Edição de Sábado: As marcas de um país racista

O racismo é um jeito de organizar a sociedade. As relações sociais. Um jeito imposto, pois cria facilidades para uns enquanto nega a outros. Nos EUA, o racismo foi institucionalizado. Virou lei. Era, abertamente, o motivo de conflito entre Sul e Norte. Uma disputa econômica, na verdade, com a escravatura no centro. Fez parte do acordo para criação do país, quase o fez quebrar durante a Guerra de Secessão, institucionalizou-se século 20 adentro num conjunto de leis de segregação apelidadas Jim Crow. Teve, e continua tendo, seu pior rosto nos homens encapuzados de branco da Ku Klux Klan. Ocorre que, em cada país, o processo de racismo se dá de forma diferente. Se nos EUA esteve sempre assumidamente no centro do debate político, no Brasil ele sempre foi negado. Evitamos o conflito — é um de nossos traços culturais. Não porque o conflito não exista, mas porque nosso jeito de lidar é escamoteando. Por evitar o conflito aberto, deixa-lo só nas entrelinhas, é como se a sociedade fizesse um pacto de fingir que não há racismo. Nos EUA, o movimento negro jamais precisou provar qualquer coisa. Ele era declarado. No Brasil, precisa. Todos os dias. Cá nesta edição contaremos algumas histórias que mostram como se construiu o racismo brasileiro. Mas, antes, não custa apresentar alguns números. Porque eles dizem muito.

Entre os séculos 16 e 19, 12 milhões de africanos deixaram seu continente na direção das Américas pela Rota Atlântica da Escravatura. Foram sequestrados, comprados em portos dedicados ao tráfico humano, embarcados de maneira forçada. Porque as condições de viagem eram terríveis, aproximadamente 10 milhões chegaram ao Novo Mundo. Esta é, na história da humanidade, a maior migração marítima que jamais ocorreu. 4% destes homens e mulheres foram para a América do Norte. 11%, para a América Espanhola. 37% para as ilhas caribenhas — e não é à toa que de Jamaica a Cuba, do Haiti às Bahamas, a pele negra é onipresente. 45% dos africanos que vieram como escravos foram trazidos para o Brasil. Quase metade.

Há outro ponto importante de se ter em mente: sempre houve escravidão. O que a colonização das Américas pelos europeus trouxe de novidade foi o critério. Até ali, quem virava escravo em geral caía vítima de conflito político. Tribos inimigas, derrotas em guerras. Para colonizar as terras descobertas do outro lado do Atlântico, para justificar a escravidão de uma quantidade nunca antes vista de pessoas, os europeus precisaram construir um novo discurso, estabelecer um argumento. Primeiro dos ameríndios, depois, com mais intensidade, dos africanos. Para este processo ocorrer, desenhou-se uma explicação baseada na superioridade étnica. Começou com os portugueses. E esta história pode perfeitamente partir de Manuel de Borba Gato.

1.

Manuel de Borba Gato nasceu na cidade de São Paulo, provavelmente em 1649. Seu pai, João, era um português natural dos Açores e a mãe, Sebastiana, uma paulistana neta de gente que havia chegado ao Brasil já para viver naquelas cidadezinhas fundadas no entorno de São Vicente para início do projeto de colonização. O Brasil dos séculos 16 e 17 era dividido entre norte e sul. No norte, onde havia os grandes engenhos de açúcar, estava a riqueza. O sul sobrevivia, principalmente, do tráfico irregular de escravos para a América Espanhola. Borba Gato, viveria mais de 80 anos, se casou bem moço com uma das filhas de Fernão Dias Paes, o caçador de esmeraldas. Eram, todos eles, sertanistas — ou seja, naquele país ainda de mata atlântica fechada, lançavam-se pelo interior em grandes expedições, na busca de riquezas. Pedras, escravos. Sertanistas era o termo que usavam. Nós os chamamos bandeirantes.

