Edição de Sábado: A primeira crise da Nova Direita

Rede de Ódio, o filme polonês sobre o rapaz que move uma agressiva campanha de desinformação digital contra um candidato nas eleições locais, ia ser lançado pela Netflix em meados do ano passado. Mas aí, em janeiro, um ex-presidiário esquizofrênico avançou contra o prefeito de Gda?sk, Pawe? Adamowicz, e o assassinou a facadas. Vários momentos da história do filme ecoavam a tragédia. A Polônia, afinal, é um dos países cuja política interna foi tragada por uma espiral de ódio e um movimento com vocação autocrática, tocado pela extrema-direita. Os produtores então preferiram segurar. Deixaram passar o pleito presidencial deste ano. Rede de Ódio foi ao ar faz duas semanas. (Assista.)

Andrzej Duda venceu a reeleição — 51,21% contra 48,79% no segundo turno, a mais acirrada contagem de votos desde que a Polônia se tornou uma democracia, após o jugo soviético, em 1989. Em campanha, Duda afirmou que seus opositores traíam os poloneses em benefício do comando da União Europeia, que ele enxergava estar na Alemanha. Afirmou também que eram ligados ao Kremlin. E ao poder financeiro judaico internacional. O completo estereótipo: como se mexesse com todos os fantasmas poloneses do século 20. Também acusa a oposição de estar a serviço da comunidade LGBTQ, que pretende quebrar a tradicional família polonesa. Toda a receita do movimento de extrema-direita iliberal está lá, incluindo até o discurso anti-medicina.

O país está cindido em dois: rural versus urbano, velhos contra jovens. Seu Partido da Lei e Justiça (PiS) terá agora um mandato até 2023. Já controla a Corte Constitucional, mas sua maioria na Câmara é estreita e, no Senado, a oposição manda. Ainda assim, o projeto é a aprovação de reformas que possam ampliar o controle que seu partido tem sobre o país. Minar a democracia. Porque o espaço que tem nos grandes centros está desaparecendo rapidamente. O temor é de que, na próxima, não consiga mais vencer. Ainda assim, a Polônia é tradicionalmente um dos mais conservadores países europeus, uma terra onde a Igreja Católica tem muito espaço no debate público. Uma das promessas de Duda é alinhar mais a política com os preceitos religiosos.

Em geral, a Polônia também é vista, na UE, como um país menos importante. Periférico. Mas não foi o caso desta eleição. Esta foi observada com toda atenção, em busca de lições para combater a esfinge que surgiu no coração das democracias — a direita populista, autoritária, nacionalista. Segundo o cientista político Maciej Kisilowski, da Universidade Centro-Européia, a campanha em que o prefeito de Varsóvia Rafa? Trzaskowski saiu derrotado deixa pelo menos duas.

As lições de uma eleição

A primeira é que, quando é a democracia que está ameaçada, a oposição precisa se unir. No primeiro turno, a batalha entre as oposições dividiu forças, tirando de Trzaskowski a possibilidade de chegar já disparado ao segundo. Depois, as mágoas deixadas por esta disputa fizeram com que a campanha durante o segundo turno não fosse de uma frente única. Caso o prefeito tivesse um pouco mais de empuxo, teria vencido. As ideias que separam democratas de colorações distintas não o permitiram.

Mas a segunda lição é ainda mais importante. Trzaskowski promoveu uma campanha de centro, com ligeira inflexão para a esquerda. Ainda assim, procurou construir um discurso que defendia valores ligados à família. O que ele não percebeu foi o quanto a sociedade polonesa guinou para a direita nos últimos anos. Uma das convicções que os analistas trazem deste pleito é de que a oposição precisa, também, conversar com estes eleitores. É necessário reconquistar conservadores que estejam em desacordo com a campanha de ódio do governo. Se ele chegou tão próximo de Duda foi justamente pelo discurso pró-família. Mas devia ter sido mais agressivo na sedução dos eleitores de direita, na construção de um discurso que fosse capaz de acalmar medos e preconceitos que vêm sendo estimulados por extensas campanhas nas redes sociais.

