Edição de Sábado: Os caminhos para uma vitória Biden

Ninguém, na campanha de Joe Biden, acha que sua atual liderança será mantida no nível atual. A larga diferença que se firmou entre o ex-vice-presidente de Barack Obama e Donald Trump deve diminuir nos próximos meses. Ainda assim, em inúmeras pesquisas nacionais são mais de dez pontos de vantagem. A última vez em que um candidato à presidência esteva assim tão à frente na virada de julho para agosto foi quando Bill Clinton venceu Bob Dole, em sua campanha de reeleição, no ano de 1996. No pós-guerra, em todos os momentos nos quais o candidato à reeleição entrou o segundo semestre atrás, ele perdeu. Foi assim com George Bush, o pai, como foi com Gerald Ford e Jimmy Carter. Os sinais não são bons para Donald Trump. Ainda assim, aproveitar esta vantagem é chave para Joe Biden. E saber aproveitar-se dela depende de uma correta leitura do cenário, do desejo dos eleitores. Nesta próxima semana, o candidato democrata vai anunciar quem escolheu para a vice-presidência. O nome dará para o mundo exterior uma pista de como Biden lê o quadro e que aposta estratégica fez.

Os dois grandes partidos americanos são grandes tendas, com muita variação ideológica interna. Dos anos 1990 para cá, se firmou uma tendência dupla. Enquanto o Partido Republicano guinou para a direita, o Democrata se firmou no centro. Estes movimentos não são acidentais. Eles representam apostas que líderes fazem em certos grupos sociais. Neste momento, o dilema que Joe Biden precisa enfrentar é simples. Se ele se inclina para a esquerda, como está sendo pressionado a fazer pela base mais jovem e entusiasmada do partido. Ou se busca o centro, que Clinton e Obama representaram em seus governos.

Quando se elegeu pela primeira vez, em 1992, Bill Clinton se apresentava como a nova geração do partido. Seria o primeiro presidente americano nascido após a Segunda Guerra. Era uma mudança radical — desde Dwight Eisenhower, todos os presidentes haviam servido no conflito. Mas, no discurso, Clinton se afastava também de um forte viés social-democrata que se estabelecera no partido após o assassinato de John Kennedy. O slogan que tornaria James Carville, seu principal assessor de campanha, famoso também tratava desta virada. É a economia, estúpido frequentemente é citado por um de seus significados. Quando a economia vai mal, presidentes perdem popularidade. Quando vai bem, importam pouco seus defeitos pessoais, as pesquisas mostram bem posicionado o chefe do Executivo. Mas o slogan tinha outra mensagem embutida. Avisava, aos eleitores, que este candidato democrata não sairia gastando a torto e a direito. Que cuidar bem da economia seria sua prioridade.

A Terceira Via, como este movimento feito por partidos de centro-esquerda em todo o mundo ficou conhecido, era uma resposta a outro movimento de quase duas décadas antes. Após sucessivas derrotas, um pedaço da direita encontrou, na economia, um caminho para se reposicionar. O que políticos como Margaret Thatcher e Ronald Reagan propuseram ao mundo era um híbrido de conservadorismo nos costumes e liberalismo econômico na linha da Escola Austríaca, a mais desconfortável com interferências do Estado. Foi uma combinação de grande sucesso eleitoral. Sentindo que não havia mais tolerância para um Estado gastador, Clinton, assim como Tony Blair no Reino Unido, apresentaram-se como liberais em tudo. Nos costumes e na economia, mas não necessariamente com a rigidez dos austríacos. Haveria espaço para políticas sociais. Bem menos do que como nos governos de Lyndon Johnson e Jimmy Carter, mas além do que haviam feito os republicanos.

Desde então, nos EUA, o Partido Republicano passou a enfrentar um conflito interno, um debate sobre que caminho seguir. De um lado, políticos como John McCain e Mitt Romney defendiam versões de uma continuação do legado Reagan. Mas lentamente foi crescendo dentro da legenda um novo conservadorismo, mais radical no discurso, e menos compromissado com o liberalismo econômico. Donald Trump representa esta turma.