O longo tempo da vida de Borba Gato foi marcado por conflitos. A geopolítica era complexa — ele nasceu no período em que Portugal havia se tornado independente da Espanha fazia pouco tempo e o dinheiro do jovem império era muito pouco. O negócio do açúcar estava em decadência porque as Antilhas começaram a competir no mercado internacional e as ofensivas holandesas contra Bahia e Pernambuco custaram muito à margem de lucro. Havia pressão para descoberta de ouro, de prata, de esmeraldas, qualquer coisa que pudesse criar uma nova fonte de riquezas. Mas não havia muito para investir nas grandes expedições. Por muito tempo houve embate entre os colonos do sudeste do Brasil e os jesuítas a respeito da escravidão de índios. Uma briga que Dias Paes viveu intensamente, mas que já havia ficado no passado quando Borba Gato se casou com sua filha mais velha. Eram expedições incertas, de muitos anos. A possibilidade de capturar escravos é o que as financiava.

A primeira grande expedição da qual Borba Gato participou foi a grande bandeira chefiada por seu sogro em 1674. Tinha 25 anos, já era pai de três filhas — ficaram sete anos no mato. Não era raro que fossem assim as explorações. Para Paes Leme, era a quarta grande bandeira de sua vida. A primeira, muitos anos antes, havia sido liderada por Antônio Raposo Tavares na direção do sul do país. Esta, a de 74, era diferente. Autorizada pelo governador-geral, cruzou a Serra da Mantiqueira e chegou a Minas Gerais. Um grupo destacado sob comando de Borba Gato se deteve de vale em vale na rota do rios das Velhas e da Morte, e os acampamentos que foi criando dariam origem futura a cidades, caso de Sabará.

Não sabemos em que momento exato se descobriu ouro em Minas Gerais. Mas o anúncio ocorreu na década de 1690, quando o rei português mudou as regras do jogo. Até lá, ouro descoberto no Brasil pertencia à Coroa. Aí mudou. Quem descobrisse poderia explorar, desde que repassasse um quinto ao rei. Um século depois, o quinto iria dar na Inconfidência Mineira. Mas, naquele momento, a coisa foi diferente. É muito provável que os bandeirantes já soubessem onde estavam os veios de metal precioso. Só não tinham motivo para declarar. Borba Gato liderou o estabelecimento das primeiras comunidades mineiras. Quando a grande descoberta passou a atrair portugueses em busca de riqueza, ele esteve no centro da Guerra dos Emboabas, o conflito sangrento entre os novos migrantes do reino e os paulistas. Era um homem brutalizado. Ninguém era diferente — viviam todos eles por anos na mata fechada, caçavam gente, flechas e tiros podiam vir a qualquer hora. Num destes conflitos, Borba Gato comandou a emboscada para o assassinato de um governador, Rodrigo de Castelo Branco. Aí passou anos escondido no interior selvagem até outro governador decidir perdoá-lo. As informações que tinha sobre a localização de minas valiam demais para a Coroa querer puni-lo.

Aquela virada de século 17 para o 18 marca o fim do tempo dos bandeirantes. Borba Gato foi o principal líder da última geração. Porque o ouro era muito, cidades foram nascendo Minas afora, e aos poucos o Brasil foi se transformando.

Importa mais a segunda história de Borba Gato — aquela após sua vida. Na década de 1920, a Primeira República estava em decadência e, São Paulo, numa crise. O problema era político e era econômico. Político porque o equilíbrio mantido pela alternância na presidência entre paulistas e mineiros começava a ser questionado por outros estados. Econômico porque, conforme a capital paulista se industrializava, operários se organizavam em sindicatos e faziam greves, enquanto uma nova elite, de migrantes principalmente italianos, se formava. E é aí que começam a aparecer livros. Vida e Morte do Bandeirante, de Alcântara Machado. História Geral das Bandeiras Paulistas, de Afonso de Taunay. O romance A Bandeira de Fernão Dias, de Paulo Setúbal. Quadros são pintados, esculturas encomendadas. Com Fernão Dias Paes no centro, mas Raposo Tavares e Borba Gato de satélites, uma visão sobre os bandeirantes é construída. Uma visão que os celebra como desbravadores do Brasil — o que é verdade —, mas também que os torna heróis. Foi uma forma de restabelecer a antiga elite, de nobilizá-la. “Paulista sou há quatrocentos anos”, afirmou Alcântara Machado em seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras.

