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Hoje vocês receberão duas edições do Meio.

Uma é esta. A primeira #paracurtircomcalma, exclusiva, onde saímos um pouco do noticiário para mergulhar em debates sobre o tempo atual. São sugestões para o fim de semana.

A outra, noticiosa, é a típica edição extra do Meio, que publicamos e enviamos para todos os assinantes sempre que notícia importante ocorreu. E, nesta sexta, assim foi.

— Os editores.

Edição de Sábado: Como Bolsonaro Surgiu

Em outubro de 1992, logo após a polícia paulista entrar no Carandiru e fuzilar 111, se instaurou uma comoção nacional. Jair Bolsonaro reagiu. “Morreram poucos”, disse. “A PM tinha que ter matado mais de mil.” Era ainda um deputado federal desconhecido, no segundo mandato. Até ali, vinha se elegendo com certo aperto, graças ao voto de militares do Rio. Mas começou então a deixar sua marca na extrema-direita da Câmara. Não há dúvidas de que é o personagem desta eleição, que desde a votação do impeachment encontrou um eleitorado cujo tamanho ainda não se conhece, mas que estava pronto para ouvir sua mensagem. Está nas livrarias Bolsonaro: o Homem que Peitou o Exército e Desafia a Democracia (Amazon), do jornalista Clóvis Saint-Clair. É um perfil de rápida leitura que organiza e apresenta a história do ex-capitão para quem deseja conhecê-lo.

E é curioso que logo ele tenha se tornado o símbolo dos militares, apoiado por tantos generais. Porque o Bolsonaro revelado por Clóvis foi um soldado que constantemente desafiava os superiores. Ainda na Academia das Agulhas Negras peitou um coronel em público: “O senhor está mentindo.” Escapou de punição. Mal nas disciplinas teóricas, destacado no preparo físico, era chamado de Cavalão. Já oficial, planejou espalhar bombas por quartéis, detalhou seus planos a uma repórter da revista Veja, e quando a matéria saiu publicada, negou tudo. Terminou absolvido por pouco no Superior Tribunal Militar. Mas, quando percebeu que insatisfeito com o resultado o alto-comando o processaria de novo, o capitão decidiu escapar com uma candidatura a vereador do Rio. E assim, ao encontrar uma saída para deixar um Exército que poderia vir a expulsá-lo, iniciou sua carreira política. Uma carreira que pode leva-lo ao Planalto.

Harari fala sobre o fascismo

O historiador israelense Yuval Noah Harari apareceu via holograma no TED deste ano para tentar definir o que é fascismo. Entre os anos 1920 e 30, foi um movimento paramilitar, uniformizado, totalitário, nacionalista e xenófobo. Caso reapareça, porém, será de outro jeito. Como reconhece-lo? Assista à palestra em inglês. Ou leia a transcrição em português. Ou veja este trecho:

Yuval Noah Harari: “O nacionalismo diz que minha nação é única e que lhe devo certas obrigações. O fascismo, por contraste, afirma que minha nação é suprema e que só a ela devo obrigações. As pessoas têm muitas identidades, são leais a distintos grupos. Posso ser um patriota, mas também ligado à minha família, minha profissão e à humanidade. Isto às vezes leva a conflitos. Mas quem disse que a vida é fácil? O fascismo ocorre quando as pessoas ignoram estas complicações. Ele nega todas as identidades com exceção da nacionalidade. O fascismo pode voltar, mas se o fizer será de um jeito novo, ligado às realidades do século 21. Nos tempos antigos, a política se dava na luta pela terra. Na modernidade, era o controle das máquinas. E uma ditadura ocorria quando a maioria das máquinas estava sob controle do governo ou de uma pequena elite. A democracia venceu o fascismo e o comunismo porque, com a tecnologia do século 20, era ineficiente concentrar e processar dados demais num só lugar. Com inteligência artificial, muda. Processamento de dados centralizado será mais eficiente que processamento de dados distribuído. Um sistema externo, como o governo ou empresas, poderá não só prever minhas decisões como também manipular minhas emoções. Então o que podemos fazer para evitar o retorno do fascismo e ascensão de novas ditaduras? A pergunta número um é: quem controla os dados? Os inimigos da democracia liberal têm um método. Eles hackeiam nossas emoções. Não nossos emails, não nossos bancos. Nossas emoções. O medo, a vaidade, e então usam estas emoções para polarizar e destruir a democracia por dentro.”