As mudanças de bússola política não vêm do nada: correspondem a transformações econômicas e demográficas de toda sorte. O que marca o período entre os anos 1990 e hoje é o processo de globalização. Abrir mais as fronteiras para gente e negócios traz consequências. A desregulamentação do setor financeiro, idem. Então, simultaneamente, dois fenômenos sociais se consolidaram.

Um se deu nas grandes cidades das Costas Leste e Oeste, que sempre tiveram maioria de eleitores democratas. A população se tornou mais cosmopolita, mais ligada ao mundo. Houve aumento de tolerância com a diferença em todos os níveis. Desde questões de gênero, com campanhas inclusive para ampliação de direitos, até consumo. Restaurantes com comidas estrangeiras, maior variedade de sotaques falados nas ruas, e interesse generalizado pelo que é estrangeiro. Ao mesmo tempo, a população de origem latino-americana começou a crescer. Assim, o aumento de diversidade, nos EUA, levou os americanos do miolo, em cidades pequenas e zonas rurais, no sentido contrário daqueles das duas costas. Reforçou o nativismo e as saudades de um país que sentiam perder. Um país, em seu imaginário, mais branco — um país que nunca houve de fato.

A globalização é um fenômeno complexo e não veio sozinho. Veio junto com a digitalização da economia e, por consequência, automatização que começou na indústria. Muitos ramos da economia estão sendo obrigados a se reinventar de todo, inclusive nos modelos de negócio. O resultado inevitável são demissões e um sentimento generalizado, para muitos, de inadequação. De que a nova economia não oferece mais oportunidades. O resultado agregado, para a sociedade, foi um de aumento da desigualdade de renda.

Make America great again, o slogan da campanha Trump em 2016, buscava encontrar estas diversas ansiedades que remetiam a uma nostalgia de um passado industrial. Os EUA do período Eisenhower, nos anos 1950, foram atípicos. Foi o tempo de menor imigração na história do país, e de imenso crescimento econômico. Operários nas fábricas tinham empregos que lhes punham confortavelmente na classe média e a televisão estava surgindo: uma TV até ingênua que, na programação, fazia parecer que o país era predominantemente branco. A geração que hoje chega aos 70 foi criada neste período e tem esta visão, estereotipada, do que é o país. Trump representa, de certa forma, o anti-Reagan. Não quer para os EUA um papel de liderança no mundo, busca fechar e proteger a economia interna, e não perde oportunidade de acenar para o racismo dos grupos mais radicais. É, nisto, também o anti-Bush. Os Bushes, pai e filho, apostavam na possibilidade de o Partido Republicano ser capaz de atrair hispânicos e negros, apostando no caminho de um conservadorismo compassivo cristão. Dois dos mais poderosos ministros do gabinete Bush filho, Colin Powell e Condoleezza Rice, eram negros. Jeb Bush, seu irmão, fazia campanha discursando em espanhol.

Eleições presidenciais, nos EUA, são um jogo de xadrez pois o que vale não é o total de votos da população. Desde 1990, o partido republicano só venceu uma vez o total de votos da população — a reeleição de George W. Bush. Em todos os outros pleitos a vitória foi democrata, incluindo a eleição de 2000, que Al Gore ganhou, e a de 2016, que Hillary Clinton levou. Mas o que vale é a eleição no Colégio Eleitoral, os 538 representantes escolhidos por cada um dos 50 estados. Estados maiores, como a Califórnia e o Texas, têm direito a mais eleitores — 55 e 38, respectivamente. Estados menores, a menos. Só que a distribuição não é proporcional e, com exceção de dois estados, o vencedor leva tudo. Gore perdeu de Bush por 537 votos num universo de 6 milhões, na Flórida. Bush levou os 29 eleitores do estado e ganhou a corrida no Colégio Eleitoral.

O resultado é uma eleição que se joga de uma maneira diferente. Não é uma eleição nacional. Nenhum candidato democrata faz campanha em Nova York ou na Califórnia — são estados que sempre votam no partido. Os eleitores daqueles estados já são garantidos. O que conta são os swing states, estados de médio porte que oscilam entre um partido e outro. E, aí, se apresenta uma segunda dificuldade: o voto não é obrigatório. Desta forma, é preciso mobilizar grupos grandes de eleitores a deixar suas casas para votar.