O Estado Novo, que deu forma à maneira heroica de narrar a história brasileira, encampou a leitura dos quatrocentões. Foi uma das maneiras de apaziguar outro conflito — aquele de 1932, no qual São Paulo viveu o último suspiro da Primeira República. Encomendada nos anos 1950 mas inaugurada apenas em 1963, é esta a história que a escultura de Júlio Guerra eterniza no bairro de Santo Amaro, em São Paulo. Era lá que ficavam boa parte das terras de Borba Gato. Artisticamente, a obra não tem nem de perto o valor das esculturas de Fernão Dias e Raposo Tavares, que estão no Museu Paulista, ou da de Anhanguera, em frente ao Parque Trianon, as três datadas da década de 1920 e erguidas pelo genovês Luigi Brizzolara. Muito menos tem o valor do Monumento às Bandeiras de Victor Brecheret, em frente ao Parque Ibirapuera. Mas é ela, a estátua de Borba Gato, que inicia a polêmica a respeito de monumentos racistas no Brasil. A visão de história que ela foi erguida para contar não é mais uma que a academia reconhece. Até porque história enquanto propaganda pátria, tão comum na primeira metade do século 20, é apenas vista mesmo como propaganda na primeira metade do século 21.

O que não simplifica o debate. Afinal, o monumento perde cada vez mais o sentido de representar a maneira como se viu um dia os bandeirantes. Mas continua representando a ideia que o Brasil fazia de si mesmo num tempo bem mais recente.

2.

Quando Joseph Arthur de Gobineau chegou ao Brasil, em 1869, estava tomado por um profundo mau humor. Não queria ser embaixador naquele país de uma gente tão mestiça, tão longe da Europa. Mas ao conhecer dom Pedro II, mudou rapidamente de ideia. O conde de Gobineau tinha 53, o imperador, 44. E aquele príncipe de uma terra tão remota havia lido vários de seus escritos. Era um homem interessadíssimo em conhecimento, tinha muitas perguntas. Gobineau se tornou visitante cotidiano do palácio imperial aos domingos, ficaram amigos ligados por toda a vida. E frequente em suas conversas estava o Essai, o texto que já fazia do francês um homem célebre em inúmeros círculos intelectuais europeus. O Ensaio sobre a Desigualdade das Raças Humanas.

Seu argumento central, conforme analisava a história da humanidade, é que todas as grandes civilizações haviam tido seus destinos traçados por pessoas brancas. E que na raiz da decadência de todas as civilizações que foram grandes e perderam espaço estava a mistura étnica. O Brasil, ele tinha convicção, não tinha futuro. Desapareceria em dois séculos.

As teses de Gobineau, no século 19, não eram unânimes. Ele havia rompido com seu principal professor, Alexis de Tocqueville, justamente porque o filósofo refutou de cara e pelo valor de face a ideia de que cor de pele e o destino de civilizações pudessem ter qualquer conexão. Mas a publicação de A Origem das Espécies de Charles Darwin, e suas teorias a respeito da Evolução por Seleção Natural — para horror do próprio Darwin —, também seriam usadas para a defesa de uma visão científica do racismo, o Darwinismo Social. Gobineau seria um nome frequentemente lembrado nos círculos nazistas tantas décadas depois.