O maior ataque hacker da história

A capa da edição de setembro da revista Wired mergulha em NotPetya, o maior ataque hacker da história, ocorrido em julho de 2017. Em números frios, a estimativa do governo americano é de que custou ao mundo cerca de US$ 10 bilhões. É, porém, mais interessante do que isto: foi um ato de guerra das Forças Armadas da Rússia contra a Ucrânia. Guerra cibernética. E atingiu em cheio o país. Quatro hospitais em Kiev, seis empresas de energia, dois aeroportos, 22 bancos. Todo o governo. Máquinas de saque automático e de cartão. Por dias, os ucranianos tiveram de viver na base do dinheiro que tinham na mão. Só que, produzido para atacar o país, o vírus rapidamente se espalhou pelo mundo.

NotPetya misturava três programas. Uma ferramenta criada pela NSA vazada pelo Wikileaks; um software demonstração escrito por um especialista em segurança; e um vírus russo que havia circulado um tempo antes. O alvo de NotPetya era a Ucrânia mas os computadores do mundo estão interligados. Tal era sua capacidade de intrusão que, em horas, estava por toda parte. O repórter Andy Greenberg foca na AP Moeller/Maersk, empresa que controla 76 portos, 800 navios e transporta um quinto da carga no mundo. Todos seus computadores foram inutilizados em minutos. Como se transporta um quinto da carga do mundo sem softwares especializados, servidores potentes? Fizeram por duas semanas — com WhatsApp, Gmails pessoais e celulares. Uma operação de guerra, que passou até por um HD de becape encontrado por sorte em Gana. Sua fragilidade eram máquinas antigas com Windows de anos antes e uma política de atualizações frouxa. É a mesma história em inúmeras empresas mundo afora. Ninguém tem dúvidas de que acontecerá novamente. Na Maersk, o prejuízo com NotPetya foi de US$ 300 milhões. Não foi o pior caso. A farmacêutica Merck perdeu US$ 870 milhões.

Álcool, low carb, e o debate sobre estudos observacionais

Um novo estudo publicado na última semana causou polêmica na internet ao afirmar que não haveria nível de consumo seguro para a bebida alcoólica. Os autores defenderam que os riscos combinados à saúde associados ao álcool crescem com qualquer quantidade. Se você passar um ano consumindo diariamente apenas uma dose de álcool, o equivalente ao encontrado em uma pequena taça de vinho tinto, isso aumenta o risco de desenvolvimento de uma das doenças ou problemas relacionadas ao seu consumo em 0,5%. É pouco, mas vai crescendo conforme aumentam as doses diárias. O mesmo frisson foi visto com a publicação de uma outra pesquisa, recente, que associava a dieta low carb a uma redução na longevidade. E isso levanta um debate: quão definitivos são estudos que se baseiam apenas em observação e correlação?

O Vox se debruçou sobre a questão, explicando: os pesquisadores acompanham um grande número de pessoas que comem ou bebem determinados produtos e analisam suas taxas de doença ao longo do tempo, tentando gerar hipóteses para futuras pesquisas. Eles não podem, no entanto, realmente nos dizer se uma coisa causou outra coisa — apenas que os dois estão associadas. O New York Times complementa lembrando que esses estudos estão sujeitos a diversas variáveis não medidas — talvez as pessoas estudadas também fumem, se alimentem mal ou tenham problemas genéticos. Por fim, afirmam especialistas, vale lembrar: estudos observacionais em nutrição são geradores de hipóteses e não afirmações definitivas — e aquela taça de vinho no fim do dia não preocupa tanto assim.

E... Mencionamos, durante a semana, os 100 anos de Leonard Bernstein. A Bravo! foi além. Bernstein foi grande em três frentes distintas. Um grande maestro. Um grande compositor. E um grande educador, popularizador, explicador da música clássica em plena era do rock. Pois a turma da revista foi pedir a um maestro, a um compositor e a um educador que falassem um pouco destes lados.

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A rede social perfeita para democracias

24/04/24 • 11:00

Em seu café da manhã com jornalistas, na terça-feira desta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu que a extrema direita nasceu, no Brasil, em 2013. Ele vê nas Jornadas de Junho daquele ano a explosão do caos em que o país foi mergulhado a partir dali. Mais de dez anos passados, Lula ainda não compreendeu que não era o bolsonarismo que estava nas ruas brasileiras naquele momento. E, no entanto, seu diagnóstico não está de todo errado. Porque algo aconteceu, sim, em 2013. O que aconteceu está diretamente ligado ao caos em que o Brasil mergulhou e explica muito do desacerto político que vivemos não só em Brasília mas em toda a sociedade. Em 2013, Twitter e Facebook instalaram algoritmos para determinar o que vemos ao entrar nas duas redes sociais.

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