Na Dinamarca, a premiê Mette Frederiksen, que é uma social-democrata, venceu a extrema-direita incorporando em campanha uma retórica contra imigração. Se não o tivesse feito, um eleitorado já mobilizado pelo populismo nacionalista não teria garantido a maioria que precisava para formar governo. Na Nova Zelândia, por sua vez, a premiê Jacinta Arden foi além. Ela também vem da centro-esquerda, daquela social-democracia que no mundo britânico dá forma aos partidos Trabalhistas. No entanto, para governar, em 2017 fez uma aliança que inclui o Partido Verde mas, também, o New Zeland First. Justamente o partido anti-imigração, nacionalista, populista. Arden comanda o governo, dando espaço à direita. Agora, após ganho de popularidade com sua política de combate à Covid-19, a premiê deve tirar do NZF o comando da política migratória. Mas o movimento ocorre após ter, em governo, conquistado maior capital político junto à população. Aqueles que vêm conseguindo conquistar o espaço dos populistas são os que conseguem entrar no eleitorado da direita.

Itália, berço da nova direita

Na onda da nova direita, um dos líderes mais importantes é o italiano Matteo Salvini, da Lega, um tradicional partido nacionalista da Lombardia. Salvini é importante porque foi na Itália que as táticas políticas baseadas em redes de desinformação e ódio surgiram. É lá que Steve Bannon, o arquiteto da eleição de Donald Trump e um dos fundadores da Cambridge Analytica, decidiu sediar seu O Movimento, espécie de coalizão de partidos populistas e nacionalistas do ocidente. E também Salvini está enfrentando dificuldades.

No ano passado, Salvini era o ministro do Interior do gabinete liderado pelo premiê Giuseppe Conte. Mas graças à popularidade da Lega, achou que conseguiria rachar o governo, enfraquece-lo, para na jogada terminar ele próprio com o cargo de primeiro-ministro. Não conseguiu. Sua Lega, porém, continua sendo o segundo maior político em número de parlamentares na Câmara, com 124 cadeiras contra 227 do Movimento Cinco Estrelas. Mas, desde o rompimento entre Salvini e Conte, o nacionalista vem se posicionando como o oposto do premiê. Em termos de popularidade, a tática vinha dando certo.

Tudo mudou com a pandemia. Milão, a cidade de Salvini, se tornou o epicentro europeu da doença, e aquela foi a região mais afetada na Itália. Se a reação do governo foi atrasada, ao compreender a gravidade da situação Conte se tornou um dos primeiros chefes de Governo a promover o isolamento social. Pelo cacoete e ditando o tom que muitos da direita populista adotariam no mundo, Salvini se pôs contra a quarentena. Na Itália, se deu mal. A política de isolamento, a temporada de cantoria nas varandas, e a união do país no entorno de heróis médicos encantou a população. Conte, um tecnocrata de pouco carisma, saltou de 50% para 61% de aprovação. A Lega, que chegou próxima de 40% em 2019, foi parar em 25%. Ainda é o partido mais popular do país. Mas seu espaço diminuiu. Não caiu mais porque, mesmo tardiamente, Salvini passou a apoiar o isolamento.

Esta semana, o Senado decidiu autorizar que Matteo Salvini seja julgado por sequestro e cárcere privado. Quando ministro, ele impediu que 131 imigrantes resgatados pela guarda costeira durante a perigosa travessia do Mediterrâneo desembarcassem na Sicília. Ao mantê-los presos no navio, teria cometido um crime. A avaliação, na Itália, é de que o julgamento causará mais desgaste ao político. Mas ele pretende transformá-lo numa ardorosa defesa de políticas antimigratórias, que estão no centro de seu discurso.

Orbán se mantém

De todos os líderes desta onda, poucos têm a extensão do poder de Viktor Orbán, o premiê húngaro. Mas até ele teve de ceder um quê. Por conta da crise do novo coronavírus, em 30 de março, a Assembleia Nacional lhe concedeu plenos poderes de governar por decreto. Em toda a Europa, a decisão foi lida como um golpe de Estado — em essência, o parlamento abria mão de suas prerrogativas e as transferia para o chefe do Executivo. Em 18 de junho, porém, os poderes foram revogados num voto unânime. A situação ficou nebulosa. A mudança mais recente feita pelos deputados cria o estado de emergência sanitária, que quando imposto pelo ministério da Saúde devolve a Orban seus plenos poderes. A oposição não gosta da invenção. Afinal, embora não possa mais governar sem passar pela Assembleia, basta o parecer de um ministro e Orbán volta aos poderes ditatoriais. Este novo estado de emergência também amplia controles sobre a imprensa.