Não há indícios de que Pedro II fosse racista ou que concordasse com Gobineau. No Império do Brasil havia uma pequena classe média negra, em geral formada por filhos e netos de escravos mas, aqui e ali, também por ex-escravos. Algumas dessas pessoas, caso do engenheiro André Rebouças, eram também próximas do imperador — André chegou a se exilar com a família após a queda da Monarquia. O engenheiro não estava sozinho. Faziam parte deste conjunto na sociedade o escritor Machado de Assis, o poeta Cruz e Souza e os jornalistas José do Patrocínio e Luiz Gama.

Nos dois principais países escravocratas das Américas, o Brasil em primeiro, os EUA em segundo, a abolição foi imediatamente seguida de um rompimento que bloqueou transformações. No caso americano, o assassinato de Abraham Lincoln seguido da ascensão de um político do sul escravocrata à presidência não pode reverter a liberdade, mas bloqueou o avanço da integração. No Brasil, foi a República. A Lei Áurea foi assinada em 1888 e, a República, proclamada em 1889, num movimento que contava com o apoio de um bom naco daqueles que perderam mão de obra escrava.

Nos conflitos políticos do tempo, abolicionistas não eram necessariamente monarquistas. Alguns dos principais líderes, como Rebouças ou Joaquim Nabuco, eram leais ao imperador. Outros, como Luiz Gama, defendiam com ardor a ideia de uma república democrática. Mas a instauração de um novo regime imediatamente após a abolição, a necessidade de lidar com uma dívida imensa, de estabilizar uma forma de governo, de construir uma Constituição, foi um projeto de uma década e meia. A Primeira República começou a se organizar de fato no governo de Campos Salles, o quarto presidente.

O censo de 1872 foi o único a registrar a população escrava: 15% dos brasileiros eram cativos. Se o percentual de africanos que vieram para o Brasil como escravos assusta, afinal são quase metade, no século 19 já era muito pior. Mais de 80% do tráfico de seres humanos do mundo veio para cá. Quando a Lei Áurea foi aprovada, a festa tomou conta das ruas. Àquela altura, havia aproximadamente 700 mil pessoas que ainda viviam sem liberdade, condenadas pela vida ao trabalho forçado. Mas uma carta escrita por ex-escravos um deputado na Corte dá conta do problema. “Nossos filhos jazem imersos em profundas trevas. É preciso esclarecê-los e guia-los por meio da instrução.” Não aconteceu.

O Brasil não teve leis de segregação como os EUA. Porém não se mexeu para fazer qualquer coisa em relação aos homens e mulheres que, repentinamente, estavam livres —analfabetos, desempregados e sem rumo.

3.

Não são poucas as diferenças entre as maneiras como EUA e Brasil lidaram com a escravidão. Casos como o descrito por este Meio na última Edição de Sábado, do presidente Thomas Jefferson que teve vários filhos com uma de suas escravas, não são típicos por lá. Mas no Brasil, são. Portugal era um país pequeno. Os bandeirantes falavam tupi. Embora os líderes celebrados fossem filhos e netos de europeus, boa parte deles eram mamelucos ou mesmo índios. Andavam pela mata de pés descalços e suas principais armas eram os arcos longos. Sua cultura não era europeia, mas uma mestiça como sua etnia. Estava na língua, nas redes em que dormiam, no peixe com farinha de mandioca queimada que comiam. Nas Minas Gerais do ciclo do ouro, mulheres brancas eram raríssimas e, portanto, boa parte dos casamentos ocorriam com mulheres escravizadas que raramente tinham escolha. Mas o Brasil é mestiço. Todo brasileiro que descende de brasileiros da primeira metade do século 18 para trás tem, certamente, DNA subsaariano e, se do sudeste, ameríndio. Mesmo que seja branco.