É assim que funciona uma estratégia de vitória eleitoral em eleições presidenciais americanas. Os estrategistas selecionam os estados que, consideram, serão capazes de vencer. Aí, nestes estados, pinçam que grupos demográficos conseguirão atrair no dia do pleito. A mensagem da campanha é direcionada a estes grupos. Desta forma, embora seja uma campanha para presidente de todo o país, a preocupação real é com nichos sociais relativamente pequenos e geograficamente isolados. Em 2016, com seu Faça a América grande de novo, Trump atraiu operários em estados do Cinturão da Ferrugem que, normalmente, votariam em democratas. Apelou para aquela nostalgia de quando a indústria americana era poderosa. Mandou duplo sinal. Por um lado, o discurso de que traria fábricas de volta. Por outro, que políticas sociais voltadas para minorias tiram oportunidades de brancos pobres.

Neste momento, os estrategistas da campanha Biden estão debruçados sobre mapas de cada um dos estados-chaves divididos por condados, enquanto checam tabelas de estatísticas demográficas. Ele tem dois caminhos a seguir. Cai à esquerda ou se mantem ao centro, na linha de Clinton e Obama. A mulher que ele escolher de vice apontará a aposta feita: alguém que reforça seu perfil de Terceira Via ou que complementa, atraindo a esquerda.

Ruy Teixeira, um dos mais influentes demógrafos democratas, aponta que a vantagem do candidato perante Trump se apresenta pela migração de votos dos americanos com mais de 65 anos. Hillary perdeu este público para Trump por 15 pontos de diferença. Biden encabeça o mesmo grupo com uma vantagem de 6 pontos. É uma transferência muito grande, ao todo 21 pontos percentuais que Donald Trump perdeu. O comportamento do presidente, sua política desastrosa no combate do novo coronavírus e a má situação da economia são responsáveis por esta transferência.

O problema é saber quão estáveis são estes votos. Estes eleitores são em geral brancos — quatro em cada cinco —, preferem que existam restrições a imigração, e têm maior intolerância com questões de gênero. Isto posto, são favoráveis a aumento do salário mínimo, a saúde pública e políticas de distribuição de renda em geral. Boa parte dos votos que Trump teve e perdeu nesta faixa etária é de mulheres. E este grupo é ainda mais importante por ser maioria em estados que podem oscilar, como Arizona, Michigan, Wisconsin, Pensilvânia e Flórida. Políticas redistributivas já fazem parte da campanha Biden — economistas social-liberais em todo o mundo vêm apontando para esta necessidade.

Só que, dentro do partido, há pressão para uma guinada à esquerda em busca de votos que precisam ser conquistados porque representam o futuro do partido. O dos mais jovens, que com entusiasmo se engajaram nas campanhas de Bernie Sanders e Elizabeth Warren durante as primárias, que representam uma visão mais Jimmy Carter e Lyndon Johnson de governança. O medo é de que, desanimados, eles não compareçam às urnas. A esperança é outra. É de que votem em Biden porque perante Donald Trump, qualquer um serve. Mesmo um centrista.

O PIB americano despencou 32,9% no trimestre encerrado em junho. O índice é contado oficialmente desde 1947 — o recorde anterior foi o primeiro trimestre de 1958, quando caiu 10%. Durante a recessão de 2008, o último trimestre registrou queda de 8,4%. Quando se estende a visão para os últimos doze meses, a queda é de 9,5%. Também recorde. Para Trump, o problema é grande. O crescimento econômico do país era o que pretendia usar como bandeira em campanha.

No mesmo dia em que o PIB foi anunciado, Trump sugeriu no Twitter que a eleição fosse adiada. A lei determina que ela ocorra na terça-feira que segue à primeira segunda-feira de novembro, no ano eleitoral. Nem durante a Guerra Civil, tampouco durante a Segunda Guerra, uma eleição presidencial foi adiada. Trump argumenta que a ideia deveria ser considerada porque, ele sugere, votos por correio são sujeitos a fraudes.