Este é um ponto de atenção importante. No final de julho, o editor-chefe do site Index.hu foi demitido, provocando uma renúncia coletiva a seus empregos por quase setenta jornalistas na redação. Apenas um mês antes, o empresário Miklos Vaszily havia adquirido o controle da Indamedia, companhia responsável pela venda de publicidade do site. Index, a principal fonte de jornalismo independe do país não aguentou a pressão que esganaria seus recursos. Demitiu Szabolcs Dull, o editor. Sua equipe se demitiu na mesma hora.

Duda mostrou fraqueza nas eleições, Salvini atravessa seu pior momento. Orbán pode não estar no ápice, mas a posição ainda é uma de poder. Conseguiu esganar a livre imprensa na Hungria. Se perdeu as condições de governar sem parlamento, tem condições de fazê-lo se considerar que precisa. Começou a esganar financeiramente as prefeituras das grandes cidades, onde estão seus maiores adversários políticos. E, nas negociações do pacote de resgate da União Europeia, impôs que a clausula de garantias diplomáticas fosse extirpada. Ou seja, Hungria e Polônia não precisam ser democracias para receber ajuda da EU.

Os sinais europeus são de que a ascensão dos movimentos autoritários de direita está refluindo. Mas é cedo para cantar vitória. E é do outro lado do Atlântico que a onda pode virar. De acordo com a média ponderada das pesquisas feita pelo site Five Thirty Eight, o democrata Joe Biden tem 49,9% da preferência para a eleição de 3 de novembro enquanto o presidente Donald Trump tem 42,1%. O vice de Barack Obama está melhor, nos estados em que a eleição será decidida, do que Hillary Clinton esteva em seu melhor momento do pleito de 2016.

E é na corrida pelo Senado que a crise da direita se mostra mais clara. No Arizona, tradicionalmente republicano, o ex-astronauta Mark Kelly está na frente. No Colorado, o ex-governador John Hickenlooper também lidera. São, ambos, democratas e franco-favoritos. Carolina do Norte, Maine, Iowa, Georgia e Montana são outras disputas onde, embora republicanos ainda sejam favoritos, os democratas têm chances reais de levar. Hoje, a divisão está em 53 senadores republicanos e 47 democratas. Bastam quatro eleitos para que a maioria mude. Isto garantiria, no caso da eleição de Biden, que ele comece o governo com controle do Congresso. É uma condição raríssima e um recado claro para o Partido Republicano: apoiar Donald Trump impôs um preço alto.

Entre um homem de esquerda, como o senador Bernie Sanders, e um de centro, como Biden, os democratas apostaram no centro. Ainda é cedo para garantir que foi a escolha certa. Faltam 82 dias.

Salvador Dalí, seu fascínio por Hitler e a visão de Orwell sobre a moral e a obra do artista

Salvador Dalí é o rosto do surrealismo, mas sua passagem pelo movimento durou apenas dez anos, considerada a sua melhor época. Foi expulso por seu fundador, o poeta francês André Breton. A obsessão pela figura de Adolf Hitler, o flerte com a ditadura do fascista Francisco Franco e o apego ao dinheiro, que renderam a ele o apelido de Avida Dollars, forçaram sua saída. Por trás do bigode icônico, uma fonte rica de controvérsias.

Dalí se posicionava como um artista apolítico, mas seu fascínio pelo Führer é de fato indiscutível. A obra que mais chama a atenção é O Enigma de Hitler, de 1938, que mostra uma pequena fotografia do ditador num prato acompanhado de grãos de feijão. Depois veio 1958 e a Metamorfose do rosto de Hitler em uma paisagem ao luar com acompanhamento, onde o retrato do líder nazista é disfarçado em uma paisagem. E depois 1973, com Hitler Masturbandose (Hitler se masturbando, em tradução livre) que alimentou ainda mais a polêmica. O autor também chegou a dizer que "sonhava com Hitler enquanto outros homens sonhavam com mulheres".