Após a Primeira República, houve uma explosão de conhecimento a respeito do Brasil cujo marco é a publicação de Casa-Grande e Senzala, de Gilberto Freyre. O sociólogo pernambucano fazia ali um corte, porque o discurso a respeito de etnia no Brasil, embora não fosse escancarado como o do conde de Gobineau, se baseava em ideias de racismo que se disfarçavam em ciência. Mas Freyre, um escritor excepcional dado a particular sensibilidade na forma como descrevia costumes, sugeria outra tese. E em cada descrição que fez de meninos escravos e meninos filhos de senhores brincando, consolidou, sem nunca citar a expressão, a ideia de que, no Brasil, haveria uma democracia racial. Um país cego para cor de pele. Foi lançado nos anos 1930. Começou a ser desafiado por Florestan Fernandes, nos anos 1950. “Não existe democracia racial efetiva”, escreveu Fernandes, “onde o intercâmbio entre indivíduos pertencentes a ‘raças’ distintas começa e termina no plano da tolerância convencionalizada. Esta pode satisfazer às exigências do bom-tom, contudo não aproxima realmente os homens senão na base da mera coexistência no mesmo espaço social.”

A tese de Freyre foi um avanço ao mesmo tempo em que criou uma barreira difícil de transpor. Exatamente no momento em que os EUA mergulhavam mais fundo na segregação legal, em que o fascismo racista ascendia na Europa, o Brasil se apresentava como o país no qual racismo não existia. Assim, não precisou enfrentar a questão. Ainda hoje, nega o problema. Um problema difícil de negar num tempo de estatísticas abundantes.

Os dados são do IBGE. Cargos gerenciais, no Brasil, são ocupados 68,6% por brancos e, 29,9%, por pretos ou pardos. Num país desigual, 15,4% dos brasileiros brancos recebiam menos de US$ 5,50 ao dia — valores de 2018. E 32,9% de pretos ou pardos. 34 brancos em cada cem mil jovens são assassinados. 98,5 pretos ou pardos. Três vezes mais. A Câmara dos Deputados é formada por 75,6% de brancos ou outros. Com exceção dos 24,4% que são pretos ou pardos. 3,9% da população é analfabeta e branca. 9,1% da população é analfabeta, preta ou parda. O relatório dá só números e descreve com clareza um país racista.

Para se ter em perspectiva: mais de metade da população é preta ou parda. O Brasil é racista.

O racismo é um jeito de organizar a sociedade. As relações sociais. Um jeito imposto, pois cria facilidades para uns enquanto nega a outros.

Resistir e ser negro, no Brasil

Serge Katz e Silvio Almeida: “Na comparação, muitas pessoas afirmaram que, ao contrário dos negros brasileiros, estadunidenses, franceses e sul-africanos não hesitam em tomar iniciativas defensivas ao adotarem a ação direta e violenta contra o racismo. Em texto publicado na Folha, um colunista chegou a afirmar que o negro brasileiro, ao contrário do negro na França, na África do Sul ou nos Estados Unidos, não se enxerga como povo. Esse pensamento carrega vários equívocos, dentre os quais erros de análise e, paradoxalmente, uma absorção, muitas vezes involuntária, de um discurso gerado pela dinâmica do racismo no Brasil. É preciso deixar claro que não adotar a ação direta como modo privilegiado de ação contestatória não significa que outros repertórios de ação não serão adotados ou que não foram adotados. O racismo é estrutural, mas a resistência ao racismo também pode ser feita no âmbito das lutas institucionais. Como, por exemplo, analisar a política de cotas raciais e sociais senão como resultado de lutas do movimento negro? Como não considerar a adoção da autodeclaração racial como modo de definição da identidade individual, usada até mesmo para concursos públicos e estatísticas do IBGE, senão como uma conquista das lutas raciais promovidas pelo movimento negro brasileiro? O fato é que a absorção das demandas do movimento negro pelas instituições absorve também a violência com que o movimento negro teve que se deparar ao fazer reivindicações.” (Folha)

Em meio a pandemia, queimadas na Amazônia devem piorar este ano

As queimadas na Amazônia neste ano devem ser ainda maiores do que as de 2019, quando ganhou atenção internacional. As terras desmatadas são normalmente incendiadas para a pecuária e agricultura durante o período mais seco que vai até outubro. Pelo menos 4.500 km² de terra já foi nivelada e preparada para as queimadas que vão começar a partir de julho, segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). Essa área pode chegar a 9 mil km².

