27 de Abril de 2024 | PREMIUM

Edição de Sábado: O jogo duplo de Pacheco

Rodrigo Pacheco não colocou os pés no Congresso Nacional na última quarta-feira. Um fato atípico, considerando que a esse é, costumeiramente, o dia mais agitado da semana no plenário. O mineiro do PSD, presidente do Senado, preferiu ficar na residência oficial, onde as chances de vazamento de suas conversas eram bem mais remotas. O único compromisso no plenário seria a sessão conjunta do Congresso, que ele também preside, marcada para 19h, com o objetivo de apreciar vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do governo anterior a projetos aprovados pelos parlamentares. Para o governo, porém, aquele era um dia crucial para dar uma virada nos humores com o Legislativo, que andavam especialmente azedos nas últimas semanas. O Planalto queria de Pacheco o adiamento da sessão. Para falar sobre o assunto, Pacheco transferiu a reunião que teria em seu gabinete para a residência oficial. Desavisado, o titular da Secretaria ... (Leia mais)

24 de Abril de 2024 | PREMIUM

A rede social perfeita para democracias

Em seu café da manhã com jornalistas, na terça-feira desta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu que a extrema direita nasceu, no Brasil, em 2013. Ele vê nas Jornadas de Junho daquele ano a explosão do caos em que o país foi mergulhado a partir dali. Mais de dez anos passados, Lula ainda não compreendeu que não era o bolsonarismo que estava nas ruas brasileiras naquele momento. E, no entanto, seu diagnóstico não está de todo errado. Porque algo aconteceu, sim, em 2013. O que aconteceu está diretamente ligado ao caos em que o Brasil mergulhou e explica muito do desacerto político que vivemos não só em Brasília mas em toda a sociedade. Em 2013, Twitter e Facebook instalaram algoritmos para determinar o que vemos ao entrar nas duas redes sociais. Talvez o principal problema que tenhamos hoje, no debate público sobre regulação das plataformas digitais, é ... (Leia mais)

20 de Abril de 2024 | PREMIUM

Edição de Sábado: A política da vingança

Os versos de Chico Buarque vieram à mente do conselheiro Luiz Fernando Bandeira de Mello Filho na terça-feira de julgamento no Conselho Nacional de Justiça, o CNJ: “Roda mundo, roda-gigante. Rodamoinho, roda pião. O tempo rodou num instante”. A imagem de uma imensa roda empurrada ladeira acima, que muda de direção e passa por cima de quem a empurrava, dava ao conselheiro uma perspectiva menos comezinha e mais poética sobre o que ocorria no plenário. Na visão de muitos dos presentes, o relatório apresentado pelo corregedor Luís Felipe Salomão contra magistrados da Operação Lava Jato tinha ares de vingança. O texto destrinchava mandos e desmandos da força-tarefa. “Mais do que a imagem da vingança, eu prefiro ver esse processo político como uma roda-viva”, disse o conselheiro ao Meio, após o julgamento. Na véspera, Salomão havia afastado das funções quatro magistrados (dois juízes e dois desembargadores), em decisão monocrática, o que ... (Leia mais)

17 de Abril de 2024 | PREMIUM

‘Mapa de apoios está desfavorável ao Irã e sua visão de futuro’, diz Abbas Milani

O professor Abbas Milani nasceu no Irã. Foi preso pelo regime do xá Reza Pahlavi. Depois, perseguido pelo regime islâmico do aiatolá Khomeini. Buscou abrigo nos Estados Unidos na década de 1980, de onde nunca deixou de lutar por uma democracia em seu país de origem. Chegou a prestar consultoria a George W. Bush e Barack Obama, numa louvável disposição de colaboração bipartidária. Seu conselho sempre foi o mesmo: o Irã deve se reencontrar com um regime democrático, secular, por sua própria conta. Sem interferências externas. No momento em que o país lançou um inédito ataque a Israel, ainda que “ineficaz” se a intenção fosse mostrar precisão e potencial de causar mortes, Milani, cientista político e professor em Stanford, lamenta, porque sabe que uma guerra não é algo que seus compatriotas desejem. Ele insiste que é preciso separar o povo iraniano do regime que governa o país, que, pelos seus ... (Leia mais)

