele chapéu clochê das mulheres persistiria por um bom tempo, mas nos anos seguintes os vestidos perderiam a cintura e subiriam ainda um palmo até quase o joelho — uns vestidos soltos que, nas pistas de dança, davam conforto e deslizavam até bem mais acima. Nunca se viu tanta pele e, na praia, isto era só mais evidente. Na década de 1910, as mulheres punham vestidos e longas meias-calças para entrar no mar. E, de repente, nos anos 20 apareceram os primeiros maiôs — eles desciam, é verdade, quase como shorts, traziam uns saiotes curtos, mas as pernas estavam enfim livres. Para as mais ousadas, havia modelos com corte na altura da virilha. Que chocavam — mas existiam. O choque, para quem esperava uma lenta transição do mundo antigo para o novo, foi inevitável a década toda. E mulheres ousadas não faltavam.

O movimento feminista já vinha, na luta pelo voto e direitos trabalhistas, desde o século 19. Mas sempre havia hesitado em entrar no terreno minado da liberdade sexual. Não mais. A atriz americana Louise Brooks, que se tornou estrela no cinema alemão e popularizou o corte de cabelo bob, se apresentava nas telas com uns decotes que chegavam ao umbigo. A escritora russa Elena Diakonova passou parte daqueles anos num relacionamento público a três com o poeta francês Paul Éluard e o pintor alemão Max Ernst, antes de abandoná-los ambos e se casar com outro pintor, o catalão Salvador Dalí, e se converter na musa de toda sua vida. Entrou para a história como Gala Dalí. Outro casal viveu um relacionamento nunca formalmente aberto, mas com histórias públicas de infidelidade que foram tema de debate nos bares da Riviera Francesa a Los Angeles. No caso dos escritores Zelda e Francis Scott Fitzgerald a relação de um com a sexualidade do outro era com frequência doída, mas sempre marcada pela busca de um pelo outro. Talvez um pouco menos habituada com a ideia de liberdade sexual feminina, São Paulo teve dificuldades de lidar com Patrícia Galvão, outra escritora, que escolheu os homens que quis nos anos vinte até enfim se casar, grávida de seis meses, com Oswald de Andrade no último ano da década. Pois foi um casamento, o de Pagu com Oswald, que durou cinco anos até o desquite. (Não havia divórcio.)

Não é à toa que muitas das mulheres que simbolizaram a revolução sexual que houve nos anos 1920 estavam ligadas às vanguardas artísticas. Ainda não havia a pílula anticoncepcional, que permitiu à outra revolução sexual do século 20, nos anos 60, que se espalhasse de forma igualitária. Até lá, mulheres sempre precisaram lidar com a risco de uma gravidez que, fora do casamento, invariavelmente era seguida pelo abandono do homem. Mas isto não faz da transformação de comportamento menor. Se um comprimido mudou de forma radical o comportamento na segunda metade do século, foi um psiquiatra austríaco que mudou tudo na primeira.

Sigmund Freud desenvolveu suas teorias a respeito da psique humana de forma muito lenta a partir da década de 1880. Começando pelo estudo daquilo que chamavam histeria, uma obsessão da Era Vitoriana a respeito de certos padrões de comportamento feminino, o psiquiatra foi construindo uma ideia de como funciona na mente o desenvolvimento da sexualidade humana. Em 1920, quando publicou Além do Princípio do Prazer, começou a consolidar a ideia de que convivem em cada um de nós duas pulsões, Eros e Tânatos. Uma, ligada à sexualidade e à criação, nos empurra para vida. A outra, com o nome do deus grego da morte, representa a destruição. Àquela altura, as resistências à teoria psicanalítica já não tinham mais a força de décadas antes. A ideia de que mulheres tinham prazer sexual, de que eram movidas por sexualidades complexas, estava deixando de causar espanto. Muito do Modernismo, o movimento artístico, era motivado por esta compreensão.

No tempo das máquinas de metal

Mas não era só. Filippo Marinetti, um poeta italiano que cedo se encantou com a velocidade dos automóveis, assinou em 1909 um texto que intitulou Manifesto Futurista. Ele pregava um completo rompimento com toda forma passada de arte. Ia além: defendia a demolição de bibliotecas e museus e um rompimento com o que enxergava ser uma “passividade” da democracia liberal. O carro, a máquina, o metal, o motor a combustão, a indústria, todos eram símbolos nos quais Marinetti enxergava uma força que empurraria o mundo para uma nova era naquele século que se iniciava. Como a destruição do antigo para erguer o novo era necessária, o poeta defendia que guerras eram, acima de tudo, higiênicas. Limpavam. Parecia estar prevendo a violência que estouraria dali a cinco anos.