Esse período vai coincidir com o qual muitos epidemiologistas acreditam que será o pico da pandemia no Brasil. A região já é uma das mais afetadas pela Covid-19 e pode ter o seu sistema de saúde ainda mais sobrecarregado devido ao desmatamento. A supressão de cobertura vegetal transforma o PH ácido da floresta não degradada em PH próximo ao neutro, o que cria condições favoráveis para proliferação de doenças como dengue, chikungunya e zika. Nos últimos dois anos, o número de casos de malária duplicou, ao mesmo tempo que aumentou o desmatamento.

O desmate deste ano está sendo impulsionado pelo sentimento predominante entre madeireiros e mineiros ilegais de que não serão punidos ao derrubar a floresta. Em abril, Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, disse na reunião ministerial que, com o foco na pandemia, estava “passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas”. Algumas dessas medidas foram demissões e trocas no Ibama, uso das Forças Armadas para fiscalizar a região em vez dos órgãos ambientais e um decreto que atribuiu ao Ministério da Agricultura a definição das áreas que podem ser desmatadas.

O resultado está aí: 2.032 km² foram desmatados de janeiro a maio — o maior nível desde 2015, o início da série histórica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Só para ter uma ideia, essa área devastada é 33% maior do que a cidade de São Paulo. O número indica uma tendência de alta. O desmatamento neste ano poderá atingir 11,9 mil km² frente aos 10,1 mil km² em 2019, quando a Amazônia perdeu uma área equivalente a quase dois mil campos de futebol — o maior nível desde 2008.

O aumento no desmatamento da Amazônia deve colocar o Brasil na direção contrária a do mundo. Enquanto o planeta deve ter uma queda de 6% na emissão de gases de efeito estufa devido às quarentenas, por aqui elas devem subir entre 10% e 20%.

Um documentário sobre um grupo de nativos contra o desmatamento ilegal. Assista.

E um podcast com o fotógrafo Sebastião Salgado sobre o risco da Covid-19 na região. Ouça.

A experiência de visitar um museu em Berlim na era do distanciamento social

Em Berlim, o mundo da arte está reabrindo. E a colunista Kimberly Bradley, do Art Review, escreveu sobre a experiência após visitar diversos museus da cidade. A recepção incomum e calorosa dos funcionários chamou sua atenção, especialmente no Gropius Bau, onde o artista Lee Mingwei expõe Li, Gifts and Rituals. A exposição, coincidentemente, aborda momentos íntimos da vida cotidiana e ressoa com “nosso desejo renovado de conexão humana”, escreveu Kimberly.

Mas como reformular uma exposição que envolve contato e interação? Stephanie Rosenthal, diretora da Gropius Bau, explicou que os museus também estavam ocupados elaborando a melhor maneira de orientar a equipe e os visitantes para a reabertura. The Dining Project, 1998, uma peça na qual o artista cozinha e janta com um convidado, agora acontece via Zoom. Outras peças foram ligeiramente modificadas.

As novas regras exigem que os visitantes mantenham uma distância de 1,5 metro. Guardas e funcionários devem usar máscaras. Em Gropius Bau, apenas uma pessoa pode ocupar um banco de observação. Questões que são menos problemáticas na Gemäldegalerie, onde os bancos têm metros de comprimento, ou na Berlinische Galerie.