13 de Abril de 2024 | PREMIUM

Edição de Sábado: A ideologia de Elon Musk

Elon Musk não comunga da mesma ideologia que Jair Bolsonaro. Isto não quer dizer que sejam incompatíveis ideologicamente. Não são. O que os une é o reacionarismo. É só que “reacionarismo” não é propriamente uma ideologia, um modo de compreender o mundo. É mais um estilo de pensar política que comporta muitas ideologias distintas. Assim, quando Musk se insurge contra o identitarismo, quando grita por liberdade de expressão, até quando ataca Alexandre de Moraes, ele pode se parecer com um bolsonarista, mas o que os leva às mesmas conclusões são caminhos distintos. Talvez a melhor maneira de se compreender o tipo particular de reacionarismo que mobiliza Elon Musk não é começando por ele. É partindo de um ensaio publicado há 15 anos por Peter Thiel. “Não acredito mais”, ele afirmou, “que liberdade e democracia sigam sendo compatíveis.” Thiel, que menino se criou no Vale do Silício e se fez advogado ... (Leia mais)

10 de Abril de 2024 | PREMIUM

Um duelo no nosso crepúsculo político

O confronto público entre Elon Musk, o todo-poderoso dono de uma das mais importantes plataformas digitais, e Alexandre de Moraes, autor das sentenças mais temíveis do faroeste político brasileiro, é ainda uma obra aberta enquanto escrevo estas mal traçadas linhas. Quando você, querido leitor, abrir esta missiva novos atos podem já se ter desenrolado. Então, para que você não perca o fio dessa deliciosa meada, saiba que o último ato presenciado por este escriba foram algumas publicações de Musk sobre o ministro do STF, bem ao estilo Trump-Bolsonaro. Numa delas, diz: “Mas, uma vez que Alexandre [notou a intimidade no uso do primeiro nome?] tirou Lula da prisão e pôs o seu dedo na balança para elegê-lo, Lula obviamente não irá tomar uma atitude contra ele”. E teve mais: “Como Alexandre de Moraes se tornou o ditador do Brasil? Ele tem Lula na coleira”. Já foi contado aqui no Meio ... (Leia mais)

6 de Abril de 2024 | PREMIUM

Edição de Sábado: Eu, tu, eles

Nada mais brasileiro que a suruba. Afinal, o termo vem do tupi e, dependendo do etimologista, significava originariamente “forte, bom” ou “tronco desgastado pelo uso”. Entrou no português como gíria equivalente ao “porreta” ou “ponta-firme”. Jânio Quadros, por exemplo, foi um candidato suruba. Quando e por que suruba virou sinônimo de sexo grupal é um mistério. Vuco-vuco coletivo não é um esporte eminentemente nacional nem foi inventado pelos nossos indígenas. Há relatos homéricos mostrando que gregos e sumérios aprovavam e incentivavam a prática e não faltam antropólogos defendendo que a monogamia é uma moda recente — talvez passageira — na história da humanidade. Nos tempos do homo sapiens caçador-coletor a coisa era diferente, dizem. Se a libertinagem existe há tanto tempo, qual a novidade das tais “festas liberais”? O termo, olha só, também é coisa nossa. Se você procurar por “festa liberal” em inglês no Google, a coisa mais sexy ... (Leia mais)

3 de Abril de 2024 | PREMIUM

O fantasma do poder moderador

A construção do Estado nos países europeus se deu em torno da figura o rei, que concentrava em sua pessoa a soberania monárquica. Nas repúblicas americanas, aquela tarefa foi mais difícil porque a lógica autoritária, que impunha concentrar o poder em torno do presidente na capital do país, era desmentida por constituições liberais que preconizavam sua dispersão em benefício do legislativo, do judiciário e das províncias. Agravava a tarefa sua insuficiente legitimidade em um mundo como o da América ibérica do século 19, no qual já não podia haver a legitimação tradicional do monarca absoluto, mas ainda não se desenvolvera a legitimidade puramente racional-legal do presidente. Dessa tensão decorreu a constante instabilidade política e constitucional do século 19 nas repúblicas vizinhas. O Brasil discrepou nesse contexto por ter construído seu Estado sob o regime de uma monarquia constitucional que, reconhecendo a soberania da nação, manteve como seu primeiro representante o ... (Leia mais)