Se a agressividade de Marinetti assusta é porque o Futurismo — que encantava Menotti del Pichia — era apenas uma das muitas faces do Modernismo. Houve o Expressionismo, o Surrealismo, o Cubismo, o Dadaísmo, o Concretismo, ismos tantos. As faces eram inúmeras e nem todas indicavam um rompimento com o passado. Make it New, o slogan cunhado pelo poeta americano Ezra Pound, se refere a isto. Faça do antigo algo novo. O ponto no qual todos os modernismos se tocam é a transformação, uma transformação do mundo imposta por outra revolução — a científica e tecnológica.

Porque não foi só o automóvel. Tanto o microscópio ótico potente quanto o raio-x se popularizaram nas primeiras duas décadas do século 20. Ambos permitiram que um universo inteiro jamais visto pelo olho humano passasse a ser, repentinamente, conhecido e explorável. De certa forma, o mesmo pode ser dito do cinema, que ganhou o mundo a partir daquele início de século permitindo, enfim, o registro das coisas em movimento. E há, claro, o telefone e o rádio, que se popularizaram, ora, a partir dos anos 1920. É como se, na virada de um século para o outro, o mundo tivesse dado um salto imenso e, francamente, inimaginável até os anos 1880 ou mesmo 90. Num mundo, aquele de toda história humana pregressa, toda informação tinha de ser registrada em alguma superfície — papel, tecido, parede, o que fosse. E, de repente, as imagens se moviam, o som ia longe e o que o olho nunca viu tornou-se visível. As possibilidades humanas se tornaram maiores. E tudo desaguou, com força, na fatídica década de 1920.

O breve século 20

O historiador húngaro Iván Berend defende que o século 19 foi longo e, o 20, curto. O primeiro teve início na Revolução Francesa, de 1789, e terminou com a declaração da Primeira Grande Guerra, em 1914. É o período entre a queda do Antigo Regime, a explosão da indústria, a formação das primeiras — e precárias — democracias liberais e, claro, a consolidação dos Estados nacionais na Europa e nas Américas. O segundo começa na Primeira Guerra e se encerra em 1991, com o derretimento da União Soviética. Durante ele se confrontaram três estilos de governança, três ideias de Estado, três conceitos de organização social. Aquela democracia liberal herdada do século anterior, mais comunismo e fascismo.

Marinetti e Pound eram fascistas. Pagu, comunista. Como Pablo Picasso, talvez o maior artista do curto século 20, era igualmente comunista.

Havia uma sensação generalizada de que democracias não tinham a capacidade de entregar o tipo de liberdade e igualdade e fraternidade que prometiam. Nas fábricas, operários viviam de forma desgraçada. No campo, o normal era miséria. Os índices de analfabetismo batiam na casa dos 70% por toda parte. E, ora, voto era coisa para homem, branco, com dinheiro. Além disto, o trágico choque de nações na Primeira Guerra não deixou apenas 40 milhões de mortos — outros tantos milhões de rapazes voltaram para suas casas mutilados. Sem pernas, sem braços, sem olhos, mandíbulas estilhaçadas. Na Europa dos anos 1920, via-se todos os dias, nas ruas, os tantos homens de vinte e poucos com as marcas terríveis do que foi o conflito. Neste cenário, o que Fascismo e Comunismo prometiam era que eram novos. Democracia era coisa velha, do século 19, aquele novo século precisava de um regime de fato moderno. Ambos se apresentavam como ideias de força perante a fragilidade liberal — o mesmo tipo de força que os carros, os tanques, os pistões nas fábricas, tudo o que era novo igualmente representava. Renove o antigo, como sugeria Pound.