Não há qualquer estudo que confirme a tese. Mas, por conta da pandemia, um imenso volume de votos deverão ser depositados por correio neste pleito. Os democratas trabalham com um cenário de pesadelo: como a eleição de 2000, só que pior. Em 2000, porque o resultado na Flórida foi tão apertado, as cédulas vindas pelos correios poderiam fazer o resultado pender para um lado ou para o outro. Pela primeira vez em muito tempo, não deu para definir na noite da votação o vencedor e uma disputa judicial teve início. O mesmo pode acontecer de novo e em vários estados ao mesmo tempo. Trump, acreditam os democratas, provavelmente questionará o resultado final. Pode ser até pior. Como são justamente os eleitores idosos que podem hesitar mais na hora de votar pessoalmente, não é difícil imaginar um cenário no qual ele pareça vencer inicialmente mas perca quando os votos a distância chegarem.

Já há pelotões de advogados prontos para o trabalho.

Uma vitória democrata poria a política do governo brasileiro em xeque. Não importa para onde penda uma presidência Biden, se centro ou esquerda, a política ambiental será muito diferente e o combate às mudanças climáticas começará de imediato. O resultado é que os EUA se juntarão à União Europeia em pressão contra o Brasil pela preservação da Amazônia. Podem impor sanções comerciais. Dos grandes compradores das exportações agrícolas brasileiras, sobrará a China. Que o Itamaraty vem hostilizando.

Caso Biden vença, o problema surgirá justamente quando o Brasil estiver tentando se reerguer da crise econômica.

2020 era para ser ano dos carros autônomos nas ruas

2020 era para ser o ano em que os carros autônomos estariam nas ruas. Porém o desenvolvimento da tecnologia tem levado mais tempo do que o esperado. E a pandemia tornou ainda mais difícil.

Mesmo antes do distanciamento social, as empresas já estavam recalibrando as expectativas. No início de 2018, a General Motors prometeu ter uma frota de táxis autônomos em São Francisco até 2020. Mas desde ano passado, a data de lançamento está em aberto. A promessa da Tesla de ter um milhão de táxis robôs na estrada até o final do ano passado também foi adiada para 2021. Enquanto a Ford adiou sua meta para 2022.

Recentemente Elon Musk, o CEO da Tesla, renovou a promessa e disse que os carros autônomos estão “muito próximos” de se tornarem realidade. Mas especialistas concordam que a pandemia deve mudar esses planos.

Com a quarentena, muitas dessas startups tiveram que paralisar seus testes nas estradas, o que deixou vulnerável os seus modelos de negócios. Muitas ainda não têm receita e os custos operacionais são muito altos: gastam em média US$ 1,6 milhão por mês — quatro vezes a taxa de fintechs ou de healthtechs, de acordo com o PitchBook. Algumas já estão sentindo. A Zoox estava prestes a ficar sem dinheiro quando a Amazon a comprou por US$ 1,3 bilhão no mês passado — quase US$ 2 bilhões a menos que sua avaliação dois anos antes. A Cruise, adquirida pela GM em 2016, adiou indefinidamente seu plano de implantação e se concentrou mais na entrega de mercadorias do que no transporte de passageiros.

É uma mudança brusca do otimismo da última década. A corrida por veículos autônomos ganhou tração quando o Google iniciou o seu projeto secreto de carro autônomo em 2009, que em 2016 se tornou a startup Waymo. Nos anos seguintes, montadoras como Nissan, Mercedes-Benz, Tesla, Audi e Volvo entraram na onda. E parcerias dessas empresas com startups começaram a pipocar.

O mercado foi transformado quando o Uber surgiu em 2013. Os consumidores adoravam carona, mas Uber e Lyft não eram lucrativos. Isso oferecia aos carros sem motorista um modelo de negócio em potencial: livrar-se do motorista, supunha-se, e você teria lucro operando em praticamente qualquer cidade do mundo.

O hype atingiu o pico em 2018. A Waymo fez um acordo com a Jaguar para adquirir até 20 mil SUVs elétricos, o suficiente para “um milhão de viagens em um dia típico” e o Citibank projetou que o mercado autônomo de carona nas cidades dos EUA poderia valer US$ 350 bilhões por ano.