30 de Março de 2024 | PREMIUM

Edição de Sábado: Condenados a repetir

Em 1994, Carlos Fico era um aspirante a doutor em busca de uma tese. Atento ao fortalecimento ou nascimento de movimentos sociais, como o negro, o feminista, e o LGBTQIA+, o historiador começou a montar, com dificuldade, uma proposta para os contrapor a outra força social, o movimento operário. Seu orientador, o decano Carlos Guilherme Mota, não se comoveu com o projeto. Naquele mesmo ano, o historiador britânico Eric Hobsbawm lançava A Era dos Extremos. Fico ouviu uma entrevista — ou foi a uma conferência, não se lembra bem — com o lendário intelectual em que ele falava de otimismo e pessimismo e, mais precisamente, de seu espanto ao ver como os brasileiros estavam pessimistas depois da “década perdida”. Foi o estalo. Fico se lembrou das propagandas ufanistas da ditadura militar, da promessa do país do futuro. Sugeriu a Mota uma tese sobre se aquela propaganda era ideologia ou imaginário ... (Leia mais)

27 de Março de 2024 | PREMIUM

O que querem os evangélicos

A cada nova sondagem de popularidade do governo Lula, conforme sua aprovação cai, a pressão por uma comunicação mais efetiva aumenta. Um segmento em particular vem consistentemente reduzindo sua nota para o petista: o evangélico. E, novamente, cobra-se o presidente e seus articuladores para que a conversa com esse campo seja mais fluida e permanente. Acontece que há alguns erros nas premissas dessa cobrança. O primeiro é acreditar que quando se fala com um líder evangélico, se fala com todos os fiéis. Nada poderia ser mais distante da realidade. “É inerente ao campo evangélico a fragmentação, a subdivisão”, explica Carô Evangelista, cientista política e diretora executiva do Instituto de Estudos da Religião, o Iser. Uma parcela expressiva dos evangélicos se declara “sem denominação”, justamente porque trafega entre uma igreja e outra, sem vínculo formal. Em seguida, no Censo de 2010, vem a categoria “outros”, que engloba milhares de denominações independentes. ... (Leia mais)

23 de Março de 2024 | PREMIUM

Edição de Sábado: Nísia na mira

Entre tantas emergências, o assunto era o mais crítico para a pasta na última quarta-feira: a epidemia de dengue. O país estava prestes a ultrapassar 2 milhões de casos prováveis da doença em 2024. Desde o início da série histórica, em 2000, a marca representa um recorde de contágios em apenas três meses, segundo o Painel de Monitoramento de Arboviroses do Ministério da Saúde. Com sua equipe de cientistas, a ministra Nísia Trindade desembarcou do elevador no primeiro andar do prédio do Ministério da Saúde para a entrevista com quase uma hora de atraso. “Estavam finalizando os dados”, justificou um dos assessores que a aguardavam. Ela se encaminhava para a mesa e conversava, sorridente, com a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel, e com o pesquisador da Fiocruz Rivaldo Venâncio, autoridade em matéria de dengue. Todos os auxiliares vestiam colete do SUS, o ... (Leia mais)

20 de Março de 2024 | PREMIUM

O civilista

Quando Ruy Barbosa chegou à Câmara Municipal de Salvador, no princípio da tarde de 19 de janeiro, em 1910, estava mexido. Carregava uma tristeza em si. Ainda assim é possível imaginá-lo sorrindo quando viu a Praça Tomé de Souza, onde só décadas depois seria erguido o Elevador Lacerda, lotada de pessoas. Uma multidão que gritava seu nome. Ele era um homem baixo — menos de 1m60 —, muito magro — mal chegava aos 60kg —, sua coluna meio curvada à frente. O que o marcava, fazia dele alguém que os brasileiros reconheciam de longe e com o qual caricaturistas diversos se divertiram muito, era o bigode espesso, já muito branco àquela altura, ondulado, que quase ultrapassava o rosto. Mas era um pop star como nenhum político havia sido até ali no Brasil. Imensamente popular. Quando falava, as praças enchiam, os auditórios, os coretos, não importa onde. Aquele discurso que faria ... (Leia mais)