Aquela ideia de Freud, a das duas pulsões, da Vida e da Morte, da criação e da destruição, parecia ser a ideia perfeita para abrir a década de 20. Ou o próprio século 20. O jazz explodiu nos EUA e logo depois na Europa, o samba aqui no Brasil, e ambos representavam um tipo de música que se dançava com liberdade e, até, com a libido exposta. Durante a Grande Guerra seguida da Gripe Espanhola, a presença da morte foi tão intensa e opressiva que o resultado foi uma explosão de vida em todas suas formas. Pela sexualidade, pela criatividade, pela reinvenção da moda e dos costumes.

É por isso que a comparação com os anos 1960 é inevitável. São as únicas duas décadas dos mil e novecentos que representam um profundo rompimento até o nível dos valores com o mundo anterior.

Como nos anos 20 do século passado, os anos 20 deste século podem ser algo parecido. O que ocorreu nos últimos quinze anos foi a popularização da internet móvel e o desenvolvimento de inteligência artificial que permite tanto automação de máquinas como uma compreensão ampla de como pessoas reagem e funcionam. Estas duas tecnologias se encontrarão nas redes 5G. Permitirão drones de entrega, carros autônomos, sensores que nos compreendem espalhados por toda parte, robôs de todo tipo. Correndo por fora, também já ganhou estrutura, embora seja pouco compreendida, um tipo radicalmente novo de moeda que pode mudar por completo como funcionam economias. Que tipo de impacto terão sobre o mundo, não temos como saber.

Em meio a isto, vivemos intensos debates sobre gênero e sexualidade, sobre os limites da democracia com novas formas de iliberalismo mostrando o rosto. Vivemos, simultaneamente, um questionamento do impacto que tem nossa estrutura econômica em nossa qualidade de vida e no próprio planeta. Há muitas questões grandes em debate como há muito tempo não havia. As condições estão dadas para uma década daquelas em que o mundo sai outro quando ela termina.

PGR quer material da CPI ‘todo mastigadinho’, diz Omar Aziz

Solicitando o indiciamento do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), quatro ministros, duas empresas e outras 73 pessoas por crimes relacionados à pandemia, o relatório final da CPI da Covid-19 foi entregue à Procuradoria-Geral da República (PGR) no fim de outubro do ano passado. Desde a apresentação do documento, passaram-se cem dias – mas os efeitos práticos da comissão estão longe de ser vistos. O relatório, que contém mais de mil páginas, aos olhos da sociedade, permanece no fundo da gaveta do procurador-geral da República, Augusto Aras – o que nega o senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da comissão.

“A CPI fez seu papel, abriu o debate sobre as irregularidades cometidas durante a pandemia. Agora é o momento de aguardar. Estamos fazendo nosso papel, indo atrás. Com certeza os indiciamentos não estão na gaveta de Aras, não existe isso. As investigações estão andando”, disse em entrevista ao Meio.

Em novembro, o procurador-geral protocolou onze petições relacionadas ao chefe do Executivo e a membros do governo do alto escalão, procedimentos preliminares nos quais avalia se deve ou não pedir a investigação formal destes. No entanto, os documentos tramitam em segredo de Justiça. Em nota divulgada na segunda-feira, 8, o órgão justificou que “os resultados da CPI seguem devido processo legal, com Ministério Público atuando juntamente com cada um dos relatores, ministros do STF, cujas diligências investigativas vêm sendo realizadas nos termos da lei”.

Os procuradores responsabilizam a maneira como as provas foram enviadas ao MP pela lentidão no andamento dos processos. De acordo com Aras, o relatório carrega as acusações imputadas às autoridades, mas não aponta quais documentos embasam cada um dos crimes citados.

“Os procuradores da PGR apontaram que as provas não haviam chegado, então, nós mostramos que chegaram sim. Mas eles querem tudo ‘mastigadinho’ – e nós entregaremos da forma que pediram. Vamos ficar cobrando o tempo todo, não tem jeito”, reiterou Aziz, afirmando que não se trata de inconsistências nas provas, já que “não são meras acusações, mas fatos de conhecimento público”. “Não precisamos de muito esforço para provar aquilo que está no relatório. O que nós queremos resolver agora é que ande com mais rapidez”.

‘A covid está na sua casa’

Questionado se a lentidão estaria sendo provocada pela PGR, Aziz analisou que não. “As instituições não deixarão de investigar algo que abalou, e continua abalando, o Brasil por inteiro. Não é uma coisa que aconteceu com um cidadão isolado, algo que ninguém tem conhecimento. A Covid-19 não passa longe da sua residência, está na sua casa, na casa de todos os brasileiros”.