A tecnologia, porém, não acompanhou. Uma das grandes dificuldades ainda é desenvolver um sistema de inteligência artificial que esteja preparado para eventos imprevisíveis do trânsito, como uma movimentação inesperada de um pedestre e ciclista. Em 2018, um dos veículos autônomos do Uber matou um pedestre e muitas empresas pararam temporariamente seus testes.

De todas as startups, a Waymo é a que está mais na frente: é a única que removeu os motoristas de segurança dos seus veículos, em 2017, mas apenas nas estradas em Phoenix, nos EUA. Pouco antes da pandemia, oferecia entre mil e duas mil viagens por semana pelo Lyft, das quais 5% a 10% eram sem motorista. Outras startups atuam em áreas delimitadas como uma casa de asilos. Gary Silberg, sócio da KPMG, no entanto, ressalta que esses locais são “ilhas de autonomia” — áreas relativamente estáticas que foram exaustivamente examinadas, mapeadas e testadas para treinar os algoritmos para preverem as imprevisibilidades.

Com essas dificuldades, os táxis robôs têm sido deixados de lado, e atualmente, o conceito de autonomia apenas para rodovias é o que está atraindo a atenção da indústria. A promessa da Tesla é ter veículos autônomos prontos para as estradas em 2020 e a Volvo diz que vai oferecer até 2022.

Mas, com ou sem pandemia, o mercado precisa ainda convencer o público. Mesmo com a alta de drones e robôs entregando mercadorias em meio ao isolamento social, 3 em cada 4 americanos disseram este ano que não confiam que a tecnologia de veículos autônomos esteja pronta para uso mais amplo, segundo pesquisa da Parceiros de Educação de Veículos Automatizados. 20% ainda acham que esses veículos nunca serão seguros e 48% nunca entrariam em um táxi que fosse autônomo.

Spotify e a treta da semana

Essa semana o Spotify divulgou os resultados do segundo trimestre: um prejuízo de 356 milhões de euros, um pouco pior do que o esperado pelo mercado. Apesar do número ruim, foi um período de crescimento. O total de usuários mensais da plataforma subiu 29% para 299 milhões, sendo 138 milhões de assinantes da versão premium. O faturamento total da empresa subiu para 1,89 bilhões de euros, puxado pelo crescimento das assinaturas, que mais do que compensou a queda de 21% na venda de publicidade — 131 milhões de euros. O principal fator para o prejuízo foi que a valorização de cerca de 80% das ações, este ano, gerou um súbito aumento nos encargos sociais devidos na Suécia, por conta da remuneração via opções de ações para parte de seus funcionários.

Leia: A carta para os acionistas com os resultados financeiros do Spotify.

Mas a treta da semana ficou por conta de uma entrevista que Daniel Ek, CEO do Spotify, deu para o site Music Ally, na qual falou sobre as frequentes críticas de artistas sobre o quanto recebem por suas músicas estarem no serviço.

“Existe uma falácia nesta narrativa, combinada com o fato de que, obviamente, alguns artistas que costumavam ir bem no passado não necessariamente serão bem sucedidos no futuro. Não funciona mais gravar um disco uma vez a cada 3 ou 4 anos e acreditar que isso é suficiente. Os artistas de sucesso hoje já perceberam que o jogo é de criar engajamento contínuo com seus fãs. É preciso se dar ao trabalho, é sobre a forma como se conta a história sobre o álbum, e manter um diálogo constante. Minha impressão é de que os artistas que não estão se dando bem no mundo do streaming são predominantemente aqueles que querem continuar a lançar música da mesma forma como faziam antigamente. Claro, é sobre o descontentamento que sai mais coisa publicada. É raro ver um artista falar que está contente com o dinheiro que está fazendo no streaming. Já em privado ouço isso com frequência. E, pelos dados que temos, não há dúvidas, cada vez mais artistas estão conseguindo viver apenas do que ganham no streaming.”