“Como espectadora, aprecio a desaceleração, a intimidade e o espaço para respirar que esse novo normal oferece, mesmo que essa respiração seja através de uma máscara. Aprecio profundamente o privilégio de poder revisitar meu espaço sagrado pessoal, o museu; um que eu espero que dure. E há também a estranha sensação reconfortante de que a cena artística de Berlim de repente se tornou local, improvisada e mais colaborativa, como foi no final dos anos 90 e início dos anos 2000”, finalizou.

A história da guerra dos consoles

O mundo da tecnologia é pródigo em grandes disputas por padrões. Já vimos a guerra IBM vs Burroughs, Betamax contra VHS, Windows vs Mac, Guerra dos browsers. CDMA vs GSM nos celulares e tantas outras quando se mergulha em tecnologias mais específicas. Mas uma dessas disputas é especial e se repete mais ou menos a cada cinco anos. É a guerra dos consoles de videogame.

Pois é, estamos assistindo agora às primeiras trocas de tiro da oitava geração desta guerra. Desta vez, depois de longos 7 anos de uma certa tranquilidade. Tudo começou no começo dos anos 70 quando a Magnavox, que já era uma tradicional produtora de equipamentos de áudio e vídeo, comprou os direitos de comercialização de uma certa caixa marrom. Criada por Ralf Baer, era uma caixa que ligada à TV permitia jogar alguns jogos simples, entre eles um ping pong, em que duas barras rebatiam uma bola quadrada de um lado para o outro. A empresa chamou aquela caixa de Odyssey e lançou em 1972. No mesmo ano foi fundada uma pequena startup no Vale do Silício. Chamava-se Atari e começou também a vender umas caixas que permitiam as pessoas jogassem em suas TVs. Depois de uma série de evoluções de lado a lado, a Atari lançou em 1977 o Atari 2600. Era tão superior à qualquer outro aparelho da época que acabou sendo o grande vencedor da primeira geração da guerra dos consoles. Em seu pico, em 1982, o Atari 2600 vendeu 8 milhões de unidades.

Em 1985 tudo mudou. O mercado de videogames parecia estar perdendo o gás e as vendas caíam. Foi então que uma empresa japonesa, chamada Nintendo, resolveu levar para os EUA um console que começava a vender bem no Japão. Chamava-se Famicom, de Family Computer, mas para este lançamento, foi ganhou um nome novo. NES, Nintendo Entertainment System. Um de seus principais jogos foi desenvolvido em cima de um personagem de outro jogo famoso, o Donkey Kong. Mas dessa vez, o encanador Mario, ganhou um jogo todo para ele. Foi um imenso sucesso. Na década seguinte vendeu mais de 30 milhões de unidades e deu início a uma série de franquias de jogos como Super Mario, Zelda e Mega Man.

Nesta época já existia a Sega, que tentava, sem muito sucesso, encontrar seu espaço com seu console Master System. Foi em 1989 que a Sega fez uma aposta certeira. Percebendo que no mundo dos computadores os chips de 8 bits tinham perdido espaço para os novos PCs de 16 bits, lançou o Sega Genesis, de 16 Bits, gráficos impressionantes para a época e um slogan atrevido: Genesis does what Nintendon't. Junto com isso licenciou jogos com nomes de grandes atletas da época, como um jogo de futebol americano com Joe Montana e um de basquete com Pat Riley, Buster Douglas de Boxe e até mesmo um jogo baseado no filme Moonwalker de Michael Jackson. A Nintendo correu atrás e também lançou seu console de 16 bits, o Super Nintendo. Que apesar de perder a batalha nos EUA, acabou vencendo no mercado global e vendeu quase 50 milhões de unidades no mundo inteiro.