Por um lado, os procuradores afirmam que a falta de detalhamento das provas deve consumir tempo. Por outro, os senadores que integraram a CPI cobram por agilidade. O impasse desaguou no Supremo Tribunal Federal (STF). Em decisão do último dia 1º, a ministra Rosa Weber registrou que não cabe uma discussão de “prova sobre a prova”.

Com uma postura mais incisiva, o vice-presidente da comissão, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou na sexta-feira, 4, que está em vias de colher assinaturas para o impeachment de Augusto Aras. Aziz avalia que é muito cedo para isso. “A PGR terá que agir sem politizar, cumprindo rigorosamente o papel dela, determinado pela Constituição. Acredito que isso será feito, caso contrário, essa é uma conversa que teremos”.

Nea última quarta-feira, o presidente e o vice-presidente da CPI se reuniram com o presidente do STF, Luiz Fux, solicitando a conversão das petições encaminhadas à PGR em inquéritos. Apesar de uma postura mais comedida, Aziz aponta situações graves que ocorreram nos últimos cem dias. “No meu entendimento, nestes mais de três meses, o que ocorreu de mais grave foi a Polícia Federal ver um crime, mas concluir que o presidente não prevaricou no caso da Covaxin. Se ele tomou conhecimento de assuntos relativos ao governo dele e não tomou providência, é lógico que ele prevaricou”, concluindo que Bolsonaro ainda deve responder pelos supostos crimes que cometeu já que “ninguém consegue se blindar eternamente”.

A mancha do racismo na NFL

Neste domingo os mundos do esporte e do entretenimento se voltarão para o SoFi Stadium, em Los Angeles, onde ocorrerá o Super Bowl, a final da NFL - liga de futebol americano. O show do intervalo é um dos pontos mais altos do evento, que trará grandes nomes do hip hop americano como Snoop Dogg, Dr. Dre, Eminem, Kendrick Lamar e Mary J. Blige. Artistas negros se apresentando não é novidade. Somente nas últimas edições outros também o fizeram, como The Weeknd, Bruno Mars e Beyoncé. Aliás, 70% dos jogadores também são negros, o que não impede que a NFL tenha sérios problemas de racismo enraizado.

Na semana passada, o técnico Brian Flores processou a NFL por discriminação racial. Após ser demitido do Miami Dolphins, mesmo tendo recordes de vitórias em seus últimos dois anos na equipe, chegando perto dos playoffs nas duas vezes, ele conseguiu uma entrevista de emprego para treinar o New York Giants. Bill Belichick, o mais bem-sucedido técnico da NFL, chegou a parabenizar o treinador pelo novo cargo, mas percebeu que tinha confundido Brian Flores com Brian Daboll, um técnico branco, que assumiu a equipe de Nova York. “Eu acho que eles estão nomeando Daboll. Me desculpe por isso”, disse Belichick, em uma mensagem de texto, cuja impressão foi anexada ao processo.

No momento em que recebeu a mensagem, Flores ainda não tinha feito a entrevista. A suspeita é de que Brian Daboll tenha sido contratado antes que seu xará tivesse a oportunidade de uma conversa com os executivos do Giants. Isso porque a NFL exige que todas as equipes entrevistem pelo menos uma pessoa não branca para o cargo de treinador principal. Não foi a primeira vez que isso aconteceu. Marvin Lewis, ex-técnico do Cincinnati Bengals, disse recentemente que participou de uma entrevista falsa no Carolina Panthers, que já tinha contratado John Fox, um branco, para a posição.

Mais uma chance

John Fox foi um dos técnicos que conseguiram uma terceira chance na principal liga de futebol americano. Técnicos brancos conseguem corriqueiramente uma segunda ou terceira chance de comandar equipes da NFL. Não ocorre o mesmo com treinadores negros. Poucos conseguem uma segunda chance como técnicos principais. Uma análise acadêmica encomendada pela própria NFL em 2019 mostrou que negros são menos propensos a receberem uma nova oportunidade. Uma terceira, então, tem se demonstrado impossível. Até hoje, nenhum conseguiu. O mais próximo disso foi Romeo Crennel, que após treinar duas equipes, foi técnico interino em um terceiro time, mas por apenas uma parte da temporada.