A grita foi imediata... David Crosby, do Crosby, Still and Nash, chamou Ek de seu merdinha avarento em um tweet. Damon Krukowski, baterista de uma banda de rock independente canadense, que fez um certo sucesso na virada dos anos 80 para 90, reclamou em um fio também no Twitter:

“O Galaxie 500 não lançou nada nos últimos 20 anos e temos mais de um milhão de streams por mês. Quanto ganhamos por esse milhão de streams a cada mês? Que bom que perguntou! Aproximadamente US$ 3.800. Dividido pelos 3 membros da banda dá US$ 1.266,67. Antes dos impostos. Mais ou menos o equivalente a US$ 7,50 por hora. O que seria preciso para ganhar no Spotify uma renda digna de US$ 15 por hora? 657.895 streams por mês. Por pessoa. (se você tem uma banda, é bom começar a multiplicar). Então, Daniel Ek, você pergunta por que nunca ouviu um artista falar publicamente que está satisfeito com o que ganham do streaming? Vamos lá, todos juntos: PORQUE NÃO É O SUFICIENTE. O Spotify precisa aumentar o quanto paga de royalties.”

Bob Lefsetz, uma das vozes mais ácidas da indústria musical, retrucou em sua newsletter fazendo algumas contas:

“Nunca subestime os velhos que controlam a velha mídia e perpetuam o mito de que o streaming é o demônio e que, se o Spotify fosse mais igualitário, eles estariam cheios de dinheiro. Semana passada o hit número um do streaming foi a música Popstar do DJ Khaled com Drake. Foi tocada mais de 25 milhões de vezes gerando US$ 172 mil dólares. 25 milhões de streams parece muito, mas a música mais tocada de todos os tempos no Spotify, Shape of You, de Ed Sherran, foi ouvida mais de 2,5 bilhões de vezes. Fazendo as contas, essa música já gerou para seu autor mais de US$ 17 milhões. UMA ÚNICA MÚSICA! É bastante dinheiro. E Ed Sheeran tem também a música número 8, com 1,5 bilhões de streams, a 12 e a 16. Vá somando! A centésima música mais tocada de todos os tempos no Spotify tem 992 milhões de streams, então quando sua música é ouvida poucos milhões de vezes e você acredita que deveria estar fazendo milhões de dólares, você está errado. Pra começo de conversa, talvez você não seja tão grande quanto pensa que é. Foram-se os dias dos Top 40, hoje são os Top 43 mil. Sim, hoje o top 10% do que é ouvido é dividido por 43 mil artistas diferentes, comparado com 30 mil um ano atrás. De novo, talvez você não seja tão grande quanto pensa que é. O jogo mudou. Como mudou quando o single foi substituído pelo álbum. Mais uma vez, porque a indústria da música deve ficar no passado enquanto todas as outras indústrias não têm essa escolha? O que faz artistas serem tão especiais que eles nunca precisem se adaptar à mudanças em seu modelo de negócios? Ignore qualquer pessoa que diga que o streaming é o inimigo. O Spotify AUMENTOU o faturamento da indústria da música. E o mais provável é que sem ele, David Crosby, sua música não estaria nem mais sendo vendida.”

E para fechar, os mais clicados da semana:

1. Lupa: E se todos os mortos por Covid?19 no Brasil fossem seus vizinhos?

2. Youtube: Panelinha – Rita Lobo ensina a fazer um delicioso e rápido bolo de caneca no micro-ondas.

3. Folha: Felipe Neto é alvo de ataques bolsonaristas nas redes.

4. quatrocincoum: A excelente revista que explora os livros lança campanha para angariar assinantes.

5. Estadão: Comissão da Câmara dos EUA pede que Bolsonaros fiquem ‘de fora’ da eleição americana

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24/04/24 • 11:00

Em seu café da manhã com jornalistas, na terça-feira desta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu que a extrema direita nasceu, no Brasil, em 2013. Ele vê nas Jornadas de Junho daquele ano a explosão do caos em que o país foi mergulhado a partir dali. Mais de dez anos passados, Lula ainda não compreendeu que não era o bolsonarismo que estava nas ruas brasileiras naquele momento. E, no entanto, seu diagnóstico não está de todo errado. Porque algo aconteceu, sim, em 2013. O que aconteceu está diretamente ligado ao caos em que o Brasil mergulhou e explica muito do desacerto político que vivemos não só em Brasília mas em toda a sociedade. Em 2013, Twitter e Facebook instalaram algoritmos para determinar o que vemos ao entrar nas duas redes sociais.

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