Simpatia pelo regime opressor, uma representação de seus desejos sexuais inconscientes ou apenas marketing? “Para ele, a verdade histórica não tinha importância. A sua vida secreta é uma coleção de meias verdades escritas por ele mesmo para despistar seus biógrafos”, assegura Ian Gibson, autor da biografia The Shameful Life of Salvador Dalí. Segundo Gibson, Dalí era um revolucionário e, ao mesmo tempo, um individualista terrível. Quando a Guerra Civil espanhola teve início, o artista viajou para os Estados Unidos onde permaneceu até 1948. “É difícil saber se o pintor foi um franquista convicto. À sua maneira, admirava Franco por conseguir impor controle e ordem”, comenta o biógrafo.

George Orwell, que viajou para a Espanha para lutar com os republicanos durante a Guerra Civil Espanhola, também não gostava de Dalí. O debate sobre artistas cancelados, apesar de parecer atual, não era menos espinhoso há 76 anos, quando o escritor britânico confrontou o estranho caso de Salvador Dalí. Ao revisar a autobiografia do artista, Orwell ficou horrorizado com o seu caráter. “Um bom desenhista e um ser humano repugnante”.

As pessoas talentosas devem ser isentas de moralidade? Os artistas de caráter questionável deveriam ter seu trabalho jogado no lixo? Orwell escreveu sobre o tema no ensaio de 1944 Benefit of Clergy. Certamente ele está provocando seus leitores, exagerando para chocar. No entanto, quais das histórias são verdadeiras, aponta Orwell, e quais são imaginárias, pouco importa: o ponto é que é o tipo de coisa que ele gostaria de fazer. Orwell então pondera:

Mas contra isso deve ser contraposto o fato de que Dali é um desenhista de dons muito excepcionais. Ele também é, a julgar pela minúcia e precisão de seus desenhos, um trabalhador muito esforçado. Ele é exibicionista e carreirista, mas não é uma fraude. Ele tem cinquenta vezes mais talento do que a maioria das pessoas que denunciam sua moral e zombam de suas pinturas. 

Orwell não está disposto a descartar o valor da arte de Dali e se distancia daqueles que o fariam por motivos moralistas. “Essas pessoas”, avalia, “são incapazes de admitir que o moralmente degradante pode ser esteticamente correto”, uma posição “perigosa” adotada não apenas por conservadores e fanáticos religiosos, mas por fascistas e autoritários que queimam livros.

Ao mesmo tempo, Orwell argumenta que ignorar a amoralidade de Dalí é, na sua essência, irresponsável e imperdoável. E para ilustrar totalmente seu ponto, Orwell imagina um cenário com uma figura muito menos polêmica do que Dali:

Se Shakespeare voltasse à terra amanhã e descobrissem que sua recreação favorita era estuprar garotinhas em vagões de trem, não deveríamos permitir que ele prosseguisse sob o argumento de que ainda escreveria Rei Lear. 

TikTok e a 'Guerra Fria tecnológica'

A chamada Guerra Fria tecnológica avançou nas últimas semanas. A China começou esse jogo quando se tornou o primeiro país a se isolar da internet global. Agora é o governo dos EUA que está colocando as barricadas, começando pelo TikTok.

Para especialistas, a internet global de hoje se dividiu em três zonas: a rede da UE focada em privacidade; a rede dominada pelo governo da China; e a rede liderada pelos EUA, que é dominada por pelas big techs americanas. O destino do TikTok sugere que o modelo da China também possui fãs nos EUA.

O governo americano lançou, na quarta (5), o Rede Limpa, um plano para supostamente mitigar os riscos de segurança tecnológica. Alguns dos pilares incluem impedir que as operadoras chinesas se conectem às redes de telecomunicações dos EUA e impedir que empresas americanas armazenem IP confidencial em serviços de nuvem do Alibaba, Tencent ou Baidu. Ainda não está claro como essas regras serão aplicadas, mas o governo americano diz que pelo menos 30 países já aderiram ao plano.