16 de Março de 2024 | PREMIUM

Edição de Sábado: A mão forte de Lula

No aniversário de 132 anos do Porto de Santos, ao discursar ao lado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, bolsonarista cada vez mais convicto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se dedicou especialmente a mostrar que faz política de um jeito bem diferente de seu antecessor. Queria reforçar a Tarcísio e a quem de direito que, acima de qualquer coisa, está sua convicção de que o Estado brasileiro deve estar sempre pronto a investir em qualquer ente da federação. E que, quanto mais investimento, melhor. Lula e Tarcísio participavam do lançamento da obra do túnel Santos-Guarujá. O presidente aproveitou para anunciar que o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES, acabara de aprovar R$ 1,350 bilhão para a construção do eixo Norte do Rodoanel. “Logo, logo, você vai receber a notícia do Aloizio Mercadante.” Ainda se gabou de ser “um presidente de sorte” e de ... (Leia mais)

13 de Março de 2024 | PREMIUM

É tudo culpa da Secom e de Paulo Pimenta?

Lulistas, petistas e assemelhados, graúdos e miúdos, com maior ou menor nível de angústia, aparentemente descobriram que a comunicação do governo está ruim. Ou já haviam constatado o fato, mas, agora que apareceu uma pesquisa dizendo que a avaliação do governo Lula declinou, reconheceram a urgência de dizer que a comunicação política do governo tem parte importante nisso. Se a piora não se deu nos fatos, mas na percepção pública, e quem move a opinião dos cidadãos é a comunicação, no final da cadeia de conclusões é ela quem leva a culpa pelo desastre. E como quem toca a comunicação do governo federal são, afinal, a Secom e o ministro Paulo Pimenta, quem mais precisa ser responsabilizado por isso? Houve, claro, lulistas influentes a dizer que não era bem assim e a oferecer interpretações alternativas dos fatos. O ator José de Abreu, por exemplo, partilha da ideia de que Lula ... (Leia mais)

9 de Março de 2024 | PREMIUM

Edição de Sábado: O negócio da cannabis

As frases pausadas do ministro André Mendonça pareciam ter a intenção de alertar que algo muito grave estava prestes a acontecer. No julgamento sobre a quantidade de maconha que uma pessoa pode portar sem configurar crime, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) se esmerou em passar uma receita baseada no fundamento de que um grama de maconha dá para fazer “3.4 cigarros”. E seguiu na progressão geométrica: “10 gramas, 34”, disse Mendonça, até concluir que, em um mês, seria possível obter 6.200 cigarros com uma só planta de Cannabis sativa. Mendonça fez questão de citar a suposta produção mensal olhando bem nos olhos de seus pares. Depois de um longo silêncio dramático, proferiu: “Por tudo isso, eu entendo, em síntese, que a questão da descriminalização (...) é uma tarefa do Legislativo”. O finíssimo calibre do “baseado” citado pelo ministro causou reações — e, claro, gerou memes. Mendonça foi além, ... (Leia mais)

6 de Março de 2024 | PREMIUM

Os 60 anos do golpe: militarismo acossado e civilismo em alta

Mais um aniversário do golpe de 1964 se aproxima e, com ele, as polêmicas relativas à significação histórica daquele acontecimento, dividindo a opinião pública. Instado a se manifestar, o presidente Lula afirmou que não gostava de remoer o passado e que era preciso governar olhando para o futuro. Embora previsível para quem conhece sua personalidade pragmática e conciliadora, parte significativa da esquerda recriminou a declaração por não aproveitar uma oportunidade histórica de condenar o militarismo renitente depois da tentativa de golpe de Estado de Bolsonaro. Disseram até que “quem não remói o passado acaba remoído por ele”. O assunto é de grande complexidade e sobre ele é preciso fazer algumas considerações. Há dois tipos de história. Uma é a história científica, acadêmica, aparentemente descomprometida com as lutas do presente, destinada a reconstituir o passado pela recolha de seus vestígios ou monumentos. Este é um tipo de história relativamente recente, que ... (Leia mais)