Aliás, até uma única chance tem sido difícil. Dos 32 treinadores principais da liga, apenas um é negro. Mike Tomlin se mantém no posto com um dos maiores percentuais de vitórias entre os treinadores ativos. Mas não é de se estranhar que haja poucos técnicos negros. Um estudo da Georgetown University mostrou que a falta de diversidade nos cargos de coordenação fez com que poucos negros chegassem a serem técnicos principais da NFL. Isso porque os treinadores de posição geralmente são promovidos a coordenadores e depois a treinadores principais. O estudo concluiu que técnicos brancos na liga são 50% mais propensos a serem promovidos para qualquer posição do que alguém das minorias raciais e têm 114% mais chances de serem promovidos a coordenadores. Eles levam nove anos para chegarem a essa posição, enquanto membros não brancos levam 14 anos para alcançarem o mesmo posto.

Boicote velado

Apesar de jogadores negros serem maioria, eles também são mais suscetíveis a boicotes pelos times. São raros os que são contratados para ser quarterbacks, posição estratégica no futebol americano. Um QB precisa ter inteligência estratégica e habilidades para liderar a equipe em campo. Warren Moon foi um dos poucos que chegaram a jogar nessa posição e conta que no futebol americano, as posições “pensantes” eram as que ele não podia jogar.

Outro quarterback negro que ainda aguarda uma nova chance para jogar na NFL é Colin Kaepernick, que tem sido boicotado por todos os times da liga desde que liderou protestos contra violência policial à comunidade negra antes dos jogos, em 2017.

Racismo científico

O racismo na NFL também tem buscado amparo na ciência para se sustentar. A liga adotou, ao longo dos anos, a normação racial, uma prática controversa em neuropsicologia, no qual, negros teriam resultados piores que brancos em testes de cognição. Essa norma impediu que milhares de ex-jogadores negros tivessem atestado o diagnóstico de demência e outras doenças relacionadas a concussões, problemas comuns em quem pratica esportes de auto impacto, como o futebol americano. Isso fez com que esses atletas não tivessem acesso a indenizações pagas pela liga para esses casos.

Uma viúva de um jogador chegou a ouvir de um médico que se seu marido fosse branco, ele seria diagnosticado com demência e teria acesso a um pagamento de seis dígitos. São muitos os casos semelhantes, e a falta de acesso a essas indenizações impede que ex-atletas tenham tratamentos médicos pagos pela liga.

No ano passado, a NFL e os advogados que representam mais de 20 mil ex-jogadores chegaram a um acordo provisório de remover a normação racial na avaliação de indenizações. Com isso, cerca de 1,4 mil jogadores poderão remarcar seus testes cognitivos para buscar acesso aos pagamentos a que têm direito.

O Super Bowl deste ano terá tudo para entregar uma grande festa com momentos memoráveis, mas o passado e o presente de discriminação racial na principal liga de futebol americano poderão assombrar sua reputação no futuro.

E os mais clicados de uma semana, ao que parece, cinematográfica:

1. Youtube: Um conceitual super iate voador criado por um estúdio de design italiano.

2. Instagram: O gesto que levou o ex-BBB Adrilles Jorge a ser demitido da Jovem Pan.

3. Adoro Cinema: Onde assistir os indicados do Oscar?

4. Adoro Cinema: Bruce Willys ganha sua própria categoria no prêmio Framboesa de Ouro.

5. Estadão: Conheça o brasileiro por trás das ilustrações das novas edições de Harry Potter.

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A rede social perfeita para democracias

24/04/24 • 11:00

Em seu café da manhã com jornalistas, na terça-feira desta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu que a extrema direita nasceu, no Brasil, em 2013. Ele vê nas Jornadas de Junho daquele ano a explosão do caos em que o país foi mergulhado a partir dali. Mais de dez anos passados, Lula ainda não compreendeu que não era o bolsonarismo que estava nas ruas brasileiras naquele momento. E, no entanto, seu diagnóstico não está de todo errado. Porque algo aconteceu, sim, em 2013. O que aconteceu está diretamente ligado ao caos em que o Brasil mergulhou e explica muito do desacerto político que vivemos não só em Brasília mas em toda a sociedade. Em 2013, Twitter e Facebook instalaram algoritmos para determinar o que vemos ao entrar nas duas redes sociais.

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