A Huawei foi a primeira sofrer restrições. Mas com o TikTok a situação é diferente. O governo chinês não deve dar muito atenção à ByteDance, como fez com a Huawei. Executivos locais explicam que a gigante do 5G é muito mais importante que a controladora do TikTok para a economia doméstica. Enquanto o conteúdo dos apps da ByteDance são motivo de preocupação para os censores do governo.

Pois é… Dentro da China, a empresa é considerada muito americana. Em 2016, o precursor do TikTok, chamado Douyin, foi lançado na China pela ByteDance. Rapidamente, o fundador Zhang Yiming colocou o seu plano de internacionalização em prática. Em 2017, criou o TikTok, a versão internacional do Douyin, e tornou o app indisponível na China para fugir da censura do Partido Comunista. Ele armazenou dados dos usuários em Virgínia e Cingapura. Contratou gerentes nos EUA para administrar o aplicativo e lobistas em Washington.

Teve resultado. A penetração do TikTok no Ocidente é um feito inédito para uma rede social chinesa. Em abril, se tornou o app mais baixado da história em um trimestre, com 2 bilhões de downloads. O sucesso transformou a ByteDance no maior unicórnio do mundo, com um valor de mercado superior a US$ 100 bilhões.

Mas não escapou de polêmicas. Foi acusada de apagar vídeos e hashtags em favor dos uigures, a minoria muçulmana oprimida na China. Também apareceram inúmeros relatos de bloqueio de conteúdo relacionado aos protestos em Hong Kong. Os concorrentes começaram a explorar essas possíveis ligações com o governo chinês. Em depoimento ao Congresso americano, mês passado, Mark Zuckerberg disse: “A China está criando sua própria versão da internet, focada em ideias muito diferentes, e eles estão exportando sua visão para outros países”.

Como todas as redes sociais, o TikTok extrai dados dos usuários, como endereço IP, histórico de vídeos vistos, companhia de celular, nome da rede WiFi, o IMEI do telefone. Várias análises concluíram que sua captação de dados é excessiva para suas necessidades, mas está no mesmo nível do que outros aplicativos populares. Só que esses dados nas mãos de políticos viram ferramentas de controle.

Banido ou não nos EUA, a pressão já tem causado resultados para a China. VCs chineses tem orientado techs para mudarem seus planos internacionais com foco na África e Oriente Médio. Outras têm vendido suas operações para americanos, como o que deve acontecer com o TikTok e a Microsoft. Em março deste ano, a empresa chinesa Beijing Kunlun vendeu o aplicativo de relacionamentos gay Grindr para a americana San Vicente Acquisition Partners após pressão do governo dos EUA.

A China também tem perdido influencia para os americanos na Índia, país estratégico pelo tamanho do mercado. Nos últimos três anos, o ecossistema de startups indiano foi financiado majoritariamente por chineses, como Alibaba e Tencent. Só que com aumento na tensão nas fronteira entre os países, o governo indiano bloqueou 59 apps chineses no país, incluindo o TikTok. E os americanos começaram a avançar. Em julho, o Google prometeu US$ 10 bilhões em investimentos na Índia como parte de um “fundo de digitalização”. O Facebook, em abril, fez um investimento de US$ 5,7 bilhões na Jio, uma operadora indiana de rede móvel.

Para Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da FGV, essa pressão contra a China continuará nos próximos anos, seja com Donald Trump ou Joe Biden. A tendência é que o setor tecnológico, visto como estratégico, seja alvo de cada vez mais protecionismo.

O estado atual da guerra do stream

Com as empresas divulgando seus resultados do segundo trimestre, começa a aparecer um primeiro panorama de como está a guerra dos serviços de streaming, que foram um tanto beneficiados com a pandemia de Covid-19. A Netflix continua liderando o mercado com quase 193 milhões de assinantes no mundo. Conquistou mais 10 milhões de novos assinantes no último trimestre depois de ter conquistado quase 16 milhões nos primeiros três meses do ano.

Quem surpreendeu foi a Disney, que lançou seu serviço de streaming Disney+ no final do ano passado e que já conta com mais de 60 milhões de assinantes. Meta que a empresa esperava atingir até 2024. Somando seus outros serviços de streaming, como o ESPN+ e Hulu, a companhia já conta com mais de 100 milhões de assinantes de streaming. Mas ao que parece, o segundo trimestre não foi tão bom assim para a Disney+, pois no primeiro trimestre o serviço já tinha atingido 54 milhões de assinantes. Mas o serviço por enquanto só foi lançado em alguns mercados, como EUA, Canadá, Porto Rico, Australia e nos principais países da Europa.

Um relatório da Kantar, empresa especializada em acompanhar o mercado de mídia, já mostrava essa diminuição no crescimento da Disney+ no segundo trimestre. Quem cresceu forte no período foi o Amazon Prime Vídeo, que capturou quase um quarto do total de novos assinantes de streaming. Enquanto a Disney+ capturou pouco mais de 13% dos novos assinantes, comparado com os quase 40% que havia capturado no primeiro trimestre.

A Amazon não divulgou o total de assinantes Prime no final do trimestre. Mas no começo do ano, já possuía 150 milhões de assinantes do Prime. O que significa que a empresa deve estar encostando nos calcanhares da Netflix. A comparação não é de todo igual, pois streaming é apenas parte dos benefícios do pacote da Amazon, mas mostra a força da empresa de Jeff Bezos neste mercado.

Quem parece estar patinando é a HBO. A empresa teve um lançamento bem sucedido do HBO Max, sua nova aposta no mercado de streaming. Pelo relatório da Kantar, o serviço capturou cerca de 10% dos novos assinantes de streaming. No total, a empresa diz que conseguiu aumentar sua base de assinantes em 1,7 milhões, somando o serviço tradicional da HBO com o HBO Max. O problema é que o serviço de cabo da empresa perdeu 2 milhões de assinantes no período. Ou seja, a empresa precisa conquistar novos assinantes no streaming de forma ainda mais acelerada do que seus concorrentes. A empresa enfrenta ainda um certo problema de confusão de marcas, pois possui dois outros serviços, o HBO Go e o HBO Max que acabam confundindo os assinantes.

Enquanto isso... A NBC anunciou que seu serviço Peacock, que possui uma versão paga e outra gratuita, baseada em publicidade, e que foi lançado em meados de julho, já possui 10 milhões de usuários. Mas o lançamento do serviço acabou sofrendo um forte baque com o adiamento da Olimpíada, cuja transmissão para os EUA seria seu carro chefe.

Por aqui o Globoplay não anunciou seu total de usuários, mas Erick Bretas, diretor de produtos e serviços digitais da emissora, anunciou que durante a quarentena o serviço mais que dobrou o número de assinantes que tinha no ano passado.

E por falar em Brasil... Parece que a Disney+ deve chegar aqui em novembro. Essa semana usuários de países onde o serviço já está disponível, conseguiram inclusive ver no app o preço de R$ 28,99, sim em reais.

E os links que nossos leitores mais clicaram nessa semana:

1. Estudar Fora: CS50 – O curso de introdução à Ciência de Computação de Harvard. Agora em Português e de graça.

2. G1: Vídeos da explosão em Beirute, Líbano.

3. Panelinha: Receitas práticas para cozinhar a quatro mãos e resolver o jantar do dia a dia.

4. Piauí: A geografia macabra da Covid-19.

5. Amazon: O skill para fazer sua Alexa ler a edição do dia do Meio.

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A rede social perfeita para democracias

24/04/24 • 11:00

Em seu café da manhã com jornalistas, na terça-feira desta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu que a extrema direita nasceu, no Brasil, em 2013. Ele vê nas Jornadas de Junho daquele ano a explosão do caos em que o país foi mergulhado a partir dali. Mais de dez anos passados, Lula ainda não compreendeu que não era o bolsonarismo que estava nas ruas brasileiras naquele momento. E, no entanto, seu diagnóstico não está de todo errado. Porque algo aconteceu, sim, em 2013. O que aconteceu está diretamente ligado ao caos em que o Brasil mergulhou e explica muito do desacerto político que vivemos não só em Brasília mas em toda a sociedade. Em 2013, Twitter e Facebook instalaram algoritmos para determinar o que vemos ao entrar nas duas redes sociais.

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