2 de Março de 2024 | PREMIUM

Edição de Sábado: A fritura de Lira

No café anexo ao plenário da Câmara dos Deputados, um dos parlamentares mais próximos de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Casa, cochicha para um colega do Centrão: “Produção legislativa totalmente irresponsável!”. E ouve de volta: “Totalmente!”. Indignados, os dois deputados combinam de conversar mais tarde e o aliado do alagoano sai apressado. É claro que unanimidade não existe em lugar algum. Mas a condenação partia de um dos nomes mais identificados com Lira, de um deputado conhecido como amigo, homem de confiança, que já se prestou a exercer funções legislativas sob a sombra do poderoso presidente da Câmara. Após risadas nervosas de ambas as partes, o interlocutor percebeu o flagrante e pediu sigilo. “Você viu? Não coloca isso não, mas se ele está reclamando, imagina o resto dos deputados.” A cena dá pistas de uma insatisfação crescente. Um contraste forte com o movimento de um ano atrás, quando Lira recebeu ... (Leia mais)

28 de Fevereiro de 2024 | PREMIUM

Palavras, palavras, palavras

Segundo o levantamento feito pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital da USP, durante o ato do ex-presidente Jair Bolsonaro, 94% dos presentes consideram que o Brasil vive uma ditadura. A ideia é absurda, evidentemente. Mas para os bolsonaristas que foram à Avenida Paulista no último domingo, é um fato incontestável. Estive com uma dessas pessoas na segunda-feira, no aeroporto de Congonhas. Ela se queixou de alguma posição que havia me visto tomar nas redes. Mulher, classe média, na casa dos 40, talvez 50. Não trocamos muitas palavras. Minha primeira reação foi explicar o que era uma ditadura. Só que ela sabia — sua dificuldade era com outras palavras. “E temos liberdade, por acaso? E as eleições valem de alguma coisa?” Palavras estão no centro de nossos dilemas políticos. Ditadura e democracia. Golpe. Liberdade. Liberalismo. Genocídio. Fascismo. Comunismo. Todas são palavras cujos significados foram e são disputados na conversa ... (Leia mais)

24 de Fevereiro de 2024 | PREMIUM

Edição de Sábado: O ruído que Lula cria

Se um observador de todo isento, sem lado no debate ideológico brasileiro, desembarcasse no último domingo em Adis Adeba, na Etiópia, para ouvir o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sairia espantado. Por um lado, Lula demonstrou extrema cautela em fazer qualquer especulação a respeito da morte de Alexei Navalny, o principal líder da oposição russa. Com 47 anos, em boa forma e saúde quando foi preso em 2021, Navalny morreu no sábado em sua cela. “Para que a pressa em acusar?”, disparou contra os jornalistas que lhe faziam perguntas. Não houve a mesma cautela para tratar de Israel. Pelo contrário — o presidente foi tão hiperbólico quanto é possível num debate político. Foi direto na ofensa máxima que pode se fazer contra um Estado nacional. “O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico”, afirmou. E aí completou. “Aliás, ... (Leia mais)

21 de Fevereiro de 2024 | PREMIUM

A cor dessa cidade

Há dois momentos cruciais em que os moradores das grandes cidades olham para elas realmente com olhos de enxergar: no Carnaval e nas eleições municipais. No primeiro, aquela ocupação festiva de espaços normalmente hostis aos cidadãos projeta a sensação de que é possível ser feliz ali, apesar de tudo. No segundo, a frustração com o que gestores públicos são capazes de entregar para melhorar a experiência de quem vive nesses conglomerados urbanos faz sonhar com uma existência bucólica mais tranquila, que sequer existe mais. Para pular do desencanto à retomada das cidades, é preciso mudar o jeito de entendê-las. Elas são processos, não projetos. É assim que o arquiteto e urbanista Washington Fajardo as compreende. “Essa ideia de que a cidade é um projeto com início, meio e fim é a base do pensamento urbano modernista. A noção de que a cidade fica pronta. A cidade é um processo constante ... (Leia mais)