Nos meados dos anos 90, o CD dominava o mercado de música e começou a ser usado em computadores. A Sega foi a primeira a lançar um console com CD, o Sega Saturn, mas logo depois, um novo competidor entrou no mercado. A Sony, com seu primeiro Playstation. Também com jogos em CD e custando US$ 100 a menos que o concorrente. Enquanto isso a Nintendo resolveu apostar no 64 bits com o Nintendo 64. Foi a era em que os jogos se tornaram tridimensionais. Enquanto o Saturn foi um grande fracasso, vendendo menos do que 10 milhões de unidade, a Nintendo vendeu 33 milhões de seu N64. Mas ambas ficaram comendo poeira perto das mais de 100 milhões de unidades vendidas pelo Playstation, puxadas pelo imenso volume de jogos desenvolvidos por terceiros.

Entrando nos anos 2000, a Sony repetiu a estratégia e apostou no DVD como meio para seu novo Playstation 2, que bateu todos os recordes de vendas, com mais de 150 milhões de unidades, e manteve a liderança do mercado enquanto via surgir um novo rival pelo retrovisor. A Microsoft, que saída vitoriosa das guerras dos PCs e dos browsers apontou seus canhões para o mercado de videogames lançando seu primeiro Xbox. Enquanto Nintendo com seu Gamecube e Sega com o Dreamcaster ficavam para trás.

Em 2005 a Microsoft resolveu copiar a estratégia bem sucedida da Sega da época dos 16 bits, lançando o sucessor de seu console, o Xbox360 antes da nova versão do Playstation. A Sony continuava apostando no aumento da capacidade de discos, um dos motivos do atraso do PS3 é que ele estava aguardando o lançamento da nova tecnologia que substituiria os DVDs, o Blueray. Por conta disso o PS3 foi lançado não apenas depois, mas também por um preço mais caro do que seu concorrente. Foi um período de muita luta e muitas discussões. Com o tempo a Sony conseguiu alcançar a Microsoft e acabou vendendo um pouco mais de consoles do que sua rival, ambos na faixa de 80 milhões de unidades. Enquanto isso, a Nintendo resolveu correr por fora e apostar na simplicidade e focar, não no gamer hardcore, mas sim no jogador eventual, com seu Nintendo Wii que foi um sucesso para famílias com crianças pequenas e que acabou vendendo 110 milhões de unidades.

Em novembro de 2013, Sony e Microsoft lançaram quase que juntas suas novas gerações. PS4 pela Sony e Xbox One pela Microsoft. Mas desta vez a disputa não chegou nem a esquentar, como conta Erik Kain na Forbes, a Sony deixou a Microsoft comendo poeira desde o início. Seu Playstation 4 já vendeu mais de 110 milhões de unidades enquanto o Xbox One não chegou nos 50 milhões. Já a Nintendo, lançou uma versão nova de seu Wii em 2012 que acabou sendo um grande fracasso.

Agora, estão todos de olho na próxima batalha, tanto Sony como Microsoft esperam lançar as novas versões de seus consoles no final deste ano. Essa semana a Sony apresentou alguns detalhes de seu PS5 e um foco muito grande nos jogos que serão lançados para ele. Enquanto a Microsoft já havia anunciado no finalzinho do ano passado alguns detalhes de seu Xbox Series X e uma série de games. Estaremos aguardando os próximos capítulos dessa disputa.

Enquanto isso... A Nintendo, que que em 2017 lançou seu Nintendo Switch, um novo conceito de console, de novo focado no jogador casual, vem vendo suas vendas crescendo. Faturou US$ 235 milhões em vendas só no último maio nos EUA.

Veja: a lista de consoles mais vendidos no mundo.

E como há de ser, os mais clicados da semana:

1. Instagram: Homenagem de Banksy a George Floyd.

2. Twitter: Em gráfico – Brasil ultrapassa os EUA e assume a liderança em novos casos de Covid-19.

3. BBC: Galeria – Os fotógrafos que estão mudando a forma como vemos os animais.

4. Instagram: A proposta de Banksy para a estátua de Colston que foi derrubada em Bristol.

5. Galeria: Nelis Womarans e suas fotos de grandes